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A série de artigos “Anônimos do Rugby”, de Eduardo Cordeiro, que traz semanalmente ao público clubes de todo o Brasil que estão fora dos holofotes, abriu espaço para novas discussões sobre dar espaço para novas equipes. Marlon Altavini de Abreu e Sérgio Luís Gibim, de Presidente Prudente, escreveram um artigo sobre a importância da presença do rugby nos Jogos Regionais. Como o Portal do Rugby compartilha dessas ideias, publicamos o texto opinativo em nossa coluna “Blog da Redação”. Segue abaixo o texto na íntegra.

 

O rugby experimenta em sua crescente difusão no Estado de São Paulo uma possibilidade impar em sua história, capaz de, no período presente, reduzir o abismo existente entre as equipes de todo o estado. Constitui-se de maneira inédita a possibilidade de integrar num mesmo torneio um número significativo e heterogêneo de equipes e realidades.

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Jogos Regionais

Os Jogos Regionais do Interior são a materialização deste cenário, que emerge como potencia para o futuro e no período presente convida aos mais atentos a refletir acerca do papel do rugby, enquanto modalidade e não apenas circunscrito ao formato de equipe, em uma relação com a comunidade e a cidade como um todo.

Entretanto, enxergar as possibilidades para o futuro exige atenção e cuidado para com a realidade atual e é justamente a esta que nos reportamos neste breve artigo. O enfoque de nossa argumentação vai de encontro às pequenas equipes espalhadas no interior do estado, aos anônimos do rugby, a elas que intencionamos chamar atenção e estimular o dialogo em torno desta temática.

Acreditamos estar nos jogos Regionais uma das possibilidades mais nítidas para a superação parcial das limitações impostas pela geografia desigual e seletiva de ações de promoção do esporte orientada pelas entidades responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção do rugby no Estado de São Paulo.

Não são recentes as dificuldades impostas às pequenas equipes de rugby para que tenham condição de organizar-se. Estas dificuldades atendem por ordens diversas, oscilando desde as mais pontuais, como falta de conhecimento técnico e ausência de equipamentos apropriados para treino, até os mais gerais, como a inexistência de jogos regulares ou campeonatos acessíveis às equipes.

Quando solicitamos a atenção do leitor às possibilidades que se abrem com a inclusão da modalidade rugby aos Jogos Regionais, ainda que, como modalidade de apresentação, intencionamos construir uma forma auxiliar de combater estas limitações e, paralelamente, pensar a realidade do rugby para as pequenas equipes do estado. Isto por que, os jogos não se fazem por equipes sem um vínculo mínimo com as prefeituras. E deste vínculo, ou seja, do compromisso entre poder público municipal e equipes que acreditamos possível construir um novo modelo de organização deste esporte.

O modelo comum, assumido como padrão geral de constituição dos times, como grupos autônomos, centralizados nas mãos de poucas pessoas e com as prioridades de ação presas às próprias demandas individuais, deve ser revisto e superado, já que este modelo parte da negação do caráter coletivo e comunitário, promovendo o distanciamento das entidades municipais de fomento ao esporte. Defendemos com isso a aproximação das equipes de rugby ao contexto geral da cidade, por meio de escolinhas, formação de equipes de bairros, realização de oficinas etc.

Vemos os Jogos Regionais do Interior como uma ponte para a aproximação e fomento do esporte no município, um meio para aproximar e chamar atenção do poder público para a modalidade. Ademias, no plano regional a realização dos jogos é capaz de ampliar os mecanismos de comunicação e intercâmbio de informação para treinos e para realização de torneios.

Partindo de um exemplo concreto, tomamos por referência a constituição da Liga do Oeste Paulista de Rugby – LOPAR – que tem sua origem em estreita conexão aos jogos regionais. Foi através da realização dos jogos na cidade de Presidente Prudente que as equipes de Presidente Prudente, Marília, Garça e Junqueirópolis estabeleceram o primeiro calendário do tornei e firmaram as primeiras normativas.

Ainda no ano de 2011, a equipe de Presidente Prudente garantiu vaga nos Jogos Abertos do Interior, após conquistar o 1º Lugar nos Jogos Regionais, onde tiveram a oportunidade de disputar o campeonato com as principais equipes do interior paulista.

Neste ano, de maneira semelhante ao ano anterior, a 7° região esportiva realizará novamente os jogos, desta vez na cidade de Dracena e contará com a participação de seis equipes, representando os municípios de Presidente Prudente, Marília, Garça, Junqueirópolis, Adamantina e Ourinhos. Todas dispondo de benefícios que são direito dos atletas inscritos nos jogos, como alojamento, transporte e alimentação gratuita.

Destas considerações esperamos chamar atenção para o alarmante espaço vazio deixado pelas equipes de rugby do interior do estado de São Paulo, com a negação destes jogos. E procuramos estimular um dialogo em conjunto às demais equipes para que possamos ampliar e consolidar o rugby como esporte no interior dos diferentes municípios e garantir sua presença no calendário oficial dos jogos regionais, tornando-o parte do circuito oficial do Estado.

 

Marlon Altavini de Abreu é pós graduando do curso de mestrado em geografia da FCT-UNESP e auxiliar técnico da equipe Cowboys Rugby.

Sérgio Luís Gibim é graduando do curso de Educação Física da FCT-UNESP, é técnico da equipe Cowboys Rugby e coordenador do projeto social Rugby em Nós.