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O artigo abaixo, escrito com maestria por Frankie Deges para o site A Pleno Rugby e traduzido da melhor forma possível por Daniel Venturole, tem como pano de fundo um fato recente ocorrido em uma partida entre equipes da URBA, quando o árbitro da partida foi agredido por um dos jogadores que não concordou com a marcação de um penal. 

O fato é que ele cai perfeitamente no Rugby brasileiro, não só pela questão do respeito ao árbitro, mas também passa pela formação de árbitros no país, que vejam só, é também um dilema na Argentina, uma das potências mundiais do esporte.

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Abaixo o artigo.

 

É muito fácil se fazer de desentendido e dizer que nunca nesta vida, proferimos algum insulto contra um árbitro. É impossível encontrar em qualquer esporte alguém que nunca xingou um árbitro. 

Assim como é natural – nõa aceitável, duas coisas totalmente distintas – que se culpe a quem se encarrega de fazer justiça punindo os erros próprios de uma equipe, é necessário entender que, sobretudo em um esporte de contato e de tanta ação quanto o Rugby, não se pode jogar sem um árbitro.

É muito mais simples partir da premissa que “o árbitro tem sempre razão.” Provem, funciona e diminui o nível de exacerbação, diminui os decibéis da gritaria e se aproveita melhor a partida.

O Rugby necessita de alguém com um apito controlando a partida. O contato controlado não gera violência. O contato indiscriminado pode resultar em uma briga, que é justamente o pior extremo do nosso esporte ovalado. Então, sem árbitro, não se pode jogar Rugby. Simplesmente não se pode. 

No último sábado, no bairro La Lonja, jogavam Los Pinos e Virreyes RC, pelo grupo IV da URBA. Faltava pouco menos de um quarto da partida por jogar, e o árbitro Diego Achával cobrou um penal contra a equipe local. Um dos centros do Los Pinos gritou: “Marcou o que, boludo?” Achával não hesitou e expulsou o jogador. Em seguida, o jogador agrediu o árbitro, que ficou estendido no chão.

Nocaute e suspensão da partida. Que o agressor se prepare para viver o resto de sua vida com vergonha de seu ato e longe dos campos de Rugby. Não há forma de reduzir punições deste tipo, não há atenuantes que o valham. Aquele que agride um árbitro não entendeu nada do que lhe ensinaram. Que vá para bem longe do Rugby.  

Muito custa  conseguir árbitros. Se joga por todo país muito mais partidas do que a quantidade de árbitros disponíveis. Na URBA, por exemplo, os números são claros: existem entre 230 e 250 árbitros qualificados e filiados à Associação de Árbitros da URBA para conduzir uma partida de maneira oficial. 

Os números não fecham nunca, já que em cada fim de semana ocorrem entre 400 partidas de juniores e adultos – todos com a devida importância para quem disputa a partida, treinadores e pais, além do risco que um esporte de contato implica e que requer gente capacitada com o apito na boca. 

Em 2010, a URBA aprovou a norma 56, na qual os clubes se comprometiam (na realidade era uma obrigação) a apresentar à Associação de Árbitros da URBA* um árbitro qualificado para cada três equipes inscritas. Essa norma está longe de se cumprir, principalmente nos clubes com mais equipes. Também não se cumpre – salvo poucas agremiações – nos clubes com poucas equipes, e os árbitros nunca são suficientes. 

Como solução temporária, determinou-se para os juniores e partidas Pré-Intermédia, o plano de árbitros residentes. Treinados no básico – devem participar de uma sessão de quatro horas – podem arbitrar partidas se o árbitro oficial estiver ausente, ou no geral, se encarregam dos times B quando houverem. Atualmente, existem cerca de 600 árbitros residentes. 

O enorme desafio – e o que ocorreu em Los Pinos, assim como o maltrato constante que os árbitros constumam sofrer nas partidas, dentro dos clubes e até nos terceiros tempos – é a capacitação. Com maior captação de possíveis árbitros, é mais simples a formação, e a partir daí se pode pensar no Alto Rendimento no referato. O Rugby cresce e é chave que o número de árbitros acompanhe esse crescimento.

As portas estão abertas para todos aqueles que querem se aproximar e contribuir. Aqueles entre nós que já não utilizamos chuteiras, sabemos que não há nada como jogar Rugby, e os árbitros jogam. Falem com eles, e eles lhe dirão que jogam tanto quanto qualquer equipe. São parte do esporte e em sua maioria, foram jogadores no passado. Escolheram seguir em contato com o jogo de um lugar diferente, muito mais perto do que qualquer outro, e há que agradecer-lhes . Não é fácil abandonar as cores do clube, mas eles o fazem todo sábado e domingo, onde forem necessários. É necessário saber que para esse árbitro, às vezes alvo do mal-humor de um jogador, treinador, torcedor, não basta armar-se de cartões e ir para a partida. Existem treinamentos físicos e técnicos, capacitações, acompanhamento e coaching. É notório que se tenta elevar o nível constantemente.

A agressão física não é habitual, e no Rugby da URBA, o último a ser vítima foi Francisco Pastrana, hoje o melhor árbitro do país. Em 2006, quando começou sua carreira, um jogador de San Antonio de Pádua, em uma partida contra Mariano Moreno o agrediu fisicamente. Recebeu 99 ANOS DE SUSPENSÃO. Se isso houvesse o espantado e afastado do Rugby, ele poderia voltar ao Hindú (sérias lesões no joelho acabaram afastando-o do jogo) ele não teria aproveitado todas oportunidades que surgiram. 

É chave para o Rugby, que todos repudiem ações como estas. O artigo 25 da regra 12 descreve condutas e sanções para o tipo de agressão do jogador do Los Pinos.

25.1 Contestar penais: suspensão de quinze dias até um ano. 

25.2 Faltar com respeito, ou zombar: suspensão de três meses até três anos.

25.3 Insultar: suspensão de seis meses até cinco anos.

25.4 Ameaçar: suspensão de um até dez anos.

25.5 Tentar agredir de fato: suspensão de dois a quinze anos

25.6 Agredir de fato: suspensión de cinco anos até banimento

O Rugby sempre tem razão. E se não tiver, viva por esse lema. Assim é muito mais fácil. Muitíssimo mais fácil para desfrutar da partida. 

 

Por Frankie Deges

 

*Nota do PdR: a LIPAR realiza ação semelhante, em caso que parece único no país. 

 

Fonte: A Pleno Rugby