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Nesta semana, a Confederação Brasileira de Rugby confirmou que o Brasil irá enfrentar no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, as seleções de Chile (no dia 3 de fevereiro, sexta-feira, às 20h15), e Canadá, (no dia 3 de março, também sexta, às 19h15), pelo Americas Rugby Championship. Esses serão os únicos jogos em casa do Brasil nesta temporada na competição, porém mais jogos em solo brasileiro estão programados para maio, pelo Sul-Americano, e junho, pela janela de amistosos internacionais.

 

Essas serão a terceira e a quarta vezes que os Tupis jogarão no histórico estádio paulistano. A primeira vez foi em novembro de 2015, quando os Tupis receberam a Alemanha diante do público recorde de cerca de 10.500 torcedores. Depois, em maio de 2016, foi a vez do Chile sentir a pressão do Pacaembu, pelo Sul-Americano, em partida com mais de 7 mil torcedores. Nas duas oportunidades, a entrada foi de simbólico 1 kg de alimento. Porém, para os dois jogos de 2017, a CBRu optou pela cobrança de ingressos, que serão vendidos a 30 reais.

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Por que agora haverá cobrança?

O Pacaembu é um estádio municipal, mas não sai de graça. Muito longe disso. Entre aluguel e taxas, o custo de se mandar uma partida no estádio parte de 50 mil reais, podendo dobrar de valor. Isso sem contar os custos que a CBRu tem sempre com seu evento, isto é, com material promocional, brindes e outros investimentos que se tornaram marca dos eventos de rugby, com o intuito de criar a melhor atmosfera possível para os jogos dos Tupis.

 

Em 2015 e 2016, como nos explicaram Agustín Danza, CEO da CBRu, e Bernardo Duarte, diretor de torneios e eventos, a intenção da CBRu era justamente de criar um espetáculo que motivasse o torcedor a ir ao estádio apoiar os Tupis e levar pessoas novas para o rugby. O investimento era preciso. O modelo de evento de sucesso foi criado, mas para mantê-lo por anos e mais anos será preciso o apoio da comunidade do rugby para reduzir o impacto no bolso da entidade que o evento tem hoje. Como esclareceu Danza, “o dinheiro dos ingressos será reinvestido no próprio evento, isto é, os ingressos não servirão para a CBRu fazer dinheiro. Eles servirão para garantir o custeio de um evento que queremos que seja o melhor possível, oferecendo a melhor experiência ao torcedor”. E ressaltou “temos o compromisso de manter o valor congelado por pelo menos dois anos”.

 

Bernardo Duarte esclareceu ainda que um dos pontos críticos identificados no ano passado pela CBRu foi a formação de filas no jogo entre Brasil e Uruguai no Allianz Parque, que gerou insatisfação de torcedores. Para que isso não volte a acontecer, a CBRu ainda investiu na contratação de uma empresa especializada em grandes eventos, que trabalhou nos Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo da FIFA.

 

Quais os benefícios de jogarmos no Pacaembu?

Se a cobrança de ingressos é necessária para que o rugby siga no Pacaembu, qual a vantagem de se seguir no estádio? Elencamos as vantagens que o estádio apresenta:

 

  • – Localização central na maior cidade do país: maior potencial de público novo no rugby se interessar pelo evento;
  • – Presença de mais de 50 agremiações de rugby apenas na região metropolitana de São Paulo e dezenas de escolas com prática de rugby: isto é, público significativo já formado;
  • – Histórico recente de públicos entre 7 e 11 mil torcedores;
  • – Interesse e apoio da administração do estádio e da associação de moradores do bairro;
  • – Estádio sem clube de futebol mandante e com agenda aberta a novos esportes;

 

Ter uma casa? Ou várias casas?

As vantagens do estádio estão claras. Mas, qual a vantagem de se mandar a maioria dos jogos no mesmo estádio? A prática de ter um “estádio casa” é comum no rugby. Twickenham para os ingleses, Murrayfield para os escoceses, Stade de France para os franceses. No Brasil, isso é necessário? Para a CBRu, concentrar a maioria dos jogos no mesmo estádio é importante pois:

 

  • – Patrocinadores precisam da segurança de que os eventos serão sempre um sucesso;
  • – A televisão quer espetáculos com casa cheia, pois públicos pequenos causam impressão ruim ao telespectador;
  • – O dinheiro é curto, portanto, quanto maior for a certeza de público mais certeiro será o investimento;
  • – Ter um local que os atletas conheçam é sempre uma vantagem, pois a equipe se sente “em casa”;
  • – Ter um local que os adversários conheçam cria uma fama para o estádio, que pode jogar a favor;

 

Bernardo Duarte ainda deixou claro que “estamos abertos a mandar jogos todos os anos fora de São Paulo, basta termos o interesse de cidades e patrocinadores de levarem os Tupis para outros locais”. Os exemplos estão em jogos recentes. Em 2014, Volta Redonda recebeu Brasil x Uruguai. Em 2015, o Brasil jogou em Bento Gonçalves contra o Paraguai e em Blumenau contra a Alemanha, ao passo que em 2016 Macapá foi o palco de Brasil contra Quênia. Além, é claro, de São José dos Campos, que vem recebendo os Tupis com regularidade (2013 o México, 2014 o Paraguai e 2016 a Argentina).

 

A receita por enquanto parece estar em países como França e Itália, que têm um estádio “central”, onde mandam a maioria de seus jogos no ano (Stade de France, em Paris, e Stadio Olimpico, em Roma), mas jogam todo ano uma ou duas partidas em outras cidades (em 2016, foram dois jogos da Itália fora de Roma e um da França fora de Paris). É o meio do caminho entre o que faz a Inglaterra (que só mandou um jogo fora de Londres nos últimos sete anos) e o que fazem as nações do Rugby Championship (que jogam cada jogo em uma cidade, mas porque têm garantia de sucesso em qualquer lugar).
 

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