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O Super Rugby está sendo debatido em todas as partes. Uma expansão da competição vem sendo estudada para acontecer entre 2018 e 2020 e um novo modelo vem sendo apontado como necessário, pois o atual está longe de ser satisfatório. Estádios com públicos decepcionantes, êxodo de atletas para a Europa, desnível entre as equipes, desgastes com viagens, deslocamentos altamente onerosos, horários de TV ruins, situação financeira em deterioração e necessidade de novos mercados mais lucrativos estão entre as preocupação da liga.

 

Diante das discussões sobre o futuro próxima da liga, já pensando sobre possíveis modificações (e expansões) entre 2018 e 2020, bolamos um modelo novo, para estimular o debate e para nos permitir sonhar um pouco. Afinal, por mais que o rugby brasileiro tenha muitas outras prioridade e urgências estruturais a serem trabalhadas e pensadas antes, é óbvio que todos nós gostaríamos de ver o Super Rugby passar por aqui, não?

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Hoje, uma equipe brasileira, majoritariamente de atletas brasileiros, é inviável. Não temos condições de competir nem agora nem nos próximos anos com os melhores do mundo, portanto, a única forma realista de termos um time jogando no Brasil é que ele seja um combinado sul-americano, com atletas de todos os países da região – e, provavelmente, 80% ou mais deles seriam argentinos. Chamemos, por ora, de “América do Sul XV”, mas é claro que teria um nome comercial mais bonito.

 

Tal equipe, na verdade, é até necessária para o Super Rugby. Primeiramente porque a Argentina hoje não tem recursos financeiros para bancar uma segunda franquia em uma cidade do interior do país. Os custos seriam elevadíssimos – sobretudo de deslocamento, pois não há voos de Buenos Aires para a África do Sul, sendo que os Jaguares sempre passam pelo aeroporto de São Paulo para cruzarem o Atlântico e uma equipe em outra cidade argentina acarretaria mais uma conexão, que transformaria a viagem em uma saga. E segundo que as audiências registradas na Rede TV superam amplamente as audiências registradas na Argentina para os jogos dos Jaguares. Com um estádio como o Pacaembu disponível e públicos recentes bem expressivos para os jogos dos Tupis (ainda mais sabendo que hoje há equipe do Super Rugby com médias na casa dos meros 10 mil espectadores) não parece loucura pensar que haja espaço para um projeto como esse. Entretanto, é crucial que fique claro que tal equipe precisaria ser de caráter privado, e não um time diretamente ligado à CBRu, pois os recursos da confederação têm usos mais urgentes. Nesse sentido, poderia haver interesse privado por uma equipe dessas por aqui? Não sabemos, é apenas uma proposição para solucionar um problema: é preciso uma segunda equipe sul-americana.

 

A outra equipe que poderia ser adicionada em um curto espaço de tempo já foi uma candidata a franquia do Super Rugby. É o Asia-Pacific Dragons, combinado internacional com sede em Singapura, que concorreu em 2014 contra os Sunwolves para ingressar no Super Rugby, mas acabou preterido. A ideia dos Dragons é ser uma equipe que congregue atletas das ilhas do Pacífico (Fiji, Samoa e Tonga) com atletas asiáticos. A ideia é interessante e Singapura é um mercado com grande potencial, ainda que dificilmente vá conseguir fornecer algum atleta local para o time. Para criar laços com as Ilhas do Pacífico seria crucial que os Dragons jogassem ao menos 1 jogo de sua temporada regular em Fiji e 1 em Samoa.

 

Essas duas equipes ajudariam muito em uma redivisão espacial do Super Rugby. Os custos e o desgaste aos atletas gerados pelas longas viagens e os horários inconvenientes de TV produzidos pela ampla variação de fuso horário fazem mais do que necessário que se repense o Super Rugby. Não é viável insistir em uma temporada que obriga equipes a darem a volta ao mundo em jogos de primeira fase, sobretudo quando elas não enchem estádios. Nenhuma liga esportiva no mundo faz isso.

 

Em nossa visão, o Super Rugby precisa ser radicalmente quebrado em duas zonas, Leste (Oceania e Ásia) e Oeste (África e Américas), para reduzir o impacto do fuso horário e das longas viagens e enfatizar os jogos que enchem estádios: os clássicos nacionais/regionais. E é ainda preciso lidar melhor com a existência de amistosos internacionais em junho, que obrigam uma pausa de um mês na reta final da temporada regular, esfriando o ritmo de decisão e o entusiasmo com o momento de definições da competição.

