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ARTIGO COM VÍDEOS – Receber a camisa dos All Blacks e deixá-la em um lugar mais alto é certamente uma das tarefas mais difíceis do mundo, afinal ela já está no lugar mais alto possível. Neste sábado, o mundo testemunhou mais um feito histórico de uma geração de All Blacks que conseguiu elevar um rugby vitorioso a níveis nunca antes vistos.

 

A Nova Zelândia chegou para a sua última partida em casa em 2016, contra a Austrália, com um recorde a bater. Jamais na história uma seleção do primeiro escalão mundial havia alcançado 18 vitórias consecutivas em partidas oficiais. Até então, a marca de 17 vitórias seguidas se mostrava como um verdadeiro tabu, tendo sido alcançada outras duas vezes pelos All Blacks e uma vez pelos Springboks, sem jamais ter sido quebrada. Mas, o local para a 18ª vitória neozelandesa era mais que especial, o Eden Park, em Auckland, onde jamais na era profissional os All Blacks foram derrotados. Tendo perdido no estádio de Auckland pela última vez em 1994 e defendendo uma invencibilidade contra os Wallabies em jogos em casa de 15 anos, os All Blacks venceram com placar elástico, 37 x 10, mas não sem antes verem os australianos flertarem com a virada no placar.

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A partida começou com a Austrália jogando logo fora o primeiro penal, com Foley aos 4′. Implacável, a Nova Zelândia mostrou seu irresistível jogo coletivo de mãos aos 6′, com direito a passe de costas de Kieran Read, grande corrida de Ben Smith e finalização de Israel Dagg na ponta, cravando o primeiro try da peleja. O impacto do try relâmpago foi logo acusado pelos Wallabies, que viram os All Blacks caírem para o segundo try já aos 10′, com Lienert-Brown fazendo após saída de scrum, punindo a péssima linha defensiva formada pelos visitantes. Beauden Barrett, no entanto, não estava bem nos chutes, e com duas conversões perdidas o placar ficou em magros 10 x 0.

 

Próxima ainda no marcador, a Austrália teve a paciência para reequilibrar as ações, trabalhando conscientemente a manutenção da posse de bola. Nos 20 minutos seguintes, os Wallabies controlaram as ações, detendo mais de 70% de posse de bola e território e construindo por cinco vezes jogadas de mais de 7 fases (o que os neozelandeses não haviam feito até então), sendo premiados aos 28′ com seu try. Após grande ação pela ponta de Haylett-Petty, Rory Arnold rompeu a defesa preta e caiu no in-goal, colocando os dourados no páreo, 10 x 7.

 

Mas, os Wallabies vacilaram. Aos 33′, depois de scrum favorável no campo de defesa, Reece Hodge teve seu chute bloqueado por TJ Perenara, que voou para o terceiro try dos kiwis, novamente não convertido. Com 15 x 7 no marcador, a Austrália ainda respirava e mantinha uma estrutura coerente de jogo, acumulando ao final do primeiro tempo 61% de posse de bola.

 

Na largada para o segundo tempo, os Wallabies tiveram tudo para conseguirem a virada. Aos 42′, Foley reduziu o placar com penal e, aos 45′, a torcida neozelandesa “gelou” ao ver Henry Speight arrancar para aquele que seria o segundo try australiano. Porém, o try foi anulado pelo TMO, que julgou que Haylett-Petty obstruiu Savea na jogada. Lance que deixou margem a muita reclamação do lado dos visitantes, sobretudo porque significaria a virada no placar.

 

Na sequência do lance controverso, os All Blacks quase conseguiram seu try, com Foley salvando a Austrália ao voar no in-goal antes de Coles para anular a jogada. O mesmo Foley, no entanto, perderia aos 50′ penal fácil a favor da Austrália, para o desespero do técnico Michael Cheika. E aos 53′ os All Blacks sepultaram, na prática, a reação australiana. Após knock-on de Speight no campo ofensivo, os neozelandeses puxaram mortal contra-ataque, finalizado por Julian Savea. 22 x 10 no placar.

 

Depois do quarto try neozelandês os visitantes não levaram mais perigo e os erros australianos, já em meio à perda da esperança na partida, sendo punidos com mais tries. Aos 68′, Savea fez seu segundo tento, o quinto para os kiwis, enquanto Dane Coles fechou o marcou com o sexto try, aos 72′. No fim, um último try dos anfitriões ainda seria anulado por passe para a frente. 37 x 10, placar final.

