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Nesta semana vivemos o encerramento de mais uma edição do Lions Tour,  a viagem dos British and Irish Lions a um dos grandes países do Hemisfério Sul, que é organizada de 4 em 4 anos. Pelo calendário tradicional, em 2021 os Lions visitarão a África do Sul, ao passo que em 2025 a visita será à Austrália. Assim, apenas em 2029 eles retornariam à Nova Zelândia.

O futuro dos Lions vem sendo tema de debate, pois, antes da série de 2017, muitos críticos questionavam a solidez de uma equipe que joga junta apenas uma vez a cada quatro anos. A crítica certamente tem fundamento, pois as exigências do alto rendimento do rugby fazem com que seja muito complicado uma equipe atingir seu máximo potencial se não tiver um conjunto muito forte, por melhores que sejam os talentos individuais e a qualidade física dos atletas.

Tal situação é evidente ao compararmos seleções nacionais e clubes hoje. O melhor exemplo talvez esteja na França, que não consegue dar conjunto a um emaranhado de grandes jogadores, que jogam em muitos clubes distintos do milionário Top 14 e sob modelos de jogo diferentes. As seleções nacionais, no entanto, têm a seu favor o fato de se juntarem ao menos 3 vezes ao ano, o que é algo fora de cogitação para os British and Irish Lions. Ainda assim, há hoje quem diga – e com muita razão – que os clubes de ponta de Premiership e Top 14 e as franquias de ponta de Super Rugby ou PRO12 são capazes de derrotarem boa parte das grandes seleções do mundo. Duelos esses que dificilmente serão realizados para que a tese seja provada, mas que durante o Lions Tour ganhou um ar de verdade quando os dois times menos fortes (e não “piores”) da Nova Zelândia, Blues e Highlanders, venceram os Lions (que depois acabaram por vencer os demais times em um momento já de privação de vários atletas principais das equipes de ponta do Super Rugby em prol dos All Blacks).

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Entretanto, o Lions Tour de 2017 sugeriu também que sim, felizmente para as tradições do rugby, ainda vale a pena formar os Lions. Por mais contestável que tenha sido o empate final contra os All Blacks e mesmo que a vitória dos Lions no jogo 2 tenha sido facilitada pela expulsão de Sonny Bill Williams, o fato é que o Lions foram evoluindo sensivelmente jogo após jogo e estavam diante da melhor seleção do mundo. Se o oponente tivesse sido a África do Sul ou a Austrália, a sorte do tour provavelmente teria sido a favor dos britânicos. Por isso, para os que acham que não há mais espaço no calendário mundial para os Lions, a prova de que há sim foi dada neste ano.

Porém, o futuro dos Lions ainda não está 100% tranquilo. A partir de 2021, por pressão dos clubes ingleses, o tour terá uma semana a menos, isto é, ao invés de 10 partidas entre 6 finais de semana, serão jogados somente 8 jogos, ao longo do período de 5 finais de semana. Vale lembrar que os Lions jogam também nos meios de semana, levando elencos de mais de 40 atletas às giras. Será que essa semana a menos fará falta aos Lions? Provavelmente, haja visto que de fato o time britânico somente se acertou de vez nas duas últimas partidas contra os All Blacks. A solução para essa valiosa semana a menos de treinamentos conjuntos terá que ser encontrada nos próximos quatro anos.

Por fim, outra questão importante é a abertura do Lions Tour para mais países, crucial para o próprio futuro comercial do evento. O novo destino óbvio para os Lions seria a Argentina, que infelizmente, parece já fadada a ser excluída como sede de um tour. As especulações dão conta de que os Pumas poderiam participar das próximas giras dos Lions apenas um jogos preliminares, antes do “prato principal” que seriam Springboks, Wallabies ou All Blacks.

O argumento principal para isso seria o fato da Argentina não contar com clubes/franquias profissionais em abundância para os jogos preliminares. Aqui mora o erro. Isso seria verdade caso o tour se mantivesse com 10 partidas, mas no formato de 8 jogos a viagem à Argentina poderia ser precedida por uma viagem à América do Norte e mesmo ao Brasil (afinal, estamos falando de mais de uma década e meia adiante). É verdade que o nível do tour a princípio cairia se comparado com o nível do desafio imposto pelos times neozelandeses, mas o rugby das Américas tende a melhor continuamente nesse prazo de 16 anos. Uma proposta para um tour das Américas, para 2033, poderia ser:

Final de semana 1: Barbarians x Lions, nos Estados Unidos

Meio de semana 1: Canadá x Lions, no Canadá

Final de semana 2: Estados Unidos x Lions, nos Estados Unidos

Meio de semana 2: América do Sul XV x Lions, no Brasil

Final de semana 3: Argentina x Lions, jogo 1, na Argentina

Meio de semana 3: Argentina XV x Lions, na Argentina

Final de semana 4: Argentina x Lions, jogo 2, na Argentina

Final de semana 5: Argentina x Lions, jogo 3, na Argentina

 

Por que não?