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 DiegoLopez
O sonho dos Jogos Olímpicos está cada vez mais perto para doze jogadores da seleção masculina e doze da feminina, e a cada mês, os treinos se intensificam para aqueles que querem fazer parte da grande festa do esporte mundial, cada um da sua maneira.
 
O atleta Diego Lopez, do Pasteur (SP), é um dos cotados para vestir a amarelinha no Rio de Janeiro em 2016, e ele escolheu um caminho bem longo para chegar ao seu objetivo. Diegão está disputando a temporada de Seven-a-side na Austrália, uma das grandes seleções da Série Mundial e que também deve levar a sua amarelinha para os Jogos.
 
Conversamos com ele sobre essa temporada, e ele comenta o ambiente, seu dia-a-dia e metas de longo prazo.
 
 
 
Portal do Rugby: Como surgiu a oportunidade de jogar na Austrália? Até quando deve ficar?
 
Diego Lopez: Ano passado conheci o Dave Harvey, australiano, filho de brasileira que atuou profissionalmente no Super Rugby e, mais recentemente, integrou a seleção brasileira na etapa do Sevens Series de Dubai. Nos aproximamos mais durante a viagem da Seleção de Seven aqui na Austrália em outubro do ano passado, e tive o primeiro contato com o clube dele durante os torneios. Pretendo ficar por aqui até o final de março, quando acaba a temporada de Seven  e começa a de XV.
 
 
 
PdR: Em qual clube está jogando? Como é a rotina de treinos e fora deles, e como é a estrutura que tem à disposição? Como foi sua recepção?
 
DL: O clube chama-se West Harbour Pirates, é um clube bem antigo da região de Sydney que disputa a Shute Shield, primeira divisão da região de New South Wales. Os treinos de Rugby com o clube são de terças ,quintas e alguns sábados, quando não ha competição, academia coletiva com os jogadores do time são às segundas e quartas e fora isso há todo um trabalho individual passado por um preparador físico da equipe.
 
 
 
O clube possui uma excelente estrutura, incluindo um estadio para 20 mil pessoas, que já foi sede de jogos da 1a Copa do Mundo de Rugby e antiga casa dos Wallabies, além de uma academia própria para os atletas e muitos treinadores e assistentes tocando e ajudando nos treinos específicos, que sempre contam com mais de 50 jogadores e são organizados por grupos.
 
 
Fui muito bem recebido por aqui pelos treinadores e managers desde o primeiro momento, sempre fizeram questão de me colocar com o grupo de elite nos treinamentos e me tratar como um jogador internacional. Os atletas e o ambiente do clube também são muito propicios para o desenvolvimento. Há jogadores de diversas nacionalidades e diferentes níveis, desde ex-jogadores de Super Rugby até mais novatos M20,  entre muitos kiwis e islanders (como eles chamam os que veem das ilhas do Pacifico).
 
 
PdR: Você já jogou na França (Stade Toulousain, Toulouse M21 -2007). Como esse dia-a-dia e o jogo diferem do que você experimentou na Europa?
 
DL: Apesar de serem dois países aonde o Rugby é de Tier-1, os dois clubes são muito diferentes. No Toulouse vivia uma realidade completamente profissional, mesmo não sendo parte do grupo profissional e sim fazer parte da Escola de Base da equipe, todos estavam ali aspirando uma carreira profissional, havia um nível de exigência grande e uma estrutura de ponta, entre as melhores do Rugby mundial. Diariamente poderia encontrar Albacete, Kelleher e grandes nomes do Rugby nos corredores do Ernest-Wallon.
 
Aqui no West Harbour, apesar de ter toda estrutura similar ao profissional e ser um grande clube não há esse ambiente de profissionalismo, não há muitos jogadores da equipe que recebem, e estes recebem num sistema “por jogo”. O clube se aproxima mais de um ambiente amador com uma estrutura profissional, mas com jogadores de times A , B , C , D de diferentes níveis, o que não existia no Stade Toulousain, aqui é um clube mais heterogêneo.
 
 
 
 
PdR: Nos últimos anos você tem dado ênfase ao Seven-a-side, até por conta de sua presença constante na seleção. Existe a possibilidade de se arriscar no XV ou mesmo no League australiano? Como vê esse intercâmbio entre códigos do Rugby?
 
