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Quem já visitou a Argentina – ou tem um mínimo de conhecimento útil sobre o espanhol falado nas Províncias Unidas do Rio da Prata – sabe que pancho, com “p” minúsculo, é a terminologia corriqueira para identificar um cachorro-quente, o sanduíche. Mas acontece que Pancho, com “p” maiúsculo, pode ser também o apodo para quem foi batizado com o nome de Francisco.

E um Pancho em especial, mais precisamente Francisco Atahualpa Bouzas Sanchis – vem causando frisson  na elite do rugby brasileiro. Abertura habilidoso, Pancho atua pelo Armstrong Dragons (Natal/RN), equipe que faz neste 2014 sua estreia no Super 10 depois de uma excelente campanha na Copa do Brasil (agora Taça Tupi) do ano passado. Natural de Mar del Plata, litoral argentino, ele veio para o Brasil em 2002 por conta da crise econômica que acometia a Argentina. “Meu pai trabalhava em Fernando de Noronha e nós [irmãos] fomos pra lá. Mas por falta de estrutura na cidade, acabamos indo para Natal pouco tempo depois”, conta.

Diferente do que se poderia imaginar, Pancho não começou a jogar na Argentina, senão no Potiguar Rugby em 2010. Mas foi apenas em 2012, com a chegada do italiano Franco Fiaschi a Natal, que os treinamentos começaram a ser tomados mais a sério. “Fiz a pré-temporada de 2013 no San Ignácio, de Mar del Plata, e acho que ver 80 pessoas em um treino físico foi algo que me saltou aos olhos. É evidente que o rugby argentino está na frente do brasileiro, mas com um bom planejamento não há razões para o Brasil não chegar lá um dia também”, opina.

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Rugby no Nordeste

“O rugby aqui em Natal ainda não é tão grande. Não há muitas equipes nem muitos atletas. Talvez por isso não haja ainda um reconhecimento significativo. Aos nossos jogos conseguimos levar os familiares, os amigos e a garotada do projeto social do time pra assistir. Mas ainda não é aquilo que esperamos. Mas acredito que com mais alguns anos disputando a elite do rugby nacional isso vai mudar”, analisa Pancho, que ao mesmo tempo ressalta a importância de um clube nordestino figurar no Super 10: “isso incentiva outras equipes da região a traçarem maiores objetivos e procurarem se desenvolver. Os atletas acabam ganhando mais visibilidade também, aumentando as possibilidades de uma possível convocação para as Seleções Brasileiras”.

O desempenho do Armstrong Dragons

Antes de estrear no Super 10, o Armstrong Dragons participou do I Torneio Tri-Nations de Mônaco, na Europa, como forma de preparação. E o resultado não poderia ter sido melhor: o time potiguar sagrou-se campeão do certame tendo disputado cinco partidas e vencendo três delas.

E mesmo não tendo nenhuma vitória até o momento no Super 10, as partidas do Armstrong Dragons chamam a atenção dos espectadores pela garra e entrega de seus jogadores. Na próxima rodada, os de Natal recebem o SP Bandeirantes Sarracens – que vem de duas derrotas – e, na seguinte, viajam para enfrentar o Niterói, que igualmente não conquistou vitórias no campeonato.

Perguntado sobre as chances da primeira conquista, porém, Pancho manteve os pés no chão. “Se a gente quiser atingir os objetivos do ano, essas chances de vitória têm de virar realidade. Mas nenhuma das três equipes está bem no campeonato, eles vão dar tudo pra conseguir vencer a gente”, pondera.

Sobre objetivos, Pancho deixa claro que o Armstrong Dragons não briga – ou brigaria – por título, mas sim para permanecer na elite do rugby brasileiro figurando no Super 8 do próximo ano. Para o jogador, a menor experiência do time potiguar é um fator em contra, mas enfrentar de igual para igual equipes com tradição no País é nada mais do que uma obrigação.

Sobre seu desempenho pessoal (são 33 pontos, sendo dois tries, quatro conversões, dois drops e dois penais) Pancho também é político: “fico feliz por conseguir marcar pontos e ajudar a equipe. Mas o que me motiva a melhorar não são os acertos, e sim os erros. Ficarei muito mais feliz quando a gente conseguir sair com a vitória e perceber que há menos coisas para serem corrigidas”.