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Apelido: Los Pumas (Onças)

População: 42.700.000

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Capital: Buenos Aires

Continente: América do Sul

Principais títulos: Campeonato Sul-Americano (36 vezes), Copa Pan-Americana (5 vezes) e Puma Trophy (2014)

Mundiais disputados: Todos

Melhor campanha em Mundiais: 3º lugar (2007)

Copa do Mundo de 2011: Quartas de final

Caminho para o Mundial 2015: Classificada antecipadamente como uma das 12 melhores da Copa do Mundo de 2011

Técnico de 2015: Daniel Hourcade

2015: Grupo C

20/09 – x Nova Zelândia – Histórico: 21 jogos, 1 empate e 20 derrotas. Último jogo: Nova Zelândia 39 x 18 Argentina, em 2015 (The Rugby Championship);

25/09 – x Geórgia – Histórico: 3 jogos, 3 vitórias. Último jogo: Argentina 29 x 18 Geórgia, em 2013 (amistoso);

04/10 – x Tonga – Histórico: nunca se enfrentaram;

11/10 – x Namíbia – Histórico: 2 jogos, 2 vitórias. Último jogo: Argentina 63 x 3 Namíbia, em 2007 (Copa do Mundo);

 

Potência do futuro, ou já do presente? A Argentina é uma força em franca ascensão no rugby mundial e acaba de dar alguns passos adiante na rumo à sua consolidação como uma força entre os gigantes do esporte. A vitória sobre a África do Sul fora de casa no Rugby Championship, a primeira na história – sem contar a vitória dos Jaguares sul-americanos de 1982 – alçou os Pumas a um patamar distinto, consumando um processo contínuo de evolução, que teve seus percalços e questionamentos, mas parece estar mais acelerado do que o previsto.

 

O rugby na Argentina é praticado pela larga colônia britânica do país desde o fim do século XIX, com dezenas de clubes fundados por britânicos, primeiramente, e desde o início do século XX pela alta sociedade argentina, que com a expansão rápida e a pressão pelo profissionalismo no futebol não tardou a migrar para o rugby. Não por acaso, o rugby se tornou um símbolo de status social e a defesa do amadorismo ganhou proporções inabaláveis. O crescimento do rugby nas primeiras décadas no país foi ainda agraciado com nada menos que três giras do Lions à Argentina, em 1910, 1927 e 1936. Em 1949 e 1954 foi a vez da França visitar os argentinos, em 1959 os Junior Springboks se deslocaram ao Prata, enquanto em 1967 e 1968 foi a vez de galeses e escoceses, mas a potência sul-americana seguiu à margem dos destinos das grandes seleções do mundo e o Campeonato Sul-Americano tinha reservado a si um papel importante nas atividades da seleção argentina, que entrava em campo com seus melhores nomes.

 

As viagens para fora da América do Sul eram menos frequentes e a primeira ocorreu em 1965, à África do Sul, quando os argentinos ganharam o célebre apelido Los Pumas, após um jornalista local confundir a onça pintada (ou jaguar) estampada no símbolo da União Argentina de Rugby com uma onça parda (ou puma). O nome ficou e a vitória sobre os Junior Springboks, por 11 x 6, se tornou um marco para o desenvolvimento do rugby no país. Antes às sombras do futebol, do basquete e do polo, o rugby argentino passou a ganhar maior popularidade e o esporte que antes era dominado por Buenos Aires pouco a pouco começou a ganhar terreno nas províncias, antes fracas no esporte, mas que a partir dos anos 60 ganharam força e passaram a competir em igualdade com a capital, com Mar del Plata e Rosario conquistando o título nacional. Porém, foi somente nos anos 80 que a hegemonia da capital teve um fim, com a ascensão decisiva de Tucumán e Córdoba, províncias onde o rugby se tornou popular, quebrou barreiras sociais e, com gosto pelo jogo de forwards, produziram a marca que notabilizaria o rugby argentino até hoje, a força de seu scrum e sua “bajadita”.

 

É também nos anos 80 que, burlando o boicote ao apartheid sul-africano, a Argentina, em 1982, atuando como Jaguares sul-americanos (e contando com alguns reforços dos países vizinhos, como o brasileiro Pedro Cardoso), derrotou os Springboks na África do Sul por 21 x 12, liderada pelo mágico Hugo Porta. No ano seguinte, os Pumas derrotariam pela primeira vez os Wallabies, em solo australiano, e em 1985 conquistariam seu maior resultado até hoje contra os All Blacks, um empate em 21 x 21, com 21 pontos de Porta. Em 1985 e 1986, ainda, os argentinos colecionaram vitórias sobre a França, e quando a realização da primeira Copa do Mundo fora anunciada, a expectativa para um crescimento argentino se tornara enorme. Os primeiros torneios, contudo, se provaram decepcionantes para os Pumas, que sequer alcançaram as quartas de final nas três primeiras edições, ficando pelo caminho em 1987, 1991 e 1995, já sem a mesma força de antes.

