infantiç 2014

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infantiç 2014 

Inúmeras pesquisas têm demonstrado que as pessoas creem que a prática esportiva traz benefícios não apenas para o corpo mas para a mente também. Muitos pais com tal crença (digo crença, pois ainda há controvérsias na literatura), colocam seus filhos para praticar esportes, não apenas para os benefícios que o esporte fará em sua saúde, mas para um melhor desempenho escolar.

Os argumentos que sustentam essas crenças são ligadas à aquisição de regras de conduta, de normas de comportamento e de valores sociais. Pressupõe-se que atitudes de perseverança, de disciplina e de cooperação exigidas no esporte irão contribuir para a formação da personalidade da criança. Outro aspecto importante é o de que a competividade adquirida no esporte pode ser transferida para a competividade da vida social da criança, sobretudo profissional, preparando a criança e o adolescente para enfrentar a vida mais adequadamente (TANI; TEIXEIRA; FERRAZ; 1994).

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Entretanto, muitos pais, educadores e pesquisadores têm questionado o envolvimento de crianças e de adolescentes em práticas esportivas sem restrições. O maior argumento apresentado se refere principalmente à precocidade com que crianças são submetidas a competições esportivas e a processos de treinamento sistematizados, podendo provocar efeitos psicológicos negativos ao desenvolvimento harmônico da personalidade.

Apesar de ser um tema controverso, os estudos têm chegado a algumas conclusões semelhantes, sobre a estruturação básica de programas esportivos que seriam mais adequados  a crianças e adolescentes. Essas pesquisas podem auxiliar na indicação de parâmetros gerais de adequação inibindo analises carregadas de preconceitos, com base na vida de renomados atletas ou até mesmo de pais que gostariam de compensar frustrações antigas no campo esportivo.

Há que se olhar para a prática esportiva sem pré-julgamentos, mas não da forma como nós adultos a vemos. É necessário enxergar sob o olhar da criança que esta vivenciando essa experiência. É extremamente importante ressaltar que para as crianças e os adolescentes é mais do que necessário uma grande abundância de atividades motoras vigorosas e diárias, com o simples objetivo de desenvolver suas capacidades singulares de movimento, contribuindo para a formação de um cidadão preparado para participar de programas esportivos em geral e  não apenas de um único esporte e, além disso, de um consumidor crítico em relação a espetáculos esportivos e informações veiculadas pelos meios de comunicação.

 

A CRIANÇA JÁ NASCEU PRONTA PARA A COMPETIÇÃO?

Quando se analisa o problema da criança estar pronta para participar de competições esportivas, é necessário considerar a questão de prontidão e do período ótimo de aprendizagem. A prontidão está relacionada com os pré-requisitos necessários para crianças e adolescentes se envolverem nessas novas experiências. O período ótimo de aprendizagem baseia-se na noção de que, durante o desenvolvimento, alguns momentos são ideais para promoverem-se novas aprendizagens, significando que as capacidades necessárias estão presentes no individuo, ou seja, a prontidão. Antes desse período, determinados conteúdos de aprendizagem ficam prejudicados e, após ele, perde-se a oportunidade de se explorar o melhor potencial do individuo. É importante esclarecer que não existe um período ótimo para todos os conteúdos, uma vez que há especificidades para os vários domínios de comportamento e grande variabilidade de conteúdos (TANI; TEIXEIRA; FERRAZ; 1994).

A participação de uma criança em uma situação de competição no esporte implica não somente adesão a um sistema de recompensa e de motivação, mas também consideração de um processo cognitivo extremamente complexo. Isso ocorre porque, para participar de uma competição esportiva, supõe-se que a criança já tenha alcançado maturidade psicológica suficiente que lhe permita enfrentar outra criança (Haste, 1990). No entanto, nesse processo, nem tudo é permitido, e a regra, que normatiza as interações entre os competidores e o resultado, possibilita espaço ao jogar bem, levando os participantes a situações difíceis de enfrentar, principalmente se os envolvidos são crianças.

Se colocarmos duas crianças para analisarem uma partida de rugby,  como por exemplo uma de 12 anos e uma de 6 anos e, após o termino do primeiro tempo, pedirmos para cada uma falar sua análise de jogo, a criança de 12 anos fará comentários a respeito das faltas cometidas e dos penais não sancionado. Entretanto, a criança de 6 anos questionará sobre por que às vezes se chuta a bola, mas nunca irá questionar a validade de um try ou não, assinalado devido a situação de falta. (adaptado de Ferraz, 1997).

Crianças muito pequenas não conseguem considerar simultaneamente as posições da bola do atacante e do defensor, impossibilitando, assim, a noção do que seja uma posição de impedimento. O que se deseja ressaltar é que a diferença pode estar na limitação das estruturas cognitivas para a aprendizagem de uma regra. Como as idades são bem distintas terão, seus níveis cognitivos são muito diferentes, fazendo com que haja incapacidade de compreensão de certas regras.

Sendo assim, vem a questão principal:

 

A PARTIR DE QUAL IDADE A CRIANÇA ESTA EM CONDIÇOES, SOB O ASPECTO COGNITIVO E MORAL DE ENTRAR EM UM PROCESSO DE COMPETIÇÃO ESPORTIVA?

 

Na próxima semana pretendemos vir com a resposta para a pergunta que ficou.

 

Escrito por:

Thiago Navarro

Graduando em Esporte pela EEFE- USP

Preparador físico da categoria M19 do São Paulo Saracens Bandeirantes

 

Foto: Adriano Matos – Jacareí

 

Bibliografia

Baseado no capitulo “O esporte, a criança e o adolescente : Consensos e divergências  ; Osvaldo Luiz Ferraz” do livro Esporte e atividade física na infância e na adolescência uma abordagem multidisciplinar de Dante De Rose Jr e col. Editora Artmed.2 edição 2011.

      FERRAZ, O. L. O desenvolvimento da noção de regras do jogo de futebol. Revista Paulista de Educação Fisica e Esporte, v.11, n 1 p. 27-39, jan\jun. 1997

      Piaget, J. O Juizo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994.

      Tani, G; TEIXEIRA, L. R; FERRAZ O.L. Competição no esporte e educação física escolar . In Conceição, J.A.N. saúde escolar; a criança, a vida e a escola. São Paulo , 1994.

      TANI G. et al Educação física escolar : Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU\EDUSP, 1988.

      DURAND, M. El niño y el deporte. Barcelona Paidós, 1988.