Foto: Bruno Ruas @ruasmidia

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ARTIGO OPINATIVO – O rugby está próximo de promover uma revolução. E o assunto não são apenas os resultados de sua seleção na Copa do Mundo.

Primeiramente, é importante ressaltar que o rugby no Japão já era grandes antes mesmo de 2015, quando os Brave Blossoms (a seleção japonesa) venceram os Springboks. A tradição do rugby no Japão é longa,como já mostramos em artigo especial, com forte presença há décadas do rugby em escolas (mais de 1500 jogando rugby XV) e universidades. As empresas japonesas também sempre apostaram fortemente no fomento do rugby entre seus funcionários, pelos valores do esporte, e desde 2004 as equipes das empresas vem trilhando o caminho do profissionalismo, com suas equipes jogando a Top League, o Campeonato Japonês que conta com dezenas de grandes nomes do rugby neozelandês, australiano, sul-africano e das ilhas do Pacífico.

Entretanto, boa parte dos jogadores japoneses, em contraste com os estrangeiros bem assalariados, não são profissionais, e sim semi profissionais. Tratam-se de jogadores que dividem seu tempo entre o rugby e trabalho convencionais nas mesmas empresas, que incentivam seus jogadores-funcionários a se dividirem entre as funções. O passo para o profissionalismo foi dado somente em 2016, com a criação dos Sunwolves, a equipe japonesa que disputa o Super Rugby.

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Entretanto, os Sunwolves estão de saída e deixarão de jogar o Super Rugby após a temporada 2020. Assim, antes mesmo do Mundial 2019 começar, os japoneses já estavam discutindo o futuro de seu rugby profissional para depois do fim da “Era Sunwolves”, isto é, para 2021.

O projeto atual da JRFU (a federação japonesa de rugby) é a criação de uma liga totalmente profissional para 2021, que traria mudanças significativas na estrutura do rugby do país – a começar no número de jogadores vivendo exclusivamente de rugby. Se hoje há somente uma equipe totalmente profissional no país (Sunwolves), a nova liga – chamada provisoriamente de Origin 12 – teria 12 times totalmente profissionais – baseados nas cidades que receberam o Mundial 2019. Mais que isso, além das novas oportunidades abertas para atletas japoneses, o número de estrangeiros seria muito maior.

As especulações atuais dão conta de que o Origin 12 poderia ter o maior orçamento do mundo do rugby, superando os orçamentos de Top 14 francês e Premiership inglesa, aproveitando o público impactado pela Copa do Mundo, estimado na casa das 70 milhões de pessoas. Assim sendo, o que isso significaria?

Primeiramente, a liga japonesa buscaria ainda mais atletas do Super Rugby. Ou seja, mais All Blacks, Wallabies, Springboks e mesmo Pumas, além de fijianos, samoanos e tonganeses, poderiam desembarcar no Japão, deixando seus países. Em tese, a liga poderia ser apenas complementar ao Super Rugby, como é hoje a Top League, uma vez que o período preferido para sua realização seria de agosto a janeiro – e o Super Rugby ocupa justamente o período de fevereiro a junho. Ou seja, muitos atletas poderiam optar por ganhar dinheiro em duas frentes. A Top League não deixaria de existir, passando a acontecer justamente de fevereiro a junho, mas amadora.

Com isso, em uma segunda perspectiva, uma nova liga forte no segundo semestre poderia até ser entendida como complementar ao Super Rugby, mas isso significaria também que os jogadores do Origin 12 não estariam disponíveis para atuarem por All Blacks, Wallabies, Springboks e Pumas no Rugby Championship. Ou seja, tais seleções poderiam perder temporariamente atletas, que optem por jogar a liga japonesa em um ano e o campeonato de seleções em outro ano. Ou seja, uma rotação maior dos elencos dessas seleções. De todo modo, o que se verá é a transformação de como serão montadas.

Além disso, se tal liga for jogada no segundo semestre, a participação do Japão no Rugby Championship seria inviável. Para os Brave Blossoms, no entanto, evidentemente o melhor caminho para seu futuro é jogar anualmente o Championship, o que poderia obrigar a SANZAAR a simplesmente mudar no calendário o período de disputas de seu torneio, buscando o dinheiro japonês – o que implicaria em mudanças estruturais no calendário competitivo do Hemisfério Sul.

Caso tal mudança se torne inviável, será que o Six Nations (Seven Nations) seria o caminho para os Brave Blossoms? Esta ideia até já foi ventilada na imprensa inglesa – para a raiva do torcedor da Geórgia. Paralelamente, atletas europeus também poderão migrar para a liga japonesa, o que certamente traria consigo reflexos nessas seleções e em seus clubes. Isto tudo, no entanto, não passa de especulação.

Os próximos meses mostrarão o quanto do projeto ambicioso japonês realmente se tornará realidade para, assim, podermos tirar maiores conclusões sobre seu impacto no rugby europeu, no Super Rugby e no cenário do rugby de seleções. Atenção ao Japão após o Mundial, com certeza.