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ARTIGO COM VÍDEO – O jogo da decisão do Rugby Championship foi em Christchurch, na casa dos Crusaders, e terminou como se esperava: uma grande vitória da Nova Zelândia no maior clássico do rugby mundial. Os All Blacks foram implacável, mantiveram o incrível 100% de aproveitamento, despacharam os Springboks por 41 x 13 e levantaram um impressionante 14º título do Rugby Championship (incluindo as conquistas da era do Tri Nations) em 21 anos de disputas (o triplo dos títulos somados de Wallabies e Springboks).

 

Com só uma alteração no XV titular (Ardie Savea entrou para a posição de asa aberto em virtude da lesão de Sam Cane), os All Blacks tiveram tudo para impor o seu estilo e qualidade de jogo frente a uns Springboks que pouco fizeram nos três jogos anteriores (2 derrotas e 1 vitória). Na equipe dos sul-africana, Coetzee realizou duas alterações: Vincent Koch entra por Adriaanse (primeira linha), Pieter-Steph du Toit por Lood de Jager (segunda linha), mantendo algumas opções questionáveis na equipe principal.

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Como esperado, foi a equipe da casa a assumir o jogo e controlo da oval, onde a maior capacidade técnica, harmonia entre colegas e jogo objetivo, permitiu aos All Blacks de estarem 10 minutos consecutivos dentro do meio-campo sul-africano. Beauden Barrett foi chamado a concluir um pontapé aos postes (penalidade por falta no maul) para o 03-00 de abertura do encontro. Porém, a África do Sul conseguiu impedir que os All Blacks chegassem ao tão desejado try madrugador, o que podia criar alguma espécie de tensão para o lado da equipe da casa. Aos 14’ os Springboks tiveram uma boa oportunidade para conseguir pontos, mas um mau passe e decisão de Elton Jantjies, motivou nova perda de bola no contato (2ª em 15 minutos) e bola para os neozelandeses. Uma troca de bola de forma desconcentrada e um apoio fraco ao portador da oval, permitiu que a África do Sul conquistasse a bola numa penalidade e fosse atrás do try, que chegou pelas mãos de Bryan Habana. Após 6 fases de boas movimentações, a equipe dos Springboks conseguiu encontrar uma brecha na defesa neozelandesa, com Jantjies e Whiteley a explorarem bem o “vazio” entre Barrett e Fekitoa (converte Jantjies). Algo injusto este try, pois quem até aos 20 minutos tinha trabalho mais foram os All Blacks… mas para os boks’ conseguirem uma vitória há que fazer este jogo frio, de contra-ataque rápido e de eficácia alta. Contudo, a vantagem sul-africana só se verificou por um minuto apenas, com os All Blacks a “acordarem” e a conquistarem uma formação ordenada que em dois passes se transformou em try de Israel Dagg, sem conversão de Barrett.

 

A partir daqui, só deu Nova Zelândia, que voltou ao try, mais uma vez, a partir de uma formação ordenada (sexto try na competição com início neste setor) com Dane Coles a assistir, brilhantemente, Julian Savea para o 15-07. Vale a pena notarem a pequena finta que o hooker dos Hurricanes mete antes de acelerar para o contato, uma vez que criou um gap na defesa sul-africana, o que permite, desde logo, conseguir ter espaço para efetuar um offload (algo que verificámos nessa assistência). Um pormenor para os amantes de um bom tacleador, Ardie Svea aos 31’ consegue placar, levantar-se e realizar um turnover, demonstrando toda a sua versatilidade e velocidade de decisão. Nova investida nos últimos metros da África do Sul, sem qualquer proveito, uma vez que os All Blacks voltam a cometer um erro no contato (tackle potencialmente perigosa por Whitelock) dando possibilidade aos Springboks para avançarem no terreno e chegarem a um pontapé de penalidade transformado por Jantjies (aos 36’). 15-10 ao fim dos primeiros 40’, com um domínio territorial da Nova Zelândia, em que a eficácia dos All Blacks estava mais baixa que o costume, algo que ia acontecendo pela pressão que os Springboks faziam no ataque dos neozelandeses; a equipe da África do Sul estava mais calma que o costume, mais concentrada que em qualquer um dos outros três jogos e focada em estragar a festa dos All Blacks.

 

O recomeço de jogo teve um domínio repartido, com os sul-africanos a conseguirem estar mais de 4 minutos nos últimos 40 metros da Nova Zelândia, sem tirarem qualquer proveito… e os da casa aproveitaram para aos 48’ irem ao try: primeiro uma excelente jogada a partir de lineout, com Ardie Savea receber a bola e explorar bem o espaço (trabalho de qualidade com as pernas, conquistou 10 metros com dois adversários a tentarem-no parar), para depois Ben Smith receber uma bola à ponta, furar a linha defensiva e fazer o try do 22-10. Foi a 2ª aparição do fullback, já que a defensiva dos Springboks tem posto essa opção ofensiva neozelandesa impedimento. Aos 52’ duplo revés para os All Blacks, que cometem uma penalidade (transformada por Jantjies) e Kaino sai por lesão (possível luxação no ombro) para entrar Matt Todd. Esta substituição pode afetar a forma de jogar dos neozelandeses, que têm em Kaino o braço direito de Kieran Read, sendo necessário que Todd não permita a Kriel sair disparado nas formações ordenadas ou as tentativas de fuga de Jantjies. A saída de Strauss (que muitos apregoavam) acabou por “avariar” o lineout Springbok, uma vez que após a entra de Marx só por uma vez a bola entrou direita no corredor… a Nova Zelândia numa dessas situações conseguiu ganhar a bola no chão (por Crockett) e sair disparada, mais uma vez para a linha de try: aceleração perfeita de Ben Smith, que conquista 20 metros a partir da linha do meio-campo, para depois Aaron Smith sair do ruck sem oposição e conseguir fazer um offload no limite para o asa dos Hurricanes.

