Foto: Jaguares

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ARTIGO OPINATIVO – O Super Rugby precisa se perguntar qual é de fato seu projeto. Repensar o que quer para si, qual futuro enxerga para suas equipes num mundo oval cada vez mais difícil de se reter atletas pela pressão dos clubes europeus.

O que se viu no mata-mata do Super Rugby – mas que não é novidade alguma – foi uma absoluta falta de visão no que diz respeito ao crescimento homogêneo de suas equipes, espalhadas por fuso horários que chegam a 15 horas de diferença (da Argentina para a Nova Zelândia).

Não é possível pensar no sucesso comercial – e, portanto, de audiência da liga, cobertura midiática, anseio do público – quando a única equipe da Argentina (país que tem mais atletas de rugby do que a Austrália) tem que se sujeitar a disputar partidas que são às 4h35 da manhã para seu público. Como fazer com que uma final de competição seja um sucesso completo quando ela está sendo transmitida de madrugada (no pior horário possível) para um de seus finalistas?

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Tal absurdo ocorre regularmente ao longo das temporadas desde a criação dos Jaguares. Quando os argentinos jogam na Nova Zelândia, atuam às 4h35 da manhã no horário argentino. E isso evidentemente faz com que os Jaguares não atinjam seu máximo potencial dentro da Argentina – onde a concorrência com o futebol é cruel.

Mas há solução? É lógico que há. Caso o jogo fosse às 13h no horário neozelandês (horário do almoço, que não tende a ser ruim para a TV local, sobretudo durante o inverno), ele ocorreria às 22h no horário argentino – mais do que aceitável. 13h30 (22h30) ou 14h00 (23h00) também seriam aceitável, tornariam possível e lógico um maior alcance da partida dentro da Argentina.

Mas, por que isso não ocorre? A resposta é exclusivamente o interesse neozelandês. As tardes de sábado são recheadas de rugby amador nesse período, com as noites reservadas para o rugby profissional. Evidentemente, há soluções: a transferência para o domingo 13h ou 14h seria certamente uma. “Ah, mas é cultural, eles assistem só no sábado!”. Oras, se sua final não é importante o bastante  para uma mudança nada radical como essa, então desculpe, mas é melhor desistir do profissionalismo. Da mesma maneira, adaptação da rodada de sábado seria outra solução, com jogo amadores antecipados para a manhã ou para os fins de tarde, por exemplo. Ou mesmo a mudança da data da rodada, uma vez que há semanas vazias no calendário amador e apenas uma equipe exigira uma mudança atípica e pontual: os Jaguares.

O Super Rugby é uma competição cuja final é na casa do time de melhor campanha, o que significa que a sua sede não é conhecida até uma semana antes de ocorrer. Isso significa que as TVs já sabem que ela é maleável. Não tem horário canônico. E, portanto, é passível de negociações. Mas é preciso interesse.

O projeto da SANZAAR (organizadora do Super Rugby) é ininteligível hoje. Da mesma maneira que esnoba o potencial de crescimento oferecido pela Argentina (e isso inclui o mesmo sórdido e míope horário das 4h35 sendo usado para o jogo All Blacks contra Pumas), a SANZAAR ainda teve a capacidade de ejetar a franquia japonesa do Sunwolves do Super Rugby – anunciando a exclusão do time de Tóquio (cidade com população maior que Austrália e Nova Zelândia somadas) em pleno ano que o Japão recebe a Copa do Mundo (portanto, ano dourado para o crescimento por lá do interesse pela bola oval).

A exclusão dos japoneses é um capítulo esdrúxulo de falta de projeto. De um lado, a União Japonesa de Rugby desistiu da franquia por não conseguir financiá-la. De outro, depois de ter obrigado os Sunwolves a jogarem todos os anos algumas de suas rodadas em Singapura (cuja população, chinesa etnicamente, não tem nenhum interesse em apoiar um time japonês de rugby), a SANZAAR não buscou nenhuma solução para não precisar sair da Ásia. Bem no momento que a SANZAAR apoiava o World Rugby em sua empreitada de construir uma Liga Mundial de seleções, com os países do Hemisfério Sul desesperados por novas receitas, o Super Rugby abandonará o continente mais promissor economicamente no mundo. E bem no momento que esse continente recebe a Copa do Mundo. Nos bastidores, culpam-se os sul-africanos pela exclusão dos japoneses, por considerarem o pais asiático muito distante. Entretanto, os mesmos sul-africanos resolveram migrar parte de seu rugby profissional para a Europa e, até agora, de forma desastrada, com Cheetahs e Kings colecionando públicos pífios no PRO14.

O futuro do Super Rugby é assunto delicado. Mas, certamente, um primeiro passo para começar a melhorar é ter um projeto sólido, tanto de curto como de longo prazo, para TODAS as regiões que ele quer atuar. E isso passa necessariamente por trabalhar melhor a exposição dos Jaguares – que dentro de campo provaram que podem saltar muito alto.