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A Copa do Mundo de 2015 está empolgante. Não da para exigir que o mundo do rugby fique de cabeça para baixo de uma hora para a outra, mas o Mundial da Inglaterra já nos brindou com algumas surpresas. Quem não tem ainda fresca na memória a histórica vitória do Japão sobre a África do Sul? Os japoneses ainda venceram Samoa, contra quem não eram favoritos antes do início da Copa. A Geórgia também atrapalhou alguns bolões ao derrotar Tonga, em partida que havia leve favoritismo para o lado do Pacífico Sul.

 

Os resultados modificaram a tendência dos últimos Mundiais. Desde 2003, quando a Copa do Mundo assumiu o atual formato, com 20 seleções divididas em 4 grupos de 5, e com (desde 2007) os 3 primeiros de cada grupo garantindo classificação para o Mundial seguinte, em todos os anos a mesma configuração de continentes representados entre os melhores do mundo foi registrada. Nos três torneios em questão (2003, 2007 e 2011), estiveram sempre entre os doze melhores seis seleções da Europa (sempre França, Inglaterra, Gales, Irlanda, Escócia e Itália), quatro seleções da Oceania (Nova Zelândia e Austrália em todas, e Fiji, Samoa e Tonga se revezando, com apenas uma delas ficando de fora dos doze melhores em cada edição), uma seleção da África (África do Sul, em todos os torneios) e uma seleção da América do Sul (Argentina, também em todos os torneios).

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Tal configuração resultou na manutenção do mesmo sistema de eliminatórias, com a mesma divisão de vagas em todos os torneios: a Europa com duas vagas diretas, a África, a Ásia e a Oceania com uma vaga cada e as Américas com duas vagas (com América do Sul e América do Norte formando uma mesma zona), restando ainda uma última vaga decidida por Repescagem entre um time da Europa, um time das Américas, um time da África e um time da Ásia, totalizando oito vagas. A única variação coube às Américas, pois em 2003 as duas vagas foram decididas por um quadrangular final envolvendo Canadá, Estados Unidos, Uruguai e Chile, dando chances iguais a Norte e Sul, enquanto nos demais anos uma vaga fora assegurada à América do Norte, com o vencedor de um duelo entre Canadá e Estados Unidos se classificando, enquanto a outra vaga fora disputada entre o melhor time da América do Sul (em todos os anos, o Uruguai) e a segunda força da América do Norte.

 

Em 2015, a ordem de forças foi drasticamente alterada. Se não houver mais nenhuma grande mudança na atual classificação dos grupos, a Copa do Mundo deverá ter entre seus doze melhores times, já classificados para 2019, sete seleções da Europa (com a Geórgia entrando para o grupo), apenas duas da Oceania (com os fracassos de Fiji, Samoa e Tonga), uma da África, uma da América do Sul e uma (novidade) da Ásia.

 

Diante de tal situação, se o World Rugby mantiver a mesma distribuição de vagas por continente para 2019, teríamos a seguinte situação:

  • – Entre Fiji, Samoa e Tonga, apenas uma seleção se classificaria ao Mundial e duas ficariam de fora;
  • – Na Ásia, uma nova seleção garantiria classificação pela primeira vez na história. Seguindo o Ranking e os resultados recentes, provavelmente Hong Kong ou Coreia do Sul (foto);
  • – Na Europa, uma seleção a mais do Europeu de Nações se classificaria. Seguindo a tendência, a vaga deveria ficar entre Rússia, Espanha e Portugal, que disputaram o Mundial apenas uma vez cada;
  • – A Repescagem seria menos afetada e a equipe proveniente das Américas, que tende a ser o Uruguai, provavelmente seria favorita.

 

Em síntese, a Copa do Mundo trocaria Fiji, Samoa ou Tonga (dois deles) por Hong Kong ou Coreia do Sul em uma vaga, Rússia, Espanha ou Portugal na outra vaga. Será que isso ocorrerá?

