Foto: Super Rugby

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ARTIGO OPINATIVO – Os Queensland Reds são finalistas do Super Rugby AU, depois de terem batido os Melbourne Rebels por 25-13 num jogo que foi emocionante, bem jogado, intenso e com uma superioridade (praticamente total) na formação-ordenada dos homens de Brad Thorn, que foi essencial para o desenlace final. Mas quem foram os protagonistas? E como é que os koalas foram capazes de sobreviver à perigosa linha de 3/4’s dos Rebels?

A análise ao encontro segue neste artigo!

“Ups”: moer no scrum e deslumbrar no ataque

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Das 9 penalidades cometidas pelos Melbourne Rebels, 6 vieram do mesmo local que ajuda a perceber de onde veio o domínio dos Reds nesta meia-final: formação-ordenada. No bloco de 8 contra 8, a equipa da casa literalmente varreu os seus opositores, desarmando os Rebels de alguma possibilidade de estabilidade nos segundos 40 minutos de jogo, o que feriu o sonho destes conseguirem uma reviravolta que até esteve ao seu alcance no reatamento de jogo. A pressão exercida pela primeira-linha dos agora finalistas do Super Rugby AU foi extraordinária, encetando num trabalho de demolição bem inteligente que começava pelo exercer de uma força penetrante por parte de Taniela Tupou, que marcou bem o seu alvo na formação-ordenada e deu o empurrão (consecutivamente) nele para depois os seus companheiros darem a machada final, levando ao árbitro, Nic Berry, assinalar um fluxo de penalidades.

Mas há um pormenor algo estranho nesta “vitória” dos Reds na FO, pois os Rebels aguentaram com alguma qualidade neste sector, perecendo após o intervalo, o que lança algumas questões em termos da condição física dos atletas da franquia de Melbourne, algo notado também pelas saídas abruptas de Dane Haylett-Petty e Matt To’omua (ambos lesionaram-se sozinhos e foi sempre a nível da coxa/virilha). Os Reds fisicamente foram superiores, exercendo a mesma fisicalidade durante todos os 80 minutos, mantendo uma intensidade vibrante nos avançados e três-quartos, combinando boas entradas e participações ofensivas que só não deram mais frutos porque se deu alguma precipitação na tomada de opções, isto em particular na primeira-parte.

Mesmo com esses erros de combinações de jogo ou de passes mais arriscados, os Reds mostraram-se mais letais na leitura ofensiva, encontrando e acelerando nos espaços na linha de defesa dos Rebels, com James O’Connor, Hunter Paisami (entrou no decorrer da primeira-parte e acabou por ser um dos melhores em campo), Fraser McReight, Taniela Tupou (realizou uma das suas melhores exibições dos últimos anos), Liam Wright e Filipo Daugunu a imprimirem excelentes arranques que quebraram a linha-defensiva, seguindo-se uma jogada de ensaio iminente.

Realizaram menos erros no transporte de bola (11 contra 16), arrancaram mais perfurações na linha-defensiva (12 contra 6) e tiveram uma atitude mais predatória no ataque que os Rebels, assistindo-se aquela jovialidade irreverente que lhes deu várias vitórias em 2020, impondo o pensamento de que “não importa quantos metros conquistas com bola, o que importa é o que fazes com eles” nesta meia-final do Super Rugby AU.

A mobilidade e eficiência do ataque dos Reds (2:05)

“Downs”: Toomya, Petty lesionados, comprometendo reviravolta

Os Rebels foram ineficientes na formação-ordenada, perderam-se no maul apesar de até terem empurrado os Reds para trás neste sector e não foram compactos na continuidade de jogo, conseguindo boas quebras-de-linha ou jogadas para depois perder a bola no ruck (os Reds roubaram por 6 vezes a bola no breakdown), sofrendo assim um final de época às mãos da formação de Queensland. O desgaste físico foi mais evidente na franquia dos Rebels do que na dos Reds, não só em termos de lesões, mas também na queda de intensidade e ritmo de uma parte das suas unidades na segunda metade deste encontro, ficando à mercê de um adversário mais focado e compacto.

