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O dia mais importante dos últimos quatro anos no rugby mundial chegou. Amanhã, sábado, dia 31 de outubro, Twickenham, em Londres, receberá a finalíssima da Copa do Mundo de Rugby entre Nova Zelândia e Austrália, a partir das 14h00, hora de Brasília. Em disputa não apenas a cobiçada Taça Webb Ellis – a taça de campeão mundial – mas também a honra de se tornar a primeira seleção tricampeã do mundo.

 

O equilíbrio na história dos Mundiais é absoluto entre as potências do Hemisfério Sul. Nova Zelândia, Austrália e África do Sul dividem a honra de serem as maiores campeãs do mundo, com duas conquistas cada, seguidas da Inglaterra, com um título. Os Wallabies australianos campeões pela primeira vez em 1991, foram em 1999 os primeiros na história a conquistarem duas vezes a taça. O feito foi igualado em 2007 pela África do Sul, que já havia faturado a competição em 1995, e pela Nova Zelândia, em 2011, tendo antes em seu currículo o título de 1987. Os All Blacks neozelandeses, por sua vez, podem nesse sábado quebrar um tabu para se tornarem a primeira seleção a ser campeã mundial duas vezes consecutivas.

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No histórico das duas seleções em Mundiais ainda salta aos olhos o fato dos dois títulos da Austrália terem sido conquistados na Europa, sendo que em 1991, na única vez até o momento que a final da Copa do Mundo ocorreu em Londres o título coube justamente aos Wallabies. A Nova Zelândia, em contraste, venceu os seus dois títulos jogando em casa, o que significa que os All Blacks terão que quebrar o tabu de jamais terem sido campeões fora de casa – e, claro, na Europa.

 

A rivalidade entre os dois países transcende o rugby. Neste mesmo ano de 2015, australianos e neozelandeses duelaram na grande final da Copa do Mundo de Críquete, que terminou com mais um título australiano, seu quinto na história, mantendo a Nova Zelândia sem jamais ter conquistado a competição. No entanto, no outro esporte tradicional no qual a vantagem histórica é australiana, o rugby league, 2015 produziu uma inversão de forças, com os neozelandeses vencendo o confronto anual contra seus vizinhos. Já no rugby union, onde a vantagem histórica é neozelandesa, 2015 foi de festa maior para os australianos, que venceram a partida entre as duas seleções pelo Rugby Championship, 27 x 19, em Sydney, dando o primeiro título desde 2011 aos Wallabies na competição. Entretanto, no fim de semana seguinte as duas seleções se encontraram valendo o título da Bledisloe Cup e, fazendo muitas mudanças em seu elenco campeão, a Austrália foi derrotada pela Nova Zelândia por 41 x 13 e manteve os Wallabies no jejum da taça, que não vai para os aussies desde 2002.

 

Quem vencer a grande final desse sábado, de quebra, terminará o ano no primeiro lugar do Ranking Mundial e é inegável que o favoritismo seja dos All Blacks, campeões mundiais de 2011 e, sem dúvida, o melhor time do mundo. Para muitos, na verdade, a atual Nova Zelândia é a melhor equipe da história do rugby. Exagero? Pode ser que não e alguns imortais do rugby estarão em campo. Richie McCaw, único homem a vencer três vezes o prêmio de melhor jogador do mundo, estará se despedindo dos gramados e poderá também se tornar o primeiro jogador a vencer duas vezes a Copa do Mundo como capitão. A seu lado, Dan Carter, o maior pontuador da história do rugby mundial, também se despedirá dos All Blacks, e fazendo sua primeira final de Copa do Mundo. A lendária dupla de centros Conrad Smith e Ma’a Nonu também vestirá a camisa preta pela última vez, assim como o hooker Keven Mealamu, que deverá puxar o haka. Caso seja campeã, a Nova Zelândia será o time mais velho a levantar a Taça Webb Ellis na história, com média de idade superior a 29 anos. Porém, o futuro é próspero e o jovem ponta Julian Savea, de 25 anos, comparado por muitos a Jonah Lomu, poderá superar Lomu (e o sul-africano Bryan Habana, que joga hoje) como o maior anotador de tries em uma edição de Copa do Mundo caso cruze mais uma vez o in-goal e chegue a seu nono try no torneio.

