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ARTIGO OPINATIVO – ATUALIZADO em 06/03: Um dia após a publicação deste artigo, a World Rugby divulgou um plano mais inclusivo do que o vazado anteriormente, que na minha opinião não diminui a possibilidade de mais ganhos financeiros sem restringir as oportunidades à seleções emergentes. A questão da integridade física dos atletas segue incógnita, quando tivermos mais informações poderemos endereçar melhor essa questão.

O anúncio de uma Liga Mundial fechada com as maiores “potências” do esporte pegou o mundo do Rugby de surpresa na última semana e conseguiu desagradar quase todo mundo, com críticas internas de Agustín Pichot, que luta por um formato aberto com acesso e descenso, atletas das seleções, que veem no aumento na quantidade de jogos um risco à integridade física, clubes europeus, que não vão poder contar com jogadores por mais tempo e todos os países que ficaram de fora e que almejam mais jogos de nível para seguir se desenvolvendo.

Precisamos ser francos: o fato é que apesar do esporte ter o apelo global, ele passa muito longe disso, sendo massificado em muitos países com baixa população ou baixa renda (ou ambos), e nenhum dos dois números são atraentes para anunciantes e patrocinadores e a crise financeira que atinge TODOS os níveis do esporte, mesmo em economias sólidas, são um reflexo disso.

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Não se joga nem se consome Rugby na China nem na Índia (1/3 da população mundial), ele não é massificado em Estados Unidos e Alemanha as maiores potências econômicas de seus continentes nem é o esporte principal onde ele é massificado.

O resultado está aí.

Dos 12 clubes da Premiership, 10 registraram prejuízo na temporada 2016/2017.
A RFU, registrou perdas de 30,9 milhões de libras em 2018
O Six Nations pediu 100 milhões de libras para fechar o title sponsor da competição por seis anos. Se contentou com 50 milhões diante da falta de interessados.

A World Rugby conseguiu por muito tempo conciliar o crescimento do esporte e sua mensagem de inclusão e valores graças ao amadorismo, mas uma vez que ela se posiciona como esporte global e pretende levar o Rugby aos quatro cantos do mundo, isso não é mais possível (ou no mínimo é quase impossível de gerenciar), porque ela sai do seu nicho e entra na disputa por recursos financeiros de grandes marcas que podem dar sustentação à sua visão, e a atenção cada vez mais escassa do público (especialmente dos mais novos, mais propensos a jogar Fortnite e PUBG do que Rugby). Duas corridas que ela saiu com muito atraso em virtude do profissionalismo entrar em vigência somente em 1996.

A World Rugby fez à la CBRu (esse tema terá um artigo à parte) e excluiu quem não é viável.
Tentou equilibrar o mérito técnico do mérito financeiro, e nessa, tirou Geórgia, Fiji, Samoa e Tonga, que somam 5 milhões de habitantes, e incluiu Estados Unidos e Japão, 450 milhões de habitantes que vivem no outro lado do espectro de PIB, renda per capita, e qualquer outro índice econômico que se queira avaliar e tem sim possibilidades de fazer frente às grandes potencias no médio/longo prazo (como tem mostrado o Japão no XV e os EUA no Sevens).

Se tornar viável financeiramente sem abandonar (por completo) seus princípios, é esse o momento pelo qual passa a World Rugby, e as dores do crescimento vão deixar algumas vítimas pelo caminho, mas, se ela quer se tornar um esporte verdadeiramente global, é um caminho que ela terá que trilhar.

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