Foto: Gaspafotos/ SLAR

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ARTIGO OPINATIVO – A pandemia do coronavírus COVID-19 trouxe consigo um problema evidente para as competições esportivas internacionais: as viagens. Como cada país vive situações distintas no combate à doença, as datas para se encontrar uma solução para as competições que estavam em andamento segue em dúvida. A situação é ainda mais complicada para ligas transcontinentais, como o Super Rugby e o PRO14. O sucesso da Nova Zelândia no combate ao coronavírus vem alimentando esperanças de que o rugby volte mais cedo por lá, ao passo que a Austrália também pode retomar competições em breve, após seu governo começar a assinalar nessa direção. Por outro lado, viagens desses países à África do Sul e à Argentina seguem uma possibilidade ainda distante.

Com isso, o futuro do Super Rugby vem sendo debatido. A dificuldade das viagens intercontinentais, que vem deixando o Super Rugby 2020 arriscado de não ser finalizado, somada com o recente flerte da África do Sul com o rugby europeu vem levando a especulações sobre soluções mais regionais para o rugby do Hemisfério Sul. A possibilidade dos times australianos e neozelandeses seguirem seu próprio caminho, separados de África do Sul e Argentina, resultaria no fim do Super Rugby como o conhecemos.

Caso o “divórcio” ocorresse, a África do Sul tem seu “plano B”: é o PRO14, a liga de Irlanda, Escócia, Gales e Itália, onde já estão dois times sul-africanos ex Super Rugby, Cheetahs e Kings. Tal alinhamento com o rugby europeu, todavia, é igualmente incerto, pois também demandaria viagens intercontinentais – com seus problemas já conhecidos.

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Argentina mais próxima da SLAR?

De todo modo, o que ocorreria se os Jaguares argentinos ficassem sem o Super Rugby? Uma alternativa seria seguirem o caminho dos sul-africanos e se alinharem ao PRO14, mas tal alternativa é totalmente incerta – e, honestamente, pouco provável.

Outra alternativa seria uma abordagem mais “modesta” da parte argentina. Talvez o projeto dos Jaguares serem, na prática, os Pumas, não seja o melhor caminho para o país. Talvez permitir que os atletas dos Pumas atuem em clubes europeus seja a melhor alternativa. Com isso, os argentinos poderiam investir em um nível mais local de profissionalismo, que dê oportunidades aos atletas que ainda não têm boas oportunidades no exterior. É aí que entra a SLAR, a Superliga Americana (Sul-Americana) de Rugby.

A saída dos Jaguares do Super Rugby poderia levar a Argentina a se focar na construção, estruturação e comercialização da SLAR. Com duas ou três equipes argentinas na SLAR, a liga ganharia a solidez necessária e teria seu centro no mercado mais consistente do rugby sul-americano, que é o argentino. Isso seria bom para uruguaios, chilenos, paraguaios e, lógico, brasileiros, pois o sucesso da liga dependeria menos do sucesso destes que são países emergentes no esporte – e não consolidados, como a Argentina. Os argentinos seriam um necessário “esqueleto”, o pilar comercial da liga.

 

Um rugby argentino profissional em harmonia com o amador

A SLAR tem um potencial imenso para se adequar e se harmonizar com o rugby amador de clubes argentino. Enquanto no Super Rugby os horários são muitas vezes ruins para o público argentino (ou conflitam com o rugby de clubes), a SLAR teria maior flexibilidade. Como já foi proposto na primeira temporada, os jogos da SLAR poderiam ser todos quarta, quinta ou sexta a noite, enquanto o fim de semana seguiria sendo focado no rugby argentino de clubes, amador, imenso, identitário. O argentino preza demais seu universo de rugby amador e as iniciativas profissionais precisam entender isso.

Se às vezes há males que vem para o bem, os problemas para a sequência do projeto dos Jaguares podem se tornar incentivos ao projeto da SLAR. O que, por tabela, seria inclusive bom para o rugby brasileiro.

O nível de jogo que hoje os argentinos têm no Super Rugby seria perdido, sim, mas apenas parcialmente, pois os atletas dos Pumas têm nível para conseguirem seu espaço nos clubes europeus ou mesmo nas franquias do Super Rugby. O calendário de preparação dos Pumas também teria que se adaptar, sim, mas a questão do calendário já estaria “na mesa” em eventual saída sul-africano do Super Rugby. Um rugby argentino mais focado na SLAR não seria um completo desastre e poderia abrir novas oportunidades na nossa região.