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O caso do desfecho das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2019 na Europa ainda está longe de se resolver. Depois de Romênia e Bélgica serem suspeitas de escalarem atletas irregulares, a Espanha também enfrenta problema semelhante.

Dois jogadores da Espanha, que jogaram a competição, Mathieu Bélie e Bastien Fuster, são franceses de nascimento e chegaram a defender a seleção M20 da França antes de jogarem pela Espanha.

O World Rugby (a federação internacional) permite que jogadores atuem por um país no M20 e por outro no adulto. Entretanto, a questão é mais complicada. O World Rugby possui uma lista de seleções adultas “B” e cada país deve indicar uma equipe para ser incluída como seleção “B”. Atletas que atuem por uma seleção adulta “B” não podem posteriormente trocarem de país. Bélie atuou pela França M20 em 2008, ano que a Federação Francesa designou sua seleção M20 como sua seleção “B”. Entretanto, em jogos contra outras seleções M20, a situação de seleção “B” não se aplicaria à França M20. Entretanto, um outro país, Gales, também designou seu time M20 como seleção “B” e Bélie esteve em campo em duelo entre a França M20 e Gales M20, pelo Mundial da categoria.Já Bastien Fuster defendeu a França M20 contra Gales M20 no Six Nations M20 de 2012, em situação análoga, quando ainda os dois países designando seus M20s como seleções “B”. A situação desses dois jogos como válidos também como uma partida entre seleções “B” é duvidoso e, portanto, a situação de Bélie e Fuster dependerá desse julgamento.

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Em 2017, no entanto, o World Rugby modificou as regras de designação de equipes “B” e proibiu que seleções M20 fossem designadas, com a regra começando em janeiro de 2018 – e sem clareza se a regra seria retroativa para seleções M20 designadas como seleções “B” no passado.

Confuso? O Americas Rugby News explicou melhor a saga europeia da elegibilidade de atletas.

 

Opinião

A confusão quanto à elegibilidade dos jogadores naturalizados cobrou seu preço e colocou o World Rugby e a Rugby Europe em situação delicada.

Os casos de Fakao’silea, que defendeu Tonga no sevens e a Romênia no XV e de Bélie e Fuster, que não sabiam se seus jogos pelo M20 francês os vetaria de atuarem pela Espanha no adulto, são inadmissíveis e de responsabilidade sim do World Rugby.

O nível de profissionalismo do rugby atual não permite tal situação, que seria facilmente sanada caso todos os jogos entre seleções nacionais chanceladas pelo World Rugby e pelas confederações continentais utilizassem um cadastro global de atletas. Um sistema online banal que vetaria um jogador que já tenha jogado por um país no XV (por seleções A ou B) e no sevens de trocar de seleção, bem como impediria falhas como as de atletas suspensos entrando em campo.

Tal sistema, claro, não impediria fraudes ou documentos falsos e/ou equivocados de serem utilizados – o caso do atleta da Bélgica, que é apenas bisneto de belgas, não seria prevenido só pelo uso de tal sistema – mas já ajudariam em ordenar melhor tal situação.

O caso dos atletas irregulares, por outro lado, ajudou demais o World Rugby e a Rugby Europe quanto ao caso da arbitragem polêmica do romeno Vlad Iordachescu no jogo decisivo entre Espanha e Bélgica, já que sua solução deixou de ser determinante para o desfecho de quem irá ao Mundial 2019.

O que deverá ser feito agora? Na minha opinião, a ordem de ações do World Rugby será:

  • Julgar os casos da elegibilidade dos atletas de Espanha, Romênia e Bélgica o quanto antes. A resolução rápida sobre se tais seleções perderão pontos é crucial, porque Portugal e Samoa aguardam a definição de seus oponentes nas Repescagens, que deverão começar já entre o fim de abril e o início de maio;
  • Dificilmente Romênia e Bélgica escaparão de perdas de pontos – o que deixa pendente a classificação da Romênia à Copa do Mundo. O julgamento mais complicado é o dos atletas espanhóis;
  • A resolução deverá apenas retirar pontos das seleções infratoras, sem que outras seleções herdem tais pontos;
  • Apesar do clamor, não há a possibilidade de nenhum jogo ser refeito;
  • A Rússia deverá ser a maior beneficiada, podendo ir diretamente ao Mundial 2019 ou pelo menos à Repescagem;
  • Assim que o destino das seleções for definido, o World Rugby precisará primeiro analisar punições para os jogadores espanhóis que intimidaram Iordachescu ao final do jogo entre Espanha e Bélgica. O desrespeito à arbitragem não é aceito no rugby e não se pode abrir exceções e precedentes. Tal julgamento só pode ser feito após a definição do destino da Espanha nas Eliminatórias, para não se criar mal estar antecipado;
  • Por fim, o caso da escala de Iordachescu pela Rugby Europe para apitar Espanha e Bélgica e sua atuação deverão ser com mais cuidado investigados, para se punir ou inocentar com justiça o árbitro e os dirigentes envolvidos;
  • Após todos esses julgamentos, são necessárias mudanças em como operam as federações continentais, já que há um claro abismo de organização entre elas, ainda no limite do profissionalismo, e o World Rugby.