 

Do outro lado, Drew Mitchell, lenda dos Wallabies, aos 31 anos, igualmente busca superar Lomu, mas como o maior fazedor de tries da história dos Mundiais, caso anote mais dois tries (com mais um ele se iguala a Habana e Lomu no topo). Mas, outros mitos da história australiana também estarão em campo, como Matt Giteau e Adam Ashley-Cooper. Mesmo com nomes desse calibre, Michael Cheika, treinador dos Wallabies, se dedicou a uma pequena batalha psicológica antes da final, jogando todo o favoritismo para os neozelandeses e proibindo seus atletas de usarem “All Blacks” para designarem o oponente. Motivo? Retirar o peso que o místico apelido do adversário traz consigo.

 

A Nova Zelândia não sofreu nenhuma alteração em seu time para a final da Copa do Mundo, entrando com força máxima em Twickenham, ao passo que a Austrália teve apenas uma troca, e foi um bônus, com o pilar Scott Sio, que vinha muito bem no Mundial, voltando de lesão no posto de Slipper. Com isso, não é demais dizer que os dois gigantes da Oceania estarão completos para o encontro.

 

Ao longo do Mundial, a Nova Zelândia superou a Austrália no ataque, fazendo 256 pontos e 36 tries, contra 205 e 26 dos Wallabies, além de ter uma defesa superior, que sofreu apenas 80 pontos em seis partidas, contra 84 sofridos pelos australianos. Os All Blacks foram ainda o time que mais laterais roubou no Mundial – 14, contra 8 dos Wallabies – tendo os dois atletas que mais prevalecerem no lateral, Kieran Read e Brodie Retallick, enquanto a Austrália liderou a estatística de tackles dados ao longo do torneio – 726, contra 551 dos neozelandeses. Os All Blacks ainda superaram os Wallabies em scrum ganhos, turnovers obtidos – 45 contra 42 – e em metros corridos, assim como em linhas quebradas e bolas carregadas. Por outro lado, a primeira fase foi mais generosa com os neozelandeses, que enfrentaram Tonga, Geórgia, Namíbia e Argentina, com os australianos tendo que medir forças com Inglaterra, Gales, Fiji e Uruguai. No mata-mata, os All Blacks passaram por França e África do Sul, ao passo que a Austrália superou Escócia e Argentina.

 

Setor a setor, o jogo se prova um xadrez parelho. A primeira linha australiana evoluiu enormemente desde a chegada de Mario Ledesma como auxiliar técnico e o resultado é uma formação extremamente competitiva com Stephen Moore de centro ao lado dos móveis Scott Sio e Sekope Kepu. Entretanto, Dane Coles vem se provando talvez o melhor hooker do mundo e oferece aos All Blacks alternativas infindáveis em termos ofensivos, aparecendo com frequência nas jogadas de velocidade, inclusive na ponta com finalizador, sendo uma arma versátil de Steve Hansen, ao passo que Owen Franks segue sendo um dos melhores pilares da atualidade, enquanto Joe Moody é o único da formação que não é unânime. Aqui, a vantagem é neozelandesa.

 

Na segunda linha, nova vantagem dos All Blacks, que têm no melhor do mundo Brodie Retallick uma máquina de laterais e uma arma letal não apenas na quebra da linha de vantagem como um segundo linha capaz de correr com a bola com habilidade, completo. A seu lado, a experiência de Sam Whitelock conta muito, enquanto a Austrália tem dois bons nomes, Kane Douglas e Rob Simmons, que vem se mostrando seguros, mas na disputa com os dois neozelandeses ainda estão atrás. E quanto ao lateral? Ambos usam muito os seus terceira linhas nas disputas, com Scott Fardy, dos amarelos, e Kieran Read, dos pretos, desempenhando papel crucial, mas com vantagem no momento para Read.

 

Com isso, vamos à terceira linha, onde ocorre a disputa talvez mais falada e mais determinante para a partida. No Rugby Championship, a Austrália pela primeira vez enfrentou a Nova Zelândia usando aquela que vinha sendo tida como a melhor terceira linha do mundo: com David Pocock de oitavo, Michael Hooper e Scott Fardy nas asas. Pela frente estavam justamente os três neozelandeses que jogarão a final: os míticos Kieran Read, Richie McCaw e Jerome Kaino. E o resultado foi vantagem australiana e vitória. E desta vez? A batalha do breakdown tem tudo para decidir o Mundial. Por enquanto, leve vantagem para os aussies, até que McCaw prove o contrário.

 

Atrás, as duplas de scrum-half e abertura chamam muito a atenção, com Will Genia, voltando a mostrar seu melhor, jogando na Austrália ao lado de Bernard Foley, que pode não ser sempre brilhante e perfeito, mas é um atleta em ascensão, que pode ser perigoso tanto com as mãos como com os pés. Porém, a Nova Zelândia tem talvez o melhor scrum-half do mundo, Aaron Smith, ao lado da lenda Dan Carter, que não fez um grande ano, mas teve lampejos de seu melhor rugby em momentos cruciais do Mundial e tem tudo para desempenhar novamente seu máximo.

