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Chegou a hora da decisão na Europa. Na sexta e no sábado, a cidade de Lyon, na França, pela primeira vez na história receberá as grandes finais das duas competições europeias interclubes. E ambas com duelos entre franceses e ingleses, elevando a rivalidade entre os dois países a um novo patamar.

 

O novíssimo Parc Olympique Lyonnais, novo estádio cidade, com 55 mil lugares, receberá na sexta-feira a decisão da Challenge Cup, a segunda competição continental, entre os franceses do Montpellier e os ingleses do Harlequins. Depois, no sábado, o momento que todos estão aguardando chegará: o máximo título europeu será decidido, com Racing e Saracens medindo forças na grande final da Champions Cup. A primeira final da história da Copa Europeia opondo um clube de Paris, o Racing, e um clube de Londres, o Saracens, em partida entre duas equipes que jamais foram campeãs da competição – e com transmissão para o Brasil ao vivo pela ESPN.

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Racing x Saracens: final inédita entre as capitais imperiais

Racing e Saracens entrarão em campo nesse sábado em busca da glória que lhes falta: o título inédito de campeões europeus. Jogando em seu país, o Racing poderá ter leve vantagem pelo calor mais próximo da torcida, mas o histórico clube parisiense estará pisando em terreno desconhecido, alcançando a final da Copa Europeia pela primeira vez em sua existência.

 

O Saracens, por outro lado, já sentiu o gosto antes de jogar a grande final europeia, em 2014, quando sentiu o amargo gosto da derrota para o Toulon por 23 x 6. Nesta temporada, o clube londrino é o único invicto na Champions Cup, tendo vencido todos os seus 6 jogos até aqui, ao passo que os parisienses acumularam 4 vitórias, 1 empate e 1 derrota (na fase de grupos, contra os escoceses do Glasgow Warriors, quando os franceses já tinham garantida a classificação). Racing e Saracens já se enfrentaram 6 vezes na história, e os ingleses levaram a melhor em 5 oportunidades, incluindo no último duelo, nas quartas de final da última Champions Cup, quando os Sarries venceram por 12 x 11 em Paris.

 

Na história da Copa Europeia, criada em 1996 e conhecida como Heineken Cup até 2014, quando foi remodelada e renomeada para Champions Cup, os clubes franceses têm vantagem histórica, com 8 títulos no total, contra 6 títulos conquistados por clubes ingleses e outros 6 por equipes irlandesas. No lugar mais alto da história da competição está o Toulouse, o gigante francês, com 4 conquistas, seguido do novo rico da França, o Toulon, com 3 títulos: justamente nas 3 últimas edições, o que significa que o título de Racing ou Saracens quebrará a série de conquistas do poderoso clube da Provença.

 

Na partida, o craque neozelandês Dan Carter, do Racing, poderá se juntar a um seleto grupo: o dos jogadores que já conquistaram a Copa Europeia (Heineken Cup ou Champions Cup), o Super Rugby, o Rugby Championship (ou Tri Nations) e a Copa do Mundo. Apenas 5 homens já atingiram tal feito: os sul-africanos Bryan Habana, Bakkies Botha e Danie Rossouw e os neozelandeses Brad Thorn e Ali Williams.

 

O que esperar dos Saracens? – colaboração de Francisco Isaac

Um dos princípios base dos Saracens é a defesa alta com uma pressão “agressiva”. Nos vídeos 1 e 2, podem notar que dois dos tries marcados na fase a eliminar, nasceram de uma boa pressão que obriga a defesa contrária a cometer erros. No jogo frente aos Saints, aproveitaram bem para exercer uma pressão sob a linha de ataque da equipe de Northampton, que após algumas tackles conseguem fazer que a bola se perca no contacto, com Wyles a recuperar e marcar. O wolfpack faz com que o seu adversário desespere perante uma defesa de “betão” que entre os cinquenta metros e a área de try dos seus adversários opta por assumir este comportamento que é altamente eficaz… se bem executado. Há um problema que pudemos assistir no jogo frente aos Wasps, no primeiro try mais concretamente… o tackle dado nas pernas e não há no corpo permitiu a Piutau explorar bem o canal para devolver o passe a Wade que só teve de correr até aos 22 metros dos Saracens e entregara bola a Robson. Pressão alta sim, mas há que saber travar o adversário quando este tenta penetrar na linha em velocidade. Os Saracens dão-se mal com velocidade… e isso foi visível no jogo com os Wasps em certos momentos… também encontram debilidades quando jogam contra um estilo mais caótico, caso dos Saints. De qualquer forma, os Saracens costumam impor um jogo muito agressivo, bem pensado, articulado e físico. Em 28 jogos, só tiveram 4 derrotas… o que demonstra um rugby muito capaz de enfrentar qualquer adversário. Se no scrum o trabalho dos 8 é muito bem feito, o alinhamento lateral também tem grandes vantagens ante os adversários… ter Vunipola a 8 abre um mundo de oportunidades.

