São José x PAC Super 10 2012 copiar

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São José x PAC Super 10 2012 copiar 

O Portal do Rugby inicia hoje sua prévia para o Super 10, o Campeonato Brasileiro de Rugby, que começa no dia 15 de junho. A cada semana daqui para frente entrevistaremos um personagem de cada um dos clubes do Super 10. Hoje, começamos com Maurício Coelho, da comissão técnica da seleção brasileira e do São José Rugby Clube, campeão das últimas três edições do Campeonato Brasileiro!

 
– O São José segue invicto no Paulista e pode voltar a conquistar o título. Como a campanha realizada no estadual influencia na preparação da equipe para o nacional?

O São José vem trabalhando muito forte para reconquistar o Campeonato Paulista. No ano passado tivemos uma única derrota e ficamos sem o título. Nesta temporada, os trabalhos para o torneio regional já receberam uma carga de treino maior que nos anos anteriores. Acredito ser muito importante chegarmos com um nível de jogo maior já na reta final do paulista. O torneio nacional tem muitos jogos (comparado com o ano passado) e isso impede um grande volume de treinos de alta intensidade durante toda a temporada, sob risco de lesionar muitos atletas mesmo em treinamentos. Dentro desta nova tendência, acredito que o quanto antes a equipe estiver bem preparada, menor será a necessidade de treinos intensos na reta final da temporada.

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– Quais vem sendo os pontos fortes e os pontos deficientes da equipe até aqui em 2013? O que vem sendo trabalhado especificamente para o Super 10?
O ponto forte do clube nesta temporada vem sendo a capacidade de adaptação da equipe do ponto de vista tático/estratégico em relação aos adversários. Equipes como o SPAC, Pasteur e Band (exemplos de equipes que enfrentamos no paulista) tem estilos de jogo muito diferentes cada um. O sistema de defesa e ataque precisa ajustar suas estratégias para cada adversário e a equipe vem mostrando esta virtude. Como pontos deficientes da equipe acho que os lançamentos (scrum e lineout) ainda precisam de maior desenvolvimento, assim como a equipe precisa ser mais constante dentro de campo. Ainda não estamos trabalhando especificamente para o Super 10 , nosso foco está no paulista. Mas, até lá vamos identificar as debilidades que a equipe apresentou ao final do torneio regional.
 
 
– Mais difícil do que chegar ao topo é se manter nele. Qual a filosofia que norteia o trabalho do São José para se manter tanto tempo no topo?
Sempre falamos isso nas conversas internas, a dificuldade de se manter no topo é tão grande quanto chegar lá. Algumas pessoas brincam com a gente dizendo: “mas vocês querem ganhar o campeonato de novo? nem tem mais graça”. Para nós do São José, que já enfrentamos todos os grandes clubes do país e sofremos derrotas contundentes (já perdemos de mais de 80 pontos para o Rio Branco, contra o Bandeirantes não conseguíamos pegar na bola), esta nova fase de vitórias veio com muita doação, comprometimento e custou um preço muito caro para nós aqui em São José. A superação frente a um cenário difícil e com remotas chances de mudança exigiu uma capacidade de entrega pelos atletas que marcou muito o clube. Treinamos como ninguém, corremos como ninguém, nos esforçamos como ninguém e chegamos onde ninguém chegou. Esta história é relembrada em todos os treinos do time, pelas atitudes de cada um em respeito aqueles que se doaram para colocar o clube onde ele está hoje. As pessoas que estão jogando hoje pela equipe são constantemente cobradas deste respeito pelos que já se esforçaram ali, pelos que trabalharam fora de campo, por todos aqueles que fazem e fizeram parte do clube. Isso é que nos mantém no topo e que nos faz ganhar os títulos.
 
 
– Quais as diferenças do São José de 2013 para o de 2012? Quais as dificuldades que o time espera para o Super 10? 
O time tem algumas mudanças no seu elenco. Isso sempre ocorre a cada temporada no clube. É importante trazer novos integrantes para o plantel a cada ano, pois o jogador precisa de uma temporada no clube para se ambientar, adquirir o ritmo do grupo, entender seus valores e respeitá-los. A partir daí ele começa a buscar seu espaço dentro do time. Nossa proposta de jogo, que começamos a colocar em prática em 2012, vem sendo aprimorada em 2013. Temos um estilo de jogo muito dinâmico, sempre buscando as oportunidades que a equipe adversária nos oferece ao invés de forçar a criação de determinadas situações. Para a temporada do nacional em 2013 acredito que a equipe vai apresentar um rendimento mais constante nos jogos e esperamos que este fator nos ajude a superar as dificuldades impostas pelos adversários.
 
