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A notícia é fresca e chocante. O jornal inglês Telegraph publicou que o segunda linha Rodrigo Capó Ortega, melhor jogador do Uruguai, não jogará a Copa do Mundo por decisão própria – e misteriosa. Ortega é atleta do Castres, do Top 14, e as especulações dão conta de que o jogador teria sofrido pressão de seu clube para não jogar o Mundial, uma vez que o Top 14 terá algumas rodadas durante a competição.

 

Em declaração ao jornal inglês, o Castres garantiu que não teve nenhuma interferência na decisão do atleta. Porém, Rob Nichol, diretor da International Rugby Players’ Association, a Associação Internacional de Jogadores Profissionais de Rugby, assegurou que o mesmo dilema vivido por Ortega – escolher entre o clube e a seleção – deverá impactar muito outros atletas de seleções mais pobres. O dirigente aponta que Fiji, Samoa e Tonga, por exemplo, deverão perder até cinco importantes jogadores pelas mesmas circunstâncias, sendo que recentemente atletas de a Samoa já tinham denunciado as pressões sofridas.

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Opinião

Se for realmente verdadeira a decisão de Ortega, como noticiado pelo Telegraph, o rugby terá definitivamente agravado um conflito extremamente danoso entre clubes – sobretudo os milionários clubes franceses – e as seleções nacionais, que o World Rugby não poderá mais ignorar. Competições profissionais acontecendo durante o período da Copa do Mundo criam uma situação inaceitável de pressão velada sobre os atletas e fazem com que a Copa do Mundo não seja exatamente “os melhores contra os melhores”. O problema, no entanto, está o calendário. Como o rugby é um esporte que não permite num nível tão alto mais de um jogo por semana adequar ligas nacionais tão longas como as europeias com o calendário de seleções é inviável.

 

Cada clube europeu tem cerca de o dobro de jogos de uma franquia do Super Rugby. Um clube francês que alcance a final do Top 14 e uma final europeia terá jogado na temporada 38 jogos, ao passo que um clube inglês ou galês que também chegue às finais da Premiership ou do PRO12, da LV Cup e da Champions Cup ou Challenge Cup terá jogado 39 partidas. Irlandeses, escoceses e italianos têm uma situação levemente melhor, com 33 jogos no máximo.

 

Já uma franquia do Super Rugby conta com no máximo 19 jogos. Depois do Super Rugby, os jogadores de All Blacks, Wallabies e Springboks se separam dos demais e se concentram para o Rugby Championship, ao passo que os atletas não convocados para as seleções disputam os campeonatos nacionais de Nova Zelândia, Austrália e África do Sul, que possuem, no máximo, mais 12 rodadas, para as quais eventualmente alguns dos jogadores das seleções nacionais são liberados – em geral, para as finais – , mas sem causar sério dano às seleções.

 

Com isso, claramente o problema está no modelo de competições da Europa, o que, no entanto, está vencendo a batalha econômica contra o Hemisfério Sul, que vem tendo levas de jogadores se transferindo para os clubes europeus, que pagam mais. A solução ainda é obscura e a situação, que já é grave, deve piorar se nada for feito.