Tempo de leitura: 4 minutos

ARTIGO OPINATIVO – A Coluna VOZ DO RUGBY é o espaço para rugbiers envierem textos opinativos. Djalma Das, brasileiro hoje radicado em Portugal, que participa do Ovalcast, tratou de assunto mais do que atual, o racismo.


 

“Creio que minha razão para publicar foi apenas para apoiar o movimento de deter o racismo em todo o mundo. E, suponho, criar uma consciência sobre o racismo ”.

- Continua depois da publicidade -

A frase acima foi proferida por Josh Ioane, abertura dos Blues de Auckland, explicando o por quê de ter postado um quadrado preto na terça feira passada, em apoio ao movimento Blackout Tuesday, criado por ativistas para visibilizar a causa antirracista.

O ato de Ioane talvez não seja tão contundente quanto o já celebre ajoelhar-se durante a execução do hino nacional de Collin Kaepernick, ex-QB da NFL, que protestava assim em 2016 contra a desigualdade racial e brutalidade policial, responsáveis pelas mortes de inúmeros negros nos Estados Unidos.

Mas, ambas são manifestações de esportistas sobre um assunto que ainda é quase um tabu no mundo dos esportes, por mais que cenas dantescas de preconceito continuem a assolar o mundo, inclusive durante os eventos esportivos.


Creio que todos conseguem recordar de uma infinidade de atos desta natureza que aconteceram nos campos, ginásios, estádios, piscinas…

Vimos desde os casos recentes em que o atacante do Porto, Marega, foi violentamente agredido em um jogo de futebol em Guimarães à uma partida de rugby do Super 13 (campeonato brasileiro), onde “torcedores” rivais imitaram macacos para hostilizar jogadores e torcida do Jacareí Rugby; sem nos esquecer de casos emblemáticos como a banana que torcedores do Villarreal atiraram em Daniel Alves quando este se preparava para cobrar um escanteio há alguns anos atrás.

Os atos em si já são revoltantes, mas, quando vemos as sanções que as equipes ou estes ‘torcedores” sofreram, ficamos ainda mais estupefatos: nenhuma. Claro, há sempre uma nota de repúdio, um pedido de desculpas, frases como “o clube não consegue controlar quem vai aos estádios” ou “injusto punir o clube pela atitude de meia dúzia de pessoas”. Exceto pelo caso em Villarreal que o agressor foi identificado e levado à delegacia de polícia.

Mas, quais medidas práticas foram tomadas, quais sanções? O que foi, de fato, feito para evitar que estas coisas voltem a acontecer, para proteger os jogadores, para proteger as demais pessoas de crimes de racismo? Para mudar a consciência de que estes tipos de atos não serão mais tolerados e demonstrar que a gestão desportiva também está se preocupando com este assunto.

Após a morte filmada do músico afro-americano George Floyd, nas mãos e joelhos de policiais americanos de forma truculenta sob acusação de falsificação, despertamos para o fato de que não é apenas a covid19 e suas mutações que está matando parte da população. Apesar de não se tratar de um caso isolado, essa ação gerou uma onda.

Nas últimas semanas temos visto inúmeras manifestações pelo mundo, algumas mais pacíficas, outras nem tanto. Mesmo com as recomendações de isolamento para conter a propagação do vírus, as pessoas perceberam que algo precisava ser feito. Com urgência.

Durante esta pandemia que levou as pessoas a ficarem em isolamento social, muito foi dito que o mundo não será mais o mesmo. E que as pessoas terão de se adaptar à uma nova realidade; a forma como trabalhamos terá de ser repensada, o jeito como tratamos o planeta terá de ser outro, entre tantas outras questões que urgem neste momento.

Mas a pauta antirracista está entre as prioridades. Pois o novo mundo moderno foi construído a partir dessa estrutura que se faz presente até hoje. E, portanto, o posicionamento de todos se faz necessário, incluindo esportistas e clubes.

Por isto tem tanta importância que um jogador não negro tenha se manifestado, mesmo que apenas pelas redes sociais. Porque há questões estruturais que vão muito além do que vemos nos debates de televisão feitos no auge da indignação e logo depois são esquecidos, retornando assim à normalidade de injustiças muito além da comoção que mais uma morte estúpida e gratuita nos causa.

“Em uma sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Angela Davis.

Por: Djalma Das