 

A virada na história do rugby do país veio na era profissional. Enquanto o rugby de clubes argentino se manteve ferrenhamente ligado ao amadorismo e se tornou o único dos grandes países do rugby a seguir proibindo o profissionalismo – proibição que segue até hoje, calcada no poder dos clubes de Buenos Aires – um verdadeiro êxodo de atletas argentinos ocorreu, com centenas de jogadores sendo contratados pelos clubes europeus. Os Pumas se tornaram uma seleção profissional, representando um país de rugby amador, e o efeito se viu logo em 1997, com mais uma vitória sobre a Austrália, em Buenos Aires, por 18 x 16, e em 1999, quando, pela primeira vez, a Argentina avançou às quartas, deixando para trás a Irlanda, com histórico triunfo por 28 x 24, liderada por Gonzalo Quesada. A eliminação veio na sequência pelas mãos da França, mas os Pumas chegavam para ficar. Sob o comando do técnico Marcelo Loffreda e do capitão Agustín Pichot, a Argentina foi a 2003 com altas expectativas, mas voltou a ser eliminada na fase de grupos perdendo para a Irlanda, 16 x 15, em partida que acirrou a rivalidade dos dois países. A derrota fez crescer a seleção nos anos seguintes, com vitória na França sobre os franceses, em 2004, empate com os British and Irish Lions, na Inglaterra, em 2005, derrota apertada contra os All Blacks e vitória em Londres sobre a Inglaterra, em 2006, e, finalmente, em 2007, na Copa do Mundo, uma campanha épica, com vitória sobre a anfitriã França, em Paris, na abertura da competição, troco sobre a Irlanda na primeira fase, e histórica vitória sobre a Escócia nas quartas de final, levando os Pumas pela primeira vez na história às semifinais, para serem derrotados pela África do Sul. A despedida foi com mais festa e vitória novamente sobre a França na decisão do terceiro lugar, coroando a geração de Pichot, dos irmãos Contepomi, Hernández, Corleto, Aramburu, Ledesma, Roncero, Albacete & cia.

 

O feito de 2007 ergueu a Argentina para um status nunca antes desfrutado e as negociações para a entrada do país em um dos grandes campeonatos anuais começou e se concretizou com o anúncio da entrada argentina no Tri Nations, rebatizado The Rugby Championship, em 2012. Em 2011, os Pumas não decepcionaram, fizeram um ótimo Mundial, e caíram apenas contra os All Blacks nas quartas de final. Porém, a entrada no torneio do Sul se deu em um momento de renovação da geração vitoriosa para uma nova leva de atletas mas o empate contra os Springboks no ano da estreia se mostrou animador. Em paralelo, a União Argentina de Rugby iniciou um processo de profissionalização do rugby nacional sem mexer no amadorismo dos clubes, criando o sistema de academias do Pladar e, em 2010, o Pampas XV, seleção de atletas profissionais baseados no país para a disputa do Vodacom Cup sul-africana. Em 2013, a Argentina perdeu todos os seus jogos no Championship, mas, em 2014, veio a primeira vitória, em casa, sobre a Austrália, que já anunciava que a nova geração, liderada por Agustín Creevy,entretanto com um pé na velha geração de 2007, nas figuras de Juan Martín Fernández Lobbe, Juan Manuel Leguizamón e Juan Martin Hernández, tinha força para saltos ainda maiores.

 

A entrada de uma franquia do país em 2016 no Super Rugby levou muitos nomes importantes da Argentina a deixarem o rugby europeu e se concentrarem no país, o que não abalou a preparação da seleção do contestado técnico Daniel Hourcade. Apesar de certa irregularidade no início do trabalho, às vésperas da Copa do Mundo de 2015 os Pumas parecem ter encontrado sua confiança e seu rumo, entrando no Mundial postulantes a uma semifinal. Em seu grupo, o favoritismo da Nova Zelândia é inegável, mas a vitória sobre a África do Sul abre uma luz de esperança aos Pumas de que um resultado épico na Inglaterra é possível. Ainda assim, com os pés no chão, os Pumas sabem que é nas partidas contra os duros packs de Tonga e Geórgia que está seu foco, para garantir a ida às quartas de final, em um cruzamento favorável contra, provavelmente, Irlanda ou França, seleções que permitem a Argentina sonhar com um resultado como o de 2007.

 

A maior arma dos Pumas está justamente em seu pack e seu scrum, que é capaz de se impor sobre a África do Sul e dar sérios trabalhos à Nova Zelândia. Creevy, jogando ao lado de Marcos Ayerza, Matías Diaz e Tetaz Chaparro, formam uma das mais temidas primeiras linhas do mundo, ao passo que Lavanini e Carizza compõe uma também forte segunda linha, enquanto a terceira linha é infernal, com Lobbe, Leguizamón, Senatore e Matera. A força de Geórgia e Tonga nesse mesmo setor não deve levar à derrota argentina, mas poderá causar transtornos aos Pumas, que podem ir fatigados – e talvez com algumas lesões – em sua mais forte unidades para o mata-mata, ao passo que a Namíbia dificilmente trará problemas. A maior dúvida estava na linha, sobretudo na camisa 9, com Cubelli e Landajo sendo severamente criticados. Mas, Cubelli fez um ótimo jogo com os Springboks ao lado de Hernández, que assumiu a 10 e reecontrou o fino de seu rugby. Na linha, Marcelo Bosch e Juan José Imhoff deram show e, o setor que antes era preocupação, deu mostras de que pode se tornar uma arma poderosa para os argentinos no Mundial.

 

Se o desempenho que a Argentina teve contra os Springboks irá se repetir na Copa, as próximas semanas dirão. Sobretudo o amistoso seguinte contra a mesma África do Sul, em Buenos Aires, quando os Pumas não entrarão mais como azarões. A Argentina tem agora a missão de transformar um time que teve um desempenho muito bom em uma seleção que sabe jogar sob a pressão das expectativas e ter consistência. A entrada no Super Rugby do ano que vem poderá transformar os Pumas em reais competidores até mesmo ao título mundial em 2019, mas o desafio do presente é não tornar um grande feito em uma ilusão. A Argentina tem ainda muito a provar nas próximas semanas de que entra em 2015 com a força de 2007. Para tal, é preciso pés no chão e inteligência, pois o caminho é promissor.

 

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