Foto: Bruno Ruas

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ARTIGO OPINATIVO – Um dos assuntos da semana vem sendo uma possível expansão do Six Nations a partir de 2024, quando começaria a vigência de um novo contrato de TV da competição (o atual expira em 2023).

Primeiramente, é bom deixar claro: não há nada definido. Má informação vem rodando pela internet sobre África do Sul ou Japão já estariam confirmados e isso está muito longe de ser verdade. Há conversas, negociações (talvez), especulações.

As especulações de momento têm afastado as possibilidades de adesão do Japão à competição, pela grande diferença de fuso horário (que atrapalharia as transmissões), no entanto a África do Sul aparece como uma possibilidade futura de expansão do Six Nations, ainda mais com a presença já de times sul-africanos no PRO14 (Cheetahs e Kings), a liga que ainda conta com times de Irlanda, Escócia, Gales e Itália.

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E sobre o velho assunto da Itália ser rebaixada do Six Nations? Este é eterno e ainda mais mal compreendido. A Itália simplesmente não pode ser rebaixada do Six Nations porque ela é uma de suas donas.

Como assim?

O Six Nations é uma liga privada, com 6 donos, isto é, as 6 nações. A liga não é da federação europeia (Rugby Europe), portanto, não existe possibilidade de haver rebaixamento.

Por essa razão, uma possível expansão do Six Nations foi comentada pelo presidente da Rugby Europe, o romeno Morariu, que sugeriu que o melhor seria pensar numa expansão para 8 times, incluindo a possibilidade de participação de outros times europeus. O dirigente sugeriu que a abertura da competição traria mais receitas ao Rugby Europe Championship (o “Six Nations B”, como é conhecido informalmente).

Mas, como isso seria possível?

Uma possibilidade que vem sendo especulada é a Rugby Europe se tornar uma sócia do Six Nations, criando uma vaga rotativa no torneio. Isto é, enquanto as 6 nações atuais (França, Inglaterra, Gales, Escócia, Irlanda e Itália) não seriam sujeitas a rebaixamento, uma nova equipe europeia entraria como convidada, estando sujeita a rebaixamento.

Tal proposta foi feita com o intuito de adequar a expansão ao calendário também, com a sugestão de 8 equipes divididas em 2 grupos de 4.

O motivo da proposta é de manter a competição com o mesmo número de rodadas atual, 5, uma vez que a competição é disputada ao longo de 7 semanas, com os atletas e federações exigindo 2 fins de semana de folga, pelo nível das partidas. Além disso, não é possível estender a competição para mais de 7 semanas, por pressão dos clubes europeus, que pagam os salários dos atletas e não interrompem as disputas de suas ligas nesse período. Uma expansão no calendário precisaria de negociações complicadas com os clubes.

No entanto, a divisão dos times em 2 grupos não é bem aceita pela maioria dos países, pois partidas extremamente valiosas para TVs e patrocinadores poderiam não ser disputadas em alguns anos (como França vs Inglaterra ou Inglaterra vs Escócia).

Diante de tal possibilidade, o técnico da Inglaterra, Eddie Jones, alertou sobre o perigo de se diluir a qualidade da competição, tornando-a menos valiosa.

A possível venda de um percentual do Six Nations para o fundo de investimentos CVC vem sendo um dos motivos para as novas conversas, uma vez que, para atraírem novas receitas, os europeus do Six Nations já cogitam venderem parte do negócio para terceiros. Porém, qualquer venda de parte da liga custaria mais do que qualquer seleção emergente europeia (Geórgia, Rússia, Espanha) ou a Rugby Europe hoje poderiam pagar.

Ou seja, os desafios, portanto, são muitos para se dar certeza de que uma expansão ocorrerá.

 

E qual a estratégia da África do Sul?

Para além da expansão do Six Nations, discute-se ainda se a África do Sul estaria abandonando Austrália, Nova Zelândia e Argentina. As negociações com o Six Nations precisam ser entendida de outro modo: a África do Sul não precisa abandonar o Championship para ingressas no Six Nations. Porém, seria preciso esperar o contrato de exclusividade com a SANZAAR (The Rugby Championship) expirar em 2026 (não 2024).

Primeiramente, é importante relembrar que o Rugby Championship (competição entre África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Argentina) também é uma competição independente, como o Six Nations, não sendo controlada pelo World Rugby.

Os sul-africanos, no entanto, há muito tempo estão insatisfeitos com seus parceiros do Sul e buscam novas receitas. Quando em 2017 Cheetahs e Kings foram excluídos do Super Rugby e entraram para o PRO14, a federação sul-africana deixou claro que queria se aproveitar de sua posição geográfica (igualmente distante de Europa e Oceania) para manter relações com os dois continentes.

De um lado, os sul-africanos certamente usarão as negociações com os europeus para pressionarem australianos e neozelandeses nas futuras negociações. Do outro, os sul-africanos sabem que a Europa oferece grandes oportunidades porque o fuso horário é o mesmo que o seu, algo que é benéfico para transmissões e reduz o desgaste dos atletas em suas viagens. Além disso, o euro e a libra são sedutores para os sul-africanos em futuros contratos comerciais.

Ao olharmos o calendário, fica clara que a África do Sul poderia simplesmente querer participar de todos os torneios: Six Nations e The Rugby Championship com sua seleção, Super Rugby e PRO14 com suas franquias. O conflito de datas entre Six Nations e Super Rugby ocorreria apenas em fevereiro e março e poderia valer a pena para os sul-africanos caso novas receitas permitam manter no Super Rugby (em Bulls, Lions, Sharks e Stormers) mais atletas dos Springboks, ficando disponíveis na reta final da competição (abril, maio e junho). Hoje, Bulls, Lions, Sharks e Stormers vem perdendo atletas para a Europa em número alarmante e tal cenário poderia ser vantajoso para tais equipes.

Por isso, é plausível vermos os Springboks jogando tanto Six Nations como Rugby Championship em 2026. Porém, certamente tal acordo poderia gerar descontentamento e pressão de outras parte (Nova Zelândia e Austrália, por exemplo), com desdobramentos imprevisíveis. Certamente, australianos e neozelandeses já sabem que precisam contra-atacar se aproximando do mercado mais cobiçado do momento, o Japão. Por isso mesmo, a exclusão dos japoneses do Super Rugby é problemática.

As peças estão no tabuleiro. Fiquemos de olho, mas sem cairmos em desinformação.