 

Pensamos em um modelo que lida com todos esse problemas e o abrimos para a discussão. Na primeira fase, as equipes seriam divididas em grupos Oeste e Leste. No Grupo Oeste, haveria 8 times (os sul-africanos e os sul-americanos), que se enfrentariam em 14 rodadas entre meados de fevereiro e fim de maio (seguindo o atual calendário). Já no Grupo Leste estariam 12 times (os neozelandeses, os australianos e os asiáticos), que também fariam 14 rodadas, sendo 11 jogos contra todos os times do grupo e mais três clássicos pela segunda vez. Os 4 primeiros colocados do Grupo Oeste e os 6 primeiros do Grupo Leste (50% de cada) avançariam para a segunda fase, que começaria em julho, logo após a pausa para os amistosos internacionais. Isso significa que os amistosos seriam uma quebra “natural” entre a primeira e a segunda fases do Super Rugby, harmonizando seleções e franquias.

 

A segunda fase teria as 10 equipes divididas em 2 grupos com 5 equipes cada, sendo 3 times do Leste e 2 do Oeste (isto é, apenas na segunda fase haveria os confrontos entre sul-africanos/sul-americanos com australianos/neozelandeses/asiáticos, o que parece muito mais racional). Os 5 times fariam 4 partidas entre si (2 em casa e 2 fora) ao longo de 5 semanas, um jogo contra cada oponente, o que garantiria ainda uma semana de repouso, importante pelos deslocamentos. Os dois primeiros colocados iriam para as semifinais. No total, o novo modelo implicaria apenas 1 fim de semana a mais do que o modelo atual, o que é possível de ser efetuado plenamente.

 

Para as equipes que terminarem a primeira fase na parte de baixo de seus grupos, é possível em julho criar uma segunda competição, que chamamos de Super Challenge, lembrando a Challenge Cup europeia conceitualmente, como um título um pouco mais do que simbólico. Num hipotético Mundial de Clubes que venha a ser criado no futuro, o campeão do Super Challenge poderia encarar justamente o campeão da Challenge Cup em uma partida “de fundo”, enquanto o campeão do Super Rugby mede forças com o campeão da Champions Cup, por que não?

 

Veja como ficaria a competição e opine:

 

1ª fase

De fevereiro a maio

Grupo Oeste

8 times  = 6 da África do Sul (Stormers, Kings, Sharks, Cheetahs, Lions e Bulls) e 2 da América do Sul (Jaguares, da Argentina, e um América do Sul XV, que inclua partidas no Brasil)

14 rodadas = todos contra todos, turno e returno

 

Grupo Leste

12 times = 5 da Nova Zelândia (Blues, Chiefs, Hurricanes, Crusaders e Highlanders), 5 da Austrália (Reds, Waratahs, Brumbies, Rebels e Force) e da Ásia (Sunwolves, do Japão, e Dragons, de Singapura, com atletas de Fiji, Samoa, Tonga e do restante da Ásia, como proposto em 2014);

14 rodadas = todos contra todos apenas uma vez + 3 clássicos pela segunda vez

 

2ª fase

Em julho

Super Finals

4 melhores do Grupo Oeste + 6 melhores do Grupo Leste

5 rodadas = 2 grupos com 5 equipes cada, sendo 2 do Oeste e 3 do Leste, enfrentando-se apenas 1 vez (4 jogos para cada equipe ao longo de 5 semanas)

 

Super Challenge

4 piores do Grupo Oeste + 6 piores do Grupo Leste

5 rodadas = 2 grupos com 5 equipes cada, sendo 2 do Oeste e 3 do Leste, enfrentando-se apenas 1 vez (4 jogos para cada equipe ao longo de 5 semanas)

 

3ª fase

Em agosto

2 melhores de cada grupo da 2ª fase (tanto para o Super Rugby como para o Super Challenge)

Semifinais e Final

 

Total: 21 rodadas, com no máximo 20 jogos por equipe (terminando 1 semana mais tarde do que no calendário atual)

 

Foto: Jaguares x Highlanders 2016 – Raúl Ferrari/cgl