 
– Como vem sendo a relação do clube com o poder público e com a cidade? E como o clube vem trabalhando para atrair torcedores nos dias de jogos e atrair a atenção da mídia local?
Nossa relação com o poder público e com a cidade vem sendo muito boa. Através de um trabalho sério e comprometido dos nossos projetos nas categorias de base, não somente o poder público e a cidade, como também a iniciativa privada estão satisfeitos com as parcerias mantidas com  o clube. Em relação aos torcedores e mídia local, estamos trabalhando para mudar esta situação, que acreditamos ser um ponto fraco do clube: ter um espaço adequado para receber o público que gosta de rugby. Atualmente estamos mandando os jogos no Teatrão, que hoje não tem condições adequadas para atender às necessidades. Faltam lugares para acomodação, vestiários adequados, opções de alimentação e serviços. Estamos trabalhando para que esta situação mude rapidamente. Desta forma poderemos atrais mais torcedores e simpatizantes do rugby, além da mídia local e regional.
 
 
– O São José vem divulgando imagens de um novo local de treinamentos há algum tempo. Pretende mandar seus jogos no novo local manter no tradicional Teatrão? Quais vantagens que cada local tem para o São José. 
O novo centro de treinamento é uma promessa antiga dos governos municipais da cidade. Mesmo com a transição da situação no comando da prefeitura, seguem as obras desta nossa nova casa. Trata-se de uma estrutura que vai permitir a instalação da sede administrativa do clube, academia, vestiários, refeitório, departamento médico/fisioterapia, lavanderia e futuramente os alojamentos e campo oficial. Acredito que ainda este mês o clube irá receber as chaves do prédio, mas ainda não será entregue o campo de jogo oficial, que deverá ficar pronto somente no segundo semestre. O clube irá mandar seus jogos em outros campos, não somente no Teatrão, que como já comentado, não oferece as condições necessárias para receber o público do rugby. Mesmo depois de entregue a nova sede e o campo, a intenção é de permanecer no Teatrão, com suas escolinhas e equipes de rendimento, ampliando nosso trabalho com a criação de escolinhas também na nova área do clube. Ambos os locais são importantes para o clube, pois são regiões distantes entre si na cidade e que tem como características determinante para nós serem bairros residenciais, como muitas crianças por perto.
 
 
– Além do plantel formado nas categorias de base. o São José conta com Nelson, que atuou pelo Ilhabela no começo do ano, e já teve Matheus, do Jacareí, entre seus jogadores. Como funciona esse intercâmbio de jogadores?
O São José mantém um intercâmbio com algumas equipes do país. Quando o clube traz alguém para compor seu elenco, não o faz por necessidade interna somente. Felizmente hoje contamos com uma estrutura que permite oferecer ao atleta aquilo que ele precisa. Os jogadores recebem casa, comida, academia, treinos de atletismo e bolsa de estudos na faculdade. Trata-se de uma continuidade do processo de apoio ao potencial atleta de alto nível, que quer se dedicar ao rugby. Este processo de apoio começa nas categorias de base, onde temos o acompanhamento escolar, oferecemos bolsas de estudo em escolas de língua estrangeira, apoio médico (consultas, exames). Atualmente os atletas do Jacareí que atuavam no clube (Julio e Matias) já estão de volta ao seu clube de origem, mostrando um crescimento do clube que deve ser tomado como referência no país. Hoje temos atuando no clube 6 atletas que tiveram origem fora e que buscaram nosso clube para crescer junto com ele. Duda e Nelson (Ilhabela), Lucas e Gabriel (Curitiba), Nico (Floripa) e o Fábio (Ilhabela), que teve uma lesão grave no joelho e está se reabilitando no departamento médico do clube desde o início do ano. Não se trata somente de trazer bons jogadores para fortalecer o plantel, mas também de oferecer uma estrutura que permita cada um seguir crescendo na vida e depois de 4 ou 5 anos no clube eles terem uma opção de vida profissional. A obrigatoriedade de estar estudando para participar deste intercâmbio é inegociável para nós.
 
 
– O São José conta hoje com muitos atletas nas seleções nacionais. Como vem sendo a relação e o diálogo com a CBRu e com a comissão técnica da seleção?

Estamos vivendo um período de muitas mudanças dentro do rugby nacional,  como a profissionalização da confederação, a criação de novas federações e o crescimento do número de clubes. É inevitável que novos problemas comecem a aparecer. Teremos mais jogos dentro de cada competição (regional ou nacional), a seleção terá cada vez mais compromissos e os jogadores de alto nível precisam acompanhar estas mudanças. Cada clube também precisa gerar mais atletas de alto nível (responsabilidade dos clubes), à partir também de um apoio das federações e confederação. No caso do São José, temos feito todo o esforço para apoiar ao máximo as seleções. Temos um grupo grande de atletas, o que nos permite tal política, mas o processo de profissionalização também alcança os clubes. Não temos jogadores recebendo salários, mas a estrutura de comissão técnica, gestão de projetos e cargos administrativos está profissionalizada no clube. Com um grande aporte financeiro, o clube precisa honrar seus compromissos e deveres frente aos patrocinadores e envolvidos, nos obrigando em alguns momentos a atuar com seus principais atletas. A relação com a CBRu e a comissão técnica vem melhorando nos últimos tempos. Acredito que graças ao bom senso e inteligência de ambos os lados, frente a leitura coerente da nossa realidade (precisamos de uma boa seleção, mas os clubes também precisam de bons jogadores para seguir crescendo e criar novos talentos) o diálogo vem ocorrendo de maneira mais aberta e lógica.

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