 

Sem vencer no Eden Park desde 1986, os australianos não puderam comemorar o domínio territorial de 73%, a leve superioridade nas formações fixas e o absoluto equilíbrio em metros corridos, pois não serviram para quebrar o jejum. A eficiência All Black com a bola em mãos na busca pelos espaços foi novamente premiada, com ou sem polêmica de arbitragem, já que a contagem de tries, mesmo no período de equilíbrio no placar, não deixaram dúvidas. Os Wallabies irão à Europa no próximo mês para tentarem o chamado Grand Slam, desafiando todas as cinco principais forças europeias. O primeiro jogo dos australianos será no próximo dia 5, contra Gales.

 

A Nova Zelândia, por sua vez, seguirá atrás agora do recorde mundial absoluto de vitórias consecutivas, 24, que pertence a Chipre, registrada nas divisões inferiores do rugby europeu. Os All Blacks tentarão sua 19ª vitória seguida enfrentando também no dia 5 a Irlanda, em Chicago, em mais um grande evento nos Estados Unidos. Para terminarem o ano invictos, os neozelandeses precisarão Itália, Irlanda outra vez e França, o que levaria os Homens de Preto a 2017 – e à série de partidas contra os British and Irish Lions – com 22 vitórias seguidas. Será que eles conseguirão? O presente sugere que sim.

 

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Nova Zelândia 37 x 10 Austrália, em Auckland

Árbitro: Nigel Owens (Gales)

 

Nova Zelândia

Tries: Savea (2), Dagg, Lienert-Brown, Perenara e Coles

Conversões: Cruden (2)

Penais: Cruden (1)

15 Ben Smith, 14 Israel Dagg, 13 Anton Lienert-Brown, 12 Ryan Crotty, 11 Julian Savea, 10 Beauden Barrett, 9 TJ Perenara, 8 Kieran Read (c), 7 Matt Todd, 6 Jerome Kaino, 5 Samuel Whitelock, 4 Brodie Retallick, 3 Owen Franks, 2 Dane Coles, 1 Joe Moody.

Suplentes: 16 Codie Taylor, 17 Wyatt Crockett, 18 Charlie Faumuina, 19 Liam Squire, 20 Ardie Savea, 21 Tawera Kerr-Barlow, 22 Aaron Cruden, 23 Malakai Fekitoa.

 

Austrália

Try: Arnold

Conversões: Foley (1)

Penais: Foley (1)

15 Israel Folau, 14 Dane Haylett-Petty, 13 Samu Kerevi, 12 Reece Hodge, 11 Henry Speight, 10 Bernard Foley, 9 Nick Phipps, 8 Lopeti Timani, 7 Michael Hooper, 6 Dean Mumm, 5 Adam Coleman, 4 Rory Arnold, 3 Sekope Kepu, 2 Stephen Moore (c), 1 Scott Sio.

Suplentes: 16 James Hanson, 17 Tom Robertson, 18 Allan Ala’alatoa, 19 Rob Simmons, 20 David Pocock, 21 Nick Frisby, 22 Quade Cooper, 23 Sefa Naivalu.

 

 

Para vencer no XV é preciso jogar XV

O Eden Park recebeu outro jogo antes de All Blacks e Wallabies entrarem em campo. Foi a primeira de duas partidas de XV feminino entre Nova Zelândia e Austrália, que terminou com vitória tranquila das Black Ferns por 67 x 03. A Wallaroos faziam seu primeiro jogo de XV oficial desde 2014 e o resultado foi correspondente ao trabalho na modalidade. Selica Winiata fez quatro dos 10 tries neozelandeses no jogo, enquanto Fiao’o Fa’amausili fez dois. Chelsea Alley, Kendra Cocksedge, Eloise Blackwell e Victoria Subritzky-Nafatali anotaram os demais.

Os dois times se enfrentarão novamente em Auckland, no North Harbour Stadium, na próxima quarta-feira.

 

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Nova Zelândia 67 x 03 Austrália, em Auckland – Laurie O’Reilly CupFeminino

 

 

Foto: All Blacks Twitter