DL: Meu objetivo principal, vindo para cá, foi única e exclusivamente seguir me aprimorando com o foco nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 e na Seleção de Sevens. Vim para disputar a temporada de Sevens, adquirir uma experiência diferenciada, conhecer um outro nível competitivo de Sevens e encaro aqui como um  grande desafio. Os ” Pirates ” tem conversado comigo freqüentemente  e mostrado interesse para que eu fique e dispute a temporada de XV com eles, e admito que o convite é um tanto atrativo, porém tenho que ser focado nessa reta final. Tenho claramente meu objetivo de carreira como os Jogos Olímpicos. Quem sabe nos próximos anos.
 
Sobre o League assumo que tenho pegado bastante gosto, assisto muito aos jogos aqui,  e é um esporte muito maior que o Union na Austrália, exige uma preparação física diferenciada, e propõe um jogo muito dinâmico e divertido, tenho vontade de fazer algumas práticas, de repente se surgir a oportunidade, por que não?
 
Acho que esse intercâmbio pode ser positivo para melhorar habilidades específicas, por exemplo em um jogo de League ha um número muito maior de tackles que um jogo de Union e um tackle diferente muito mais agressivo, que pode ser aproveitado no Union.
 
 
PdR: Como acha que essa mudança pode influenciar no seu futuro rumo aos Jogos Olímpicos? É esse seu maior objetivo?
 
DL: Sem duvida nenhuma meu objetivo de carreira são os Jogos Olímpicos de 2016. Acredito que a mudança de ares, a experiência em outra equipe, disputar outros torneios e aprender coisas novas podem me agregar e muito para seguir evoluindo como jogador, me fortalecendo física e mentalmente.
 
Sou um atleta que está na seleção brasileira desde 2003 (juvenil), 2006 (adulto) e 2008 (Sevens), e às vezes, por mais que nos puxemos e tenhamos grandes motivações como Rio 2016, o mesmo ambiente e rotina, as mesma dificuldades e problemas de sempre  encontrados no Rugby brasileiro podem ser uma armadilha no caminho da evolução constante.
 
Inconscientemente podemos nos acomodar ou ficar presos em velhos hábitos, estagnar, e isso pode atrapalhar nosso constante processo de crescimento como jogador. Vim para cá focado em dar um salto em meu jogo, visando agregar cada vez mais ao grupo da seleção Brasileira e também trazer conhecimento e visões diferenciadas para o clube no Brasil.
 
 
PDR: Quais seus objetivos pós-2016? Vai seguir se dedicando mais ao Seven? E qual a postura do Pasteur diante dos seguidos compromissos extra clube?
 
DL: Tive a escolha de dedicar a vida ao Rugby muito cedo, e para tanto, abri mão de muita coisa no meio do caminho, inclusive de poder me dedicar tanto ao meu clube, à minha carreira profissional e também a minha família e vida social. Infelizmente nossa realidade no Brasil ainda castiga muito os que desejam viver do Rugby e nos força a levar o Rugby como secundário muitas vezes. Meu desejo real era poder me dedicar por completo ao Rugby até meu corpo aguentar, viver de Rugby, porém tenho claro que o que estou fazendo hoje é temporário e, inevitavelmente, em algum momento depois desse sonho terei que focar meu caminho em outros setores da minha vida, como minha carreira profissional, pós-atleta por exemplo.
 
Pretendo me formar e seguir no meio, talvez não mais como jogador mas sempre envolvido com o esporte que mais amo de alguma maneira. O Pasteur não tem uma postura definida com relação ao tema, acredito que o meu clube e muitos clubes no Brasil não aproveitam de maneira adequada seus atletas de seleção que, apesar de não poderem estar presente em muitos jogos e treinos por seus compromissos, podem ser utilizados de outras maneiras visando transmitir um pouco da experiência e aprendizados que tem com o Rugby internacional, nas categorias de base e nos planos e diretrizes técnicas da equipe.
 
Muitas vezes,  ao invés de apoiarem e darem suporte aos esses jogadores  para poderem seguirem melhorando e representando o clube na seleção brasileira , sendo exemplos dentro do clube aos mais novos, simplesmente são encarados como um jogador pouco presente pelos dirigentes.