Tempo de leitura: 5 minutos

Muito tem-se especulado sobre os motivos que levaram o campo da UFRJ, o olímpico, parte de um legado-elefante-branco da Rio2016, a tornar-se o que é atualmente: um terreno baldio ao lado de dois campos muito bem cuidados de hóquei.

Nesta semana, Guto Senra, jogador histórico do estado e criador do O’Jays, foi ao campo e filmou a situação:

Alarmado com o estado do campo, Vinícius Guedes, colaborador do Portal do Rugby no Rio de Janeiro e árbitro no estado, entrevistou o presidente da Federação Fluminense de Rugby sobre o assunto. Confira!

- Continua depois da publicidade -

 

Vinícius Guedes: Por que o campo olímpico ficou interditado na segunda metade de 2017?

Edgard Freitas: O campo esteve interditado durante março e abril de 2017. A partir de maio, por iniciativa minha e do Nicolas Folliet, iniciamos o tratamento no campo. Estabelecemos um acordo de 6 meses para experiência com o campo. O período foi encerrado em dezembro de 2017, e não houve avanço desde então.

VG: Como vocês conseguiram utilizá-lo depois de um tempo de interdição?

EF: Nós fizemos investimento pessoal na compra de maquinário e insumos, além da contratação de um jardineiro para cuidar do gramado, entorno do campo e pintura. Através do acordo, nos dispusemos a cuidar da grama e pintura e o entorno direto, e a UFRJ ajudaria na coleta de grama cortada e demais estruturas.

VG: Por que o campo está interditado e abandonado atualmente?

EF: Com o fim do período proposto, reuniões aconteceram a fim de estabelecer uma parceria mais longa com apoio de patrocinadores. Porém o acordo formal só poderia ser firmado com a CBRu, segundo nos foi informado em reunião com presença da diretoria da EEFD e da PR6 (Pró-Reitoria de Gestão e Governança).

Abro aqui um parêntese para incluir a informação de que a CBRu não queria que a Federação Fluminense negociasse diretamente com a Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ porque havia um interesse da mesma em intermediar este processo e ser o maior responsável para o sucesso dele: sugestão direta do ex-presidente Sami Arap Sobrinho. Nada foi feito, o tempo passou, o prazo esgotou-se e nem a CBRu, nem a FFRu e tampouco a EEFD conseguiu dar um lar para o campo olímpico.

VG: Quais eram os custos de manutenção à época?

EF: Os custos de manutenção, como conseguimos fazer era de vencimentos de um jardineiro, cerca de R$ 1.300 por mês, compra de insumos que giravam em torno de R$ 1.000 mensais, além da compra de maquinários, que diluído no período, incorreu mais R$ 2.500 mensais. Esses custos eram somente os mensuráveis, pois alguns custos extras para coleta de lixo e diárias extras para cuidado no entorno, além de reposição de patrimônio roubado, incidiu ainda a quantia de R$750 mensais e ainda tínhamos o custo de R$1.400 mensais para gestão e translados de equipamentos. (Foram roubadas algumas lâmpadas refletoras, que custam o valor variado de R$ 130 a R$ 500, dependendo da marca).

VG: Quem arcava com estes custos?

EF: Esses custos, na maior parte foram arcados pelo senhor Nicolas Folliet, outra parte por mim. E buscamos repor os gastos com taxa cobrada pelas equipes para jogar e treinar no campo, a fim de minimizar os custos.

VG: Por que não arcam atualmente?

EF: Desde que se encerrou o período de cuidado-teste com o campo, não houve avanço na relação, além do jardineiro nos ter relatado rompimento de algum encanamento que nos vetou a possibilidade de seguir com irrigação do gramado. Alguns incidentes ocorreram nesse período, como o quase cancelamento da execução do SuperSevens 2017 no local por ventura à época de uma aula de pós-graduação marcada para o campo no mesmo dia. Esse episódio, entre outros, abalaram a vontade de seguir arcando com os custos e seguir com o trabalho.

VG: Lembro-me da ideia de colocar uma empresa de segurança para vigilância do campo nos dias que não usássemos e também da impossibilidade de colocar faixas, cartazes, angariar patrocinadores sem ser por licitação por motivos de ser patrimônio público. O que mudou desde então?

EF: Com a celebração da parceria, informada pela instituição que somente poderá ser feita via CBRu, poderíamos explorar publicidade, pois não seria isto negociado pela UFRJ e sim pela instituição privada (CBRu) diretamente com possíveis apoiadores e patrocinadores. Sobre a empresa de segurança, o orçamento menos caro que tivemos era na casa dos R$ 15.000 mensais, o que era impossível, além de representar temeridade por ser dentro da UFRJ, uma segurança privada de terceiros, as implicações seriam enormes.

VG: Há alguma previsão de o campo voltar a ser utilizado?

EF: Estamos seguindo com esforços nesse sentido, vamos continuar a buscar o acordo com a CBRu e patrocinadores, mas o apoio da UFRJ é fundamental e necessário, pois a estrutura física além do gramado incorre mais processos delicados, no que precisamos da ajuda na manutenção. É bem mais complexo do que pode imaginar.

VG: O que é preciso para o campo voltar a ser palco principal do rugby fluminense, com amistosos, clínicas, aulas de rugby pela UFRJ, treinos e muito mais?

EF: Precisamos avançar com essa formalização e ter mais pessoas do nosso estado engajadas e envolvidas no cuidado do campo, pois será bem difícil por iniciativas isoladas. Tentamos esse caminho e os esforços não foram suficientes, além de que, somente conjuntamente daremos um sentido de pertencimento e proteção que ‘nosso’ campo precisa.

VG: De que maneira a federação pretende engajar os clubes na manutenção do campo?

EF: É necessário que todos os clubes entendam a necessidade de cuidar e se engajar para que o campo seja patrimônio do Rugby Fluminense. Pretendemos que todos se envolvam no dispêndio e entendam o quão delicado é esse cuidado. Não é fácil nem barato manter um campo com esse padrão de qualidade construído. Um enorme esforço e $$$ investido, sem um bom planejamento futuro para sua correta manutenção.

VG/Victor Ramalho: Qual era o plano das autoridades que construíram o campo para o seu futuro?

EF: Não temos os detalhes das ações propostas. Só ouvíamos de forma soberba de que teria de ser um legado para nosso esporte. Houve tentativas e reuniões entre CBRu e UFRJ, porém não tiveram avanços, pois as partes não chegaram a acordos que sacramentassem a parceria.

VG/VR: E por que o plano inicial foi por água abaixo?

EF: O que conseguimos entender é que os altos custos atrelados a uma boa quantia de burocracia esfriaram as relações porém é importante que todos saibam que não é um assunto fácil. O tamanho do desafio para manter esse campo é gigante, mas temos de ter foco e trabalhar para conseguirmos ter o campo de volta para a comunidade do rugby.

 

Mais sobre a FFRu

Edgard Freitas compõe o conselho executivo formado pelos seguintes:

Conselho administrativo: Sidines Silva (Presidente), Rafael Mattos – BT, Nicolas Folliet e Damon Freeman

Conselho convidado: Bianca Zaroni, Suellen Machado, Raphael Pires e Matheus Peluso

Conselheiro de arbitragem: Elias Saad

Conselheira de atletas: Andressa Contreras

Conselho Executivo: Edgard Freitas e Thiago Monte

 

Esta formação atual assumiu em 2017 e tem um mandato quadrienal, de acordo com o novo estatuto da FFRu.

Ficou com dúvidas? Comente, pergunte!