Foto: Six Nations

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A 4ª ronda das Seis Nações 2020 teve direito a novidade, já que um dos jogos agendados acabou por não ir para o ar devido ao surto de coronavirus na Europa, com o Irlanda-Itália a sofrer este adiamento (possivelmente será realizado em Outubro deste mesmo ano). Mas nem por isso deixamos de falar dos destaques dos outros dois encontros num fim-de-semana em que a Escócia derrubou inesperadamente a França!

BEN YOUNGS (INGLATERRA)

Esta edição da máxima prova europeia de seleções tem sido um autêntico carrossel de emoções para Ben Youngs, que começou da pior forma em Paris para depois recuperar a confiança nos jogos seguintes e frente ao País de Gales foi uma demonstração total que é ainda o melhor formação da Inglaterra e um dos de topo do Hemisfério Norte.

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No último jogo em casa da seleção de Sua Majestade nesta edição das Seis Nações, Ben Youngs deu volatilidade às ações de ataque, impondo um ritmo sempre alto e mexido que ia criando sucessivas roturas defensivas no bloco galês, mantendo uma transmissão de excelência da oval para depois instigar as várias unidades inglesas a irem rápido no apoio, o que deu um tónico decisivo aos homens de Eddie Jones para imporem um domínio total no encontro, especialmente nos primeiros 40 minutos.

Um dos parâmetros que esteve em grande na prestação da formação foi o jogo ao pé. Ben Youngs aplicou pontapés de alta qualidade em diferentes pontos do terreno de jogo, conseguindo desequilibrar em específico nos últimos 30 metros ofensivos, o que criou sérias dificuldades ao País de Gales em manter sempre uma boa postura na hora de recuperar a oval ou de recuperar a posição, significando um contínuo acumular de pressão que fez ruir os desígnios dos galeses em arrancarem um bom resultado em Twickenham.

Youngs mostrou uma visão de jogo extraordinária que fez a diferença nesta Inglaterra e mesmo sem ter marcado tries ou realizado qualquer assistência, provou que merece estar não só nos convocados como tem de ser titular nos próximos tempos.

ADAM HASTINGS (ESCÓCIA)

Se em Roma surgiu em grande com uma exibição daquelas que se espera de um abertura da elite mundial, já em “casa” o nº10 voltou a registar nova prestação de alta qualidade infligindo constantes problemas à defesa da França. Dos vários dados estatísticos relevantes para perceber o papel de Adam Hastings na vitória da Escócia, o pormenor de ter conquistado 440 metros conquistados a partir do jogo ao pé… o que isto significa? Que a França foi sucessivamente forçada a recuar no terreno de jogo, ficando na retina quatro pontapés que voaram cerca de 60/70 metros caindo bem nas costas dos atletas gauleses, motivando uma e outra vez à Escócia de subir no terreno e impor uma réplica defensiva totalitária e de soberba fisicalidade.

Por falar no aspecto defensivo, Adam Hastings foi de longe o 3/4’s que mais tackles efetuou com cerca de 20 (somente 3 foram ao “lado”), fechando bem o seu canal, beneficiando largamente a Escócia na estratégia coletiva, com o abertura a mostrar que está alguns furos acima de Finn Russell neste ponto essencial para dar outro tipo de estabilidade e confiança a uma seleção que precisa de estar segura neste aspecto.

As poucas entradas da sua responsabilidade foram de qualidade, com uma delas a dar início ao segundo try de Sean Maitland, onde o abertura aplicou uma troca de pés que deixou Matthieu Jalibert completamente preso à relva e inspirando assim o início de um contra-ataque letal da Escócia.

JUSTIN TIPURIC (PAÍS DE GALES)

É um dos asas mais espetaculares do rugby mundial e merece outro tipo de destaque/atenção, não podendo ficar atrás de várias lendas da 3ª linha, e a exibição realizada frente à Inglaterra foi de alta qualidade com dois tries, 10 tackles efetivas (3 dominantes), 4 turnovers, 70 metros percorridos (em 8 arranques), mostrando uma mobilidade e agilidade que permite ao País de Gales acreditar ser possível fazer uso de uma estratégia mais arriscada nas operações de ataque.

Tipuric entrega-se ao jogo como poucos, tem uma inteligência e astúcia bem acima da média e raramente cede ou compromete defensivamente, garantindo ainda sempre uma resposta de qualidade ao pós-placagem como se viu em Twickenham, em que num momento foi capaz de parar Jamie George, conseguindo rapidamente recuperar e levantar-se para se lançar ao breakdown e arrancar uma penalidade favorável ao País de Gales. Foi constantemente uma dor-de-cabeça nas saídas da formação-ordenada, fechando bem o espaço de ação de Tom Curry ou limitando as tentativas de quebra-de-linha de Ben Youngs, o que deu algum espaço de manobra defensiva às linhas atrasadas.

Não foi suficiente para evitar mais uma derrota nestas Seis Nações, mas em abono da verdade o atleta de 30 anos dos Ospreys mostrou o porquê de merecer ser considerado um dos melhores na sua posição no Planeta da Oval.

 

TEXTO: Francisco Isaac