 

Os dois irmãos Savea conseguiram marcar no mesmo jogo, o que é sempre uma ocasião especial. A África do Sul, como a Argentina no jogo passado, desapareceu do encontro a partir dos 50’, com a frescura física e estilo dominante neozelandesa a vir ao de cima. À passagem do minuto 64, novo try neozelandês que aproveita uma penalidade numa formação ordenada, para chutar para o line-out e em duas fases volta a ir ao try, com Dane Coles a fazer, novamente e pela terceira vez, um passe de categoria, que Whitelock aproveitou para “enterrar” a bola dentro da área de try dos boks’ para o 34-13. As facilidades concedidas pela África do Sul são as mesmas que a Austrália ou Argentina, que não aguentaram o maior dinamismo dos neozelandeses, não conseguiram manter a oval sob seu controlo e sem que o banco de suplentes conseguisse fazer a diferença. Os All Blacks, por outro lado, têm as substituições certas para qualquer ocasião… TJ Perenara que entrou por Aaron Smith, provou isso mesmo, quando entrou para fazer diferença na linha de ataque neozelandesa e, até, chegar ao seu try aos 71’, outra vez a partir de formação ordenada (saída direta do scrum-half).

 

Final do jogo com um 41-13, os All Blacks sobem ao “trono” que lhes fugiu em 2015 e dominam, por completo, o Rugby Mundial. Uma exibição que começou tremida, mas a diferença total na formação ordenada, o equilíbrio na tackle e a maior frescura física permitiu aos neozelandeses voltar a somar uma vitória gorda. Os Springboks existiram nos primeiros 40’, mas depois acabaram por desaparecer do encontro, não conseguindo marcar mais que um try em 80’. Há vários problemas a resolver, a começar no facto de um dos asas (nº7) não ser o suficientemente móvel ou o par de centros estar completamente desconectado durante todo o jogo. Em 4 jogos a Nova Zelândia fez 169 pontos, sofreram 52, o que prova o domínio dos All Blacks no Hemisfério Sul.

 

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Nova Zelândia 41 x 13 África do Sul, em Christchurch

Árbitro: Angus Gardner (Austrália)

 

Nova Zelândia

Tries: Dagg, J Savea, B Smith, A Savea, Whitelock e Perenara

Conversões: Barrett (4)

Penais: Barrett (1)

15 Ben Smith 14 Israel Dagg, 13 Malakai Fekitoa, 12 Ryan Crotty, 11 Julian Savea, 10 Beauden Barrett, 9 Aaron Smith, 8 Kieran Read (c), 7 Ardie Savea, 6 Jerome Kaino, 5 Samuel Whitelock, 4 Brodie Retallick, 3 Owen Franks, 2 Dane Coles, 1 Joe Moody;

Suplentes: 16 James Parsons, 17 Wyatt Crockett, 18 Charlie Faumuina, 19 Luke Romano, 20 Matt Todd, 21 TJ Perenara, 22 Lima Sopoaga, 23 Anton Lienert-Brown;

 

África do Sul

Try: Habana

Conversão: Jantjes (1)

Penais: Jantjes (2)

15 Johan Goosen, 14 Bryan Habana, 13 Jessie Kriel, 12 Juan de Jongh, 11 François Hougaard, 10 Elton Jantjies, 9 Faf de Klerk, 8 Warren Whiteley, 7 Teboho Mohoje, 6 Francois Louw, 5 Pieter-Steph du Toit, 4 Eben Etzebeth, 3 Vincent Koch, 2 Adriaan Strauss, Tendai Mtawarira;

Suplentes: 16 Malcolm Marx, 17 Steven Kitshoff, 18 Lourens Adriaanse, 19 Franco Mostert, 20 Willem Alberts, 21 Jaco Kriel, 22 Morne Steyn, 23 Damian de Allende.

 

 

PaísJPPaísJP
Grupo AGrupo B
Austrália38Nova Zelândia39
Fiji37França37
EUA36Espanha35
Colômbia33Quênia33
Grupo C
Grã Bretanha39
Canadá37
Brasil35
Japão33Veja mais

 

SeleçãoPJVED4+-7PPPCSP
Rio Grande do Sul
1433002011512103
Paraná103201201131499
Rio de Janeiro
53102103191-60
Santa Catarina
03003000142-142

 

Escrito por: Francisco Isaac

Foto: Anthony Au-Yeung/Getty Images)