 

Esta é uma belíssima questão que o World Rugby terá que responder. Se o critério for esportivo, seria muito ruim para a Copa do Mundo perder seleções do nível de tais equipes da Oceania e ter em seus lugares seleções muito mais fracas, que deverão fazer as diferenças dos placares entre as potências e as seleções menores – que caíram de 2011 para 2015 – voltarem a aumentar. Do ponto de vista comercial e político, entretanto, o World Rugby poderia ganhar com a saída das seleções de países nanicos e com a entrada de mercados consumidores muito mais interessantes à competição. Há que se ponderar, no entanto, que a presença de Fiji, Samoa e Tonga, apesar de não trazer consigo poderosos mercados, garante espetáculos de melhor qualidade, o que significa jogos mais atraentes para os torcedores, valorizando o torneio. Isto é, o aparente ganho econômico com a entrada de países ricos como Rússia, Coreia ou Espanha, onde, no entanto, o rugby é pequeno, poderia ter o efeito inverso, reduzindo o interesse da comunidade do rugby pelo potencial desnível das partidas. O dilema está dado, e vai além de justiça esportiva versus pragmatismo econômico.

 

Caso o World Rugby opte por fazer justiça ao nível de fijianos, samoanos e tonganeses, o formato das eliminatórias para 2019 deverá ser modificado sensivelmente. Como? Mudando a distribuição de vagas dos continentes simplesmente ou – o que eu pessoalmente prefiro – aumentando o Mundial para 24 seleções. Infelizmente, a expansão do número de equipes para 2019 é quase certo que não ocorrerá e, assim, a solução que restaria seria a mudança na distribuição das vagas. Uma possibilidade interessante nesse sentido seria aumentar o número de vagas disputadas via repescagens entre os continentes, criando mais vagas “indeterminadas”, que poderiam cair nas mãos de quaisquer continentes, fazendo justiça às seleções que de fato forem melhores, independente da região de origem. Torneios no modelo das anuais World Rugby Nations Cup e World Rugby Tbilisi Cup poderiam ser transformados em parte das eliminatórias, promovendo mais partidas intercontinentais ao longo dos próximos três anos.

 

A decisão está nas mãos do World Rugby, pois o problema Japão e Geórgia já criaram.

 

SeleçãoJogos 2014-16Pontos 2015-16Pontos 2014-16
Luxemburgo82036
Eslovênia81428
Sérvia81018
Áustria80511
Dinamarca80508
Posição País
África do Sul
Nova Zelândia
Inglaterra
Irlanda
França
Gales
Austrália
Escócia
Argentina
10ºJapão
11ºFiji
12ºGeórgia
13ºTonga
14ºSamoa
15ºItália
16ºEstados Unidos
17ºEspanha
18ºUruguai
19ºRomênia
20ºRússia
21ºPortugal
22ºHong Kong
23ºCanadá
24ºNamíbia
25ºPaíses Baixos (Holanda)
26ºBrasil
27ºBélgica
28ºSuíça
29ºChile
30ºAlemanha
31ºCoreia do Sul
32ºQuênia
33ºColômbia
34ºPolônia
35ºZimbábue
36ºUcrânia
37ºTchéquia
38ºMalta
39ºTunísia
40ºUganda
41ºFilipinas
42ºCosta do Marfim
43ºMéxico
44ºLituânia
45ºCroácia
46ºParaguai
47ºSri Lanka
48ºMarrocos
49ºMalásia
50ºTrinidad e Tobago
Apenas o Top 50. Ao todo, são 105 países no Ranking

 

Foto: Hong Kong x Coreia do Sul – ARFU

8 COMENTÁRIOS

  1. 32 seleções não, mas 24 seria seria o ideal, com o critério de de classificação igual a copa do mundo de futebol de 86, 90 , 94, onde passariam 16 seleções para oitavas-de-finais, e talvez algumas surpresas para as quartas-de-finais, e não correria o risco de formar grupos da morte, como o grupo A desta copa, em que a Inglaterra já está fora da próxima fase, e com certeza todas as melhores seleções passariam para a próxima fase, e algumas menores.

