Foto: Bruno Ruas

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ARTIGO OPINATIVO – Em outubro de 2018, escrevi um artigo analisando como o Campeonato Brasileiro deveria ser. Nele, defendi que em 2020 a primeira divisão do XV nacional precisaria ser reduzida para 12 times e suas datas distribuídas pelo ano todo, de março a outubro, sendo intercalada com os estaduais, também distribuídos de março a outubro. O motivo disso seria reduzir desigualdades na elite nacional e garantir um calendário anual para os clubes que não disputem o Campeonato Brasileiro. Um calendário que esteja de acordo com a capacidade mensal de mobilização de recursos humanos e financeiros dos clubes, seguindo o exemplos das divisões inferiores de São Paulo – Paulista Séries B, C e D, que são distribuídas pelo ano todo e vem garantindo continuidade e maior sustentabilidade no trabalho de seus clubes.

Sei que houve uma reunião na semana passada para se planejar o futuro do rugby de clubes nacional. Apesar de saber parte do que foi discutido, não vou abordar os resultados da reunião, uma vez que não sei o que já é oficial e o que não é. Como já venho discutindo o assunto faz tempo aqui nesta coluna (em 2017 propus o campeonato nacional espalhado pelo ano e intercalado com o estadual), trago de volta tais ideias para colaborar, já que não é de hoje que o Portal do Rugby vem levantando a insustentabilidade do modelo atual.

O momento é delicado. O início do Super 16 e da Taça Tupi foi postergado e há mais dúvidas do que certezas sobre o torneio de 2019 – e já estamos no meio do ano. O BH já abriu mão de vaga na elite desde o fim de 2018. O Templários abandonou o Super 16 desde ano e ainda não foi anunciado quem pegará a vaga – se é que alguém ainda irá querer.

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Fato é: o rugby brasileiro de clubes está encarando sua realidade crua. A maioria de nossos clubes não são institucionalmente fortes o bastante para encararem competições que demandem deslocamentos constantes e planteis grandes. E a Confederação vem tendo problemas em garantir sem atrasos os recursos para financiar os campeonatos.

Com isso, precisamos dar um passo atrás, pensando no futuro. Para os clubes se planejarem, eles precisam ter um calendário anual definido no ano anterior. Se o financiamento dos torneio nacionais é problema, os estaduais precisam ser valorizados e prover o “esqueleto” do calendário anual. Se hoje não se sabe quanto os times voltarão a campo após os estaduais, um calendário estadual espalhado pelo ano garantiria continuidade e, em caso de atrasos no nacional, garantiria as atividades enquanto o nacional não é replanejado.

Além disso, com a futura Super Liga Sul-Americana rolando no primeiro semestre, os Tupis só estarão disponíveis para seus clubes entre agosto e outubro, teoricamente. Ou seja, a participação deles será curta e por isso precisa ser benéfica para todo o sistema: campeonato nacional e também estaduais, pois estaduais de alto nível têm maior potencial de atraírem interesse. São produtos melhores.

 

Modelos de Super 12

Para mim, precisamos de:

  • Estaduais com datas espalhadas de março a outubro;
  • Estaduais sendo os qualificatórios para o Super 12 do ano seguinte. Isto é, os 12 times do Super 12 precisam ser definidos a partir dos estaduais do ano anterior;
  • Super 12 de março a outubro também;
    • Modelo ideal, com 2 grupos de 6:
      • 10 rodadas na primeira fase, seguidas de semifinal e final, em um total de 12 rodadas;
      • Grupo Sul: 2 vagas para RS, 1 vaga para SC, 1 vaga para PR, 1 vaga para repescagem entre vice de SC e PR, 1 vaga entre o 3º do RS e o perdedor de SC/PR;
      • Grupo Sudeste: 1 vaga para RJ, 4 vagas para SP, 1 vaga entre o campeão de MG e o 5º de SP;
    • Modelo econômico, com 3 grupos de 4:
      • 6 rodadas na primeira fase, seguidas de quartas de final, semifinal e final, em um de 9 rodadas, podendo ser ampliadas com introdução de mata-mata em ida e volta;
      • Grupo Sul: 2 vagas para RS, 1 vaga para SC e 1 vaga para repescagem entre o vice de SC e o 3º do RS;
      • Grupo Centro: 1 vaga para o PR, 2 vagas para SP e 1 vaga para repescagem entre o vice do PR e o 6º de SP;
      • Grupo Norte: 2 vagas para SP, 1 vaga para o RJ e 1 vaga para repescagem entre o campeão de MG e o 5º de SP;
  • Tupis disponíveis para os mata-matas de Super 12 e estaduais;
  •  Com isso, a Taça Tupi se torna desnecessária, pois todos os clubes já teriam calendário de março a pelo menos setembro;

A expansão deste modelo no futuro para Nordeste e Centro-Norte não seria simples em um sistema de 6 times se enfrentando, pois seria muito custoso com tantas distâncias. Mas com as regiões se cruzando somente no mata-mata, a inclusão de campeões dessas regiões nas quartas de final seria uma solução a médio prazo.

 

Ideias, apenas ideias…

Uma solução imediata interessante para agregar Nordeste e Centro-Norte seria a criação de uma Copa do Brasil com 4 times: os 3ºs colocados dos grupos do modelo ideal do Super 12, aumentando as disputas dentro dos grupos (ou o pior 3º, no modelo econômico), o campeão do Nordeste (que, hoje, teria que ser o campeão baiano) e o campeão do Centro-Norte (já que hoje há 2 times do Norte jogando a Copa Brasil Central, vulgo Pequi Nations).

Semifinais e final em jogos únicos (de sedes rotativas), paralelos às finais do Super 12. Mas que precisariam ser financiados pela CBRu por conta de passagens aéreas (plausível caso fosse extinta a Taça Tupi, mas de viabilidade complexa caso haja mais problemas com recursos de financiamento). Quando um clube de fora do Sul e Sudeste fosse campeão, a possibilidade de desafiar o campeão do Super 12 numa taça de campeões poderia ser aberta na temporada seguinte.

Além disso, em paralelo ao Super 12 e aos estaduais, seria muito positivo a criação de uma “taça desafio“, nos moldes do Ranfurly Shield neozelandês, que garantiria chance de título a todos os times ao longo do ano independente da colocação no Super 12 ou nos estaduais.

Como isso funcionaria?

  • Uma taça seria colocada em disputa para uma partida inicial. O vencedor desse jogo ganharia a taça, mas colocaria a posse dela em disputa em seu próximo jogo em casa. E assim sucessivamente, independente do oponente e da competição;
  • Com isso, jogos de campeonato que seriam comuns ganhariam ares de final ao longo do ano, permitindo a vários clubes jogarem por uma taça toda temporada;
  • Faltaria apenas dar um nome bom para o troféu. Minha ideia? Taça Vitória Régia, em homenagem ao velho símbolo do nosso rugby. E taça com nome de vitória não deixa dúvidas de seu valor;

Tal taça viaja com os clubes, não requerendo gastos extras com evento e deslocamento de taça. Esse modelo é tradicional na Nova Zelândia, mas não em outros países. No Brasil acredito que seria um sucesso, pela ânsia por títulos que permeia nossa cultura esportiva.

E aí, que tal tudo isto?