Veja-se que as duas lesões mais graves dos Melbourne Rebels registaram-se na 2ª parte e num espaço de 5 minutos, com Dane Haylett-Petty a sair primeiro por queixas na virilha/coxa (não foi claro a zona da lesão, ficando só evidente que era na parte superior da perna) e, logo depois, Matt To’omua, com o abertura a registar uma lesão na coxa após um pontapé longo, deixando assim a sua equipa sem duas das unidades mais importantes na liderança e no delineamento das melhores jogadas possíveis.

As falhas na formação-ordenada também foram demonstrativo dessa queda física, já que o bloco de 8 avançados dos Rebels pareceu ficar na expectativa neste sector, sendo completamente engolidos pelo bloco adversário, que aproveitaram bem esta apatia geral do pack da franquia de Melbourne. Já na contestação dos rucks e no dar segurança no breakdown foi notória a falta de algum apetrecho físico, forçando-os a envolver mais jogadores nesta fase espontânea, o que ao mesmo tempo atacava a sua durabilidade física como tirava elementos de apoio nas jogadas de 3/4’s. Os Rebels sofreram com o facto de não terem conseguido encontrar um encaixe positivo entre os elementos titulares e quem estava no banco, expondo esta debilidade no jogo que mais importava (até este momento) da época, terminando a sua campanha em 2020 com uma exibição que prometia outra categoria.

Os craques: Daugunu, Paisami, Tupou e Koroibete

O ponta dos Reds foi o elemento que mais metros conquistou na meia-final, com cerca de 114 metros, somando ainda duas quebras-de-linha, 6 defesas batidos, uma assistência e um ensaio, sendo constantemente uma ameaça para o corredor defensivo esquerdo dos Rebels.

Podíamos ter escolhido Tate McDermott (bela exibição, mas errou alguns pontapés que podiam até dado ensaio aos Rebels) ou James O’Connor (definitivamente é o 10 da Austrália para 2020 e 2021), mas é preciso dar mérito à forma como Hunter Paisami entrou já no decorrer do jogo, tendo sido decisivo tanto no ataque, com 50 metros conquistados e mais uns quantos apontamentos, como na defesa, onde bloqueou duas acções de Andrew Kellaway e Reece Hodge. Fisicamente é uma força da natureza e uma unidade absolutamente inteligente no dar rodagem e velocidade nas suas entradas, enchendo a estratégia ofensiva dos Reds com um perigo sempre constante.

Por vezes é o vilão com reacções totalmente inacreditáveis e que até custam pontos aos Reds, mas nesta meia-final foi um dos jogadores que empurrou os Reds na direcção da vitória, exercendo dano nas entradas no contacto (5 tackle-busts e 4 defesas batidos), furando linhas para depois galgar preciosos metros que até surtiram em ensaios para a sua equipa (uma assistência e um passe que levou em duas fases a mais um ensaio), sem esquecer o trabalho extraordinário desempenhado na formação-ordenada.

Cai de pé o ponta dos Rebels, com 101 metros com a oval em sua posse, 2 quebras-de-linha, 7 defesas batidos, 5 tackle-busts e um ensaio carregado de manha e visão de jogo, elevando-se como a unidade mais ameaçadora dos Melbourne Rebels na meia-final e da época.

Números

Mais pontos marcados: James O’Connor (Reds) – 10 pontos
Mais ensaios marcados: Vários – 1
Mais quebras-de-linha: Vários – 2
Mais placagens: Brandon Paenga-Amosa (Reds) – 12 (12 efectivas)
Mais turnovers: Fraser McReight (Reds) – 2
Mais defesas batidos: Marika Koroibete (Rebels) – 7
Melhor da Jornada: Taniela Tupou (Reds)

Tupou e a jogada do último ensaio dos Reds (4:16)