  2. Imaginem os 24 atuais do ranking numa copa com 6 grupos de 4 em grupos que poderiam ser:
    A – All Blacks, Tonga, Itália, Hong Kong;
    B – Austrália, Japão, Georgia, Chile;
    C – Gales, Fiji, Samoa, Rússia;
    D – África do Sul, Escócia, EUA, Espanha;
    E – Irlanda, Inglaterra, Romênia, Namíbia;
    F – França, Pumas, Canadá, Uruguai;
    Se classificassem os melhores terceiros as oitavas poderiam ser:
    All Blacks x Canadá
    Austrália x Tonga
    Gales x Georgia
    África do Sul x Fiji
    Irlanda x Japão
    França x Itália
    Pumas x Escócia
    Inglaterra x Samoa
    Seriam bons jogos de quartas, uns nem tanto, outros mais equilibrados.
    E bom, Talvez Hong Kong e Chile,m por exemplo, apanhassem feio no começo,
    mas com o passar do tempo apanhariam de 40, 50, como hoje aconetec com o Uruguai.
    Não vejo espaço pra vantagens de 140 pontos.

  3. Sinceramente, mesmo que fosse bacana um mundial 24 seleções, o desnível entre as seleções de rugby ainda não permite tal formato. Fora que cada vez mais vai encarecendo a organização da Copa. Minha opinião é que no futebol, o formato de 32 seleções também acabou diminuindo o nível do mundial. Além de deixar descomunal o valor do evento, possibilitando cada vez mais poucos países com capacidade para sediar o evento de forma responsável.
    Imagino que é quase uma certeza para a Copa de Rugby de 2023 passemos a ter 24 seleções.
    Mas podemos torcer para ser já em 2019. Quem sabe os Tupis tivessem alguma chance (mas ainda acho que estamos longe desse objetivo). O formato ideal seriam 6 grupos de 4. Os 2 primeiros de cada chave formariam 4 grupos de 3. Com os campões desses mesmos fazendo as semis e final. Os finalistas fariam as mesmas 7 partidas da atual edição. E por favor, nada de classificar terceiros colocados na primeira fase de grupos.

    Mas a World Rugby tem que dar uma revisada nos critérios para o sorteio dos grupos. Se você já tem coisas estranhas como os 3 primeiros de cada grupo já se classificarem, automaticamente, para a copa seguinte, a divisão dos potes para os grupos é errada também.
    As seleções dos Six Nations e do Rugby Championship poderiam ser divididas de uma melhor maneira nos 4 potes…Talvez, em cada grupo, 1 equipe do Championship e 1 das Home Nations. Claro, com o passar do tempo, uma nivelação mais homegênea pediria grupos com outras configurações. Em 2015, são quatro times europeus no grupo D (3 dos Six) e somente 1 do velho continente nos grupos B e C. Temos 2 do Champ no C (ARG e NZE). O idela seria dois europeus e uma do Champ em cada grupo, e as demais seleções divididas nas vagas restantes, e tentando se evitar ao máximo, repetição de continentes em uma mesma chave. O caráter mundial é favorecido quando você diversifica os continentes. O grupo D dessa copa virou um mini-Six Nations, com confrontos que são bem comuns todos os anos. Assim, fica pouca coisa inédita ou rara.

  4. O Rugby tem de ser popularizado em todo mundo e penso que seria mais justo termos mais seleções na America , pois somos 3 continentes. Já pensou no Brasil o Rugby popularizado como foi o Voley com estados lotados? isso seria muito bom pra federação internacional de rugby, pois o brasileiro, se adapta fácil a esse esporte; moro em Fortaleza e aqui temos todos os domingos várias equipes, jogam na praia de iracema, é um espetáculo muito bonito. Vejo que será viável a federação internacional de rugby popularizar esse esporte aqui no Brasil e no resto do nosso continente, e não ficar só restrito a Argentina.

  5. Tudo bem, mas a WR tem (por sorte) uma carta na manga. Se pensarmos bem, até os dias atuais, nunca tivemos uma sede que não fosse uma das potências. A primeira vez será justamente no Japão, que bagunçou toda a estrutura de classificação, assunto da matéria em questão. A pergunta é: será que a WR já não iria deixar o japão automaticamente classificado como país sede e diminuir o número de vagas qualificatórias? Porque até então não precisava garantia de vaga alguma, afinal de contas, as sedes dos mundiais sempre pertenceram as potências, que de forma alguma precisavam de tais garantias. Mas o japão foi escolhido há anos atrás, então será que a WR, ao escolher o Japão como sede e não sendo ela uma das potências, já não pensou em outro formato previamente?
    Vamos descobrir em breve.