Foto: Ignácio Naon/Seven Punta

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ARTIGO OPINATIVO – As últimas e as próximas semanas marcaram e marcarão momentos importantes pensando no futuro dos Tupis, as Seleções Brasileiras Masculinas Adultas. Nos torneios de sevens e com a camisa do Corinthians, o elenco brasileiro assume uma nova cara que precisa ser entendida com o devido contexto e numa perspectiva de futuro.

Primeiramente, é essencial ressaltar que finalmente o Brasil volta a contar com uma comissão técnica majoritariamente brasileira, com o treinador principal sendo brasileiro. Fernando Portugal é, portanto, o primeiro brasileiro a assumir o principal cargo das seleções masculinas desde Antônio Martoni no começo dos anos 2000. Algo certamente positivo, uma vez que trata-se de um ex atleta que viveu todo o processo de transição do amadorismo para o profissionalismo dos Tupis e agora fez a transição para a condição de treinador.

A Seleção Brasileira de Sevens que disputou a 2ª divisão mundial no mês de fevereiro pode não ter tido bons resultados, mas precisa ser vista sob a lente correta. Mesmo qualificado para o Pré Olímpico Mundial de junho, o Brasil – sejamos lúcidos – tem pequenas chances de ir aos Jogos Olímpicos entre os homens. Por isso, pareceu-me sensato iniciar logo um processo de renovação na equipe e começar a dar mais espaço para atletas recém saídos do M20 – sobretudo porque nosso rugby de clubes juvenil (perigosamente) diminuto não oferece o calendário robusto necessário à formação completa dos atletas, que dependem do sistema de alto rendimento para se formarem (ao contrário do que ocorre, por exemplo, no Uruguai). A escolha de Júlio Faria (de 30 anos) como treinador também é muito interessante, dado o sucesso rápido dele no cenário de clubes com o Jacareí. É preciso formar e dar experiência a treinadores nacionais e, portanto, a escolha também fez sentido. Portugal também passou pela seleção de sevens, que antes teve treinador brasileiro (com Maurício Coelho). Ou seja, a seleção da modalidade reduzida pode assumir sim esse caráter formativo nacional. É o que quase todos os países que têm XV profissional fazem e, agora com a SLAR, isso não será diferente na América do Sul – sendo que o próprio Uruguai já tem tal abordagem (e com mais sucesso que nós).

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A questão essencial de se ressaltar com relação à seleção de sevens é que ela precisa de um projeto concreto. Cobrei em outro artigo que haja um tratamento mais correto do sevens no Brasil, uma vez que trata-se da modalidade olímpica, e isso se estende aos Tupis. Quando falo em projeto, é possível comportar sim um projeto que entenda a seleção de sevens como um espaço para atletas emergentes. Porém, contanto que haja continuidade nesse projeto – e preparação adequada. Improviso ou imediatismo não podem ter espaço, definitivamente. Temos que cobrar que haja uma coerência no selecionado de sevens daqui em diante, a partir da experiência de 2020. Só assim um julgamento mais justo poderá ser feito.

Quanto ao XV, é hora do Brasil virar Corinthians, com a largada da SLAR. Já deixei claro em outro artigo como vejo como perigosa a adoção de uma marca do futebol, sobretudo por ser a única equipe profissional no país, não dando alternativas ao torcedor não corintiano. Quem escolhe se associar ao futebol, não pode cobrar nada além do “pacote”, por mais que seja sempre pertinente relembrar e reforçar os valores do rugby. Junto do Corinthians vem também o anticorintianismo. É um par indissociável, não adianta reclamar. Não é justo nem sensato criticar que o torcedor traga referências do futebol quando tal escolha veio de cima. Entretanto, é essencial todos os rugbiers compreenderem que o elenco é o dos Tupis e é crucial para o sucesso de nossa seleção que o Corinthians tenha bom desempenho na SLAR.

O elenco mescla jovens e veteranos, numa mistura também crucial para nosso rugby, uma vez que o trabalho de renovação precisa ocorrer logo. A meta de chegar à Copa do Mundo de 2023 é um peso sobre um elenco em renovação, sabendo que as Eliminatórias começarão já no ano que vem. Conhecendo a juventude de boa parte do grupo, acho que tal cobrança não pode ser feita. Não é justo lançar sob os ombros de um elenco em parte jovem o peso de metas feitas lá atrás. Por mais que torça muito para que a meta de 2023 seja concretizada, o Brasil não é favorito nas Eliminatórias e, a partir de 2020, o Chile e o Uruguai terão seleções 100% profissionais, igual a nossa. Se no passado recente o profissionalismo da CBRu rendeu progressão rápida à nossa seleção, agora todos os países estarão sob as mesmas condições – e o processo de renovação no Chile e no Uruguai está alicerçado por resultados sempre superiores na categoria de base.

Nossas expectativas sobre os resultados precisam levar em conta o contexto geral do nosso rugby e enxergar que o projeto do alto rendimento não pode se isolar do contexto dos clubes – em especial da base. Do mesmo jeito, eventuais insucessos precisam ser entendidos como reflexos de erros nas prioridades e abordagens escolhidas na condução do sistema competitivo do nosso rugby no passado recente. A comparação com os vizinhos é primordial.

Com isso, será importante o rugbier brasileiro saber distinguir a relação que pretende ter com o Corinthians com o apoio que precisa dar ao processo de renovação do elenco e nacionalização da comissão técnica – ambos cruciais ao futuro dos Tupis. Lucidez e justiça no tratamento aos jogadores e treinadores, somado a um senso crítico de cobrança por coerência, continuidade e sustentabilidade no projeto profissional de quem está no comando dele.

1 COMENTÁRIO

  1. Ainda não temos a data do Campeonato brasileiro de sevens 2020. Nos dois últimos anos o principal torneio do país e que distribui bolsas aos 3 primeiros colocados,(tornando-se de longe o torneio com maior premiação/ direta e indireta) foi disputado durante a pré temporada do ano seguinte. Em fevereiro.
    Este ano o torneio contou ainda com a sobreposição de datas com os jogos da seleção.
    Não parece lógico, em um calendário tão diminuto esta sobreposição de datas.
    Não jogaram em Taubaté no “Brasileiro” de sevens, os jogadores de Corinthians (pré temporada), seleção e questão de transferências.
    O 7s só irá crescer como modalidade, no Brasil, quando tiver um calendário.