 

Nos centros, os All Blacks apostam numa das maiores duplas da história, Conrad Smith e Ma’a Nonu, ao passo que os Wallabies têm Matt Giteau atuando como verdadeiro segundo criador da equipe, ao lado de Tevita Kuridrani, que terá a missão de igualar a fisicalidade da dupla neozelandesa. São conceitos bem distintos de centros que os dois times têm em mãos, com a Austrália levando vantagem no aspecto da circulação da bola, mas com a Nova Zelândia com mais potência.

 

E nas pontas? Novamente, estilos bem distintos, com dois veteranos com as camisas douradas e dois jovens explosivos com as camisas pretas. Adam Ashley-Cooper e Drew Michell são jogadores cerebrais e experimentados, enquanto Julian Savea, pura potência, e Nehe Milner-Skudder, com velocidade e capacidade de fintas fora do comum, criando alternativas bem distintas do lado neozelandês, que se completam com a maior capacidade de sua equipe em realizar flutuações e inversões de jogadas. Por fim, os fullbacks são um capítulo à parte, com Israel Folau, pelo Wallabies, chegando badalado como talvez o melhor de sua posição no mundo, sendo uma máquina de quebra de tackles. Contudo, sua oposição é Ben Smith, sempre perfeito no posicionamento e na cobertura. Potência contra precisão.

 

E no banco de reservas? A Nova Zelândia tem mais qualidade no pack reserva, com opções fartas, sobretudo na terceira linha, com Sam Cane e Victor Vito, que poderiam ser titulares de qualquer time do mundo. Na linha, Sonny Bill Williams pode entrar a qualquer momento para causar estragos com seus offloads, enquanto Beauden Barrett fez grandes jogos quando esteve em campo. Mas, a Austrália é forte também, tendo Ben McCalman em grande momento e Kurtley Beale, sedento por uma chance de voltar a brilhar. Ainda assim a vantagem é dos All Blacks.

 

Quer completar o cenário, mas a favor dos Wallabies? Dia 31 de outubro é Dia das Bruxas e a mesma data que a Nova Zelândia sofreu famosa derrota na Copa do Mundo de 2007 para a França, além de outras duas derrotas célebres, para o Munster, da Irlanda, em 1978, e para o Llanelli (Scarlets), de Gales, em 1972.

 

Que venha o maior espetáculo da Terra!

 

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14h00 – Nova Zelândia  Austrália, em Twickenham, Londres – ESPN AO VIVO

Árbitro: Nigel Owens (Gales)

Assistentes: Jérôme Garcès (França) e Wayne Barnes (Inglaterra) / TMO: Shaun Veldsman (África do Sul)

 

Nova Zelândia 15 Ben Smith, 14 Nehe Milner-Skudder, 13 Conrad Smith, 12 Ma’a Nonu, 11 Julian Savea, 10 Daniel Carter, 9 Aaron Smith, 8 Kieran Read, 7 Richie McCaw (c), 6 Jerome Kaino, 5 Sam Whitelock, 4 Brodie Retallick, 3 Owen Franks, 2 Dane Coles, 1 Joe Moody.

Suplentes: 16 Keven Mealamu, 17 Ben Franks, 18 Charlie Faumuina, 19 Victor Vito, 20 Sam Cane, 21 Tawera Kerr-Barlow, 22 Beauden Barrett, 23 Sonny Bill Williams.

 

Australia: 15 Israel Folau, 14 Adam Ashley-Cooper, 13 Tevita Kuridrani, 12 Matt Giteau, 11 Drew Mitchell, 10 Bernard Foley, 9 Will Genia, 8 David Pocock, 7 Michael Hooper, 6 Scott Fardy, 5 Rob Simmons, 4 Kane Douglas, 3 Sekope Kepu, 2 Stephen Moore (c), 1 Scott Sio.

Suplentes: 16 Tatafu Polota-Nau, 17 James Slipper, 18 Greg Holmes, 19 Dean Mumm, 20 Ben McCalman, 21 Nick Phipps, 22 Matt Toomua, 23 Kurtley Beale.

 

Histórico: 154 jogos, 105 vitórias da Nova Zelândia, 7 empates e 42 vitórias da Austrália. Último jogo: Nova Zelândia 41 x 13 Austrália, em 2015 (Bledisloe Cup 3).

 

*Horários de Brasília