 

Numa equipe que despontam alguns dos melhores jogadores da Europa, é fundamental destacar Maro Itoje, o 2ª linha do futuro. 21 anos, só tem 21 anos e já é considerado para ser parte do grupo forte da Seleção Inglesa, para além de ser um dos comandantes da avançada dos Sarries… “filho” de Paul Gustard, é um mágico do breakdown, onde consegue recuperar bolas a uma velocidade tal, que aproveita para encontrar espaço e quebrar a linha de defesa adversária. Internacional inglês com 20 anos, conseguiu fazer parte do grupo que conquistou as Seis Nações 2016, aquele Grand Slam obtido sob o comando de Eddie Jones. Itoje nesta temporada conseguiu marcar dois tries na Champions Cup, tendo jogado em 5 dos 6 jogos da fase de grupos, mais os dois jogos da fase a eliminar, provando-se fundamental no xadrez dos Sarries. É ver os números: 150 metros conquistados (divididos por sete jogos, uma média de 21 por jogo) em 59 carries (média de 8), isto em termos de ataque… já conseguiu dois tries em toda a prova, gosta de estar envolvido no maul dinâmico e é um jogador inteligente com a bola nas mãos (este nova vaga de jogadores das academias tem as habilidades muito apuradas sem terem perdido nada do seu melhor rugby de avançados). Em termos defensivos, as boas notícias continuam: 63 tackles confirmadas (só falhou 5 em toda a competição), mais 9 turnovers e um dos melhores contestantes dos alinhamentos adversários (já “roubou” 8 bolas no ar). Este é só uma das “pérolas” do reino dos Saracens, que tem Owen Farrell (chutador da seleção inglesa), Jamie George (hooker com grande futuro… mas seu problema são as lesões), Brad Barritt (centro de elevado nível), Chris Ashton (apesar dos problemas de “fúria” que lhe ocorrem, é um dos pontas que melhor sabe usar o espaço) ou George Kruis (outro segunda linha de alto gabarito).

O que esperar do Racing? – colaboração de Francisco Isaac

E o que dizer das valências do Racing? A equipe de Paris tem uma equipa francamente inteligente e que tem assumir o jogo… não é uma equipa que ao ficar sem bola entra no desespero, pelo contrário. Paciência, carisma e champagne. O try contra os Tigers de Juan Imhoff, nasce de um misto de manha (Rokocoko a impor a sua experiência), champagne (offload atrás de offload), velocidade (a velocidade em que a bola saia do ruck é impressionante) e eficácia (todos os jogadores sabem o que tinham a fazer naquele momento), algo que é imposto pela equipa técnica do Racing. A “cintura” defensiva do Racing aguenta bem, não é tanto de impor uma pressão alta (como os Sarries), mas de uma defesa mais expectante na maioria das unidades, dando primazia aos pontas de subir repentinamente para tentarem recuperar a bola, como no caso do try contra o Toulon, da autoria de Imhoff (ver vídeo abaixo). Contudo, há erros nesta equipa do Racing 92 que pode “estragar” ou quebrar as suas rotinas… penalidades e faltas no chão, alguma passividade defensiva e erros infantis (o pontapé do 16-16 contra o Toulon, provém de uma falta pouco inteligente do nº9, Machenaud). Não tem a mesma capacidade física que os Saracens, algo que ao longo do jogo poderemos verificar. O tackle não parece ser um problema, mas o breakdown será interessante de se ver… não é um setor bem trabalhado, ou pelo menos, que têm um poderio que vá fazer diferença frente aos ingleses.
Mediante estas ideias, fatos, jogadores e pormenores, quem sairá com o troféu? Quem vai ganhar cada alinhamento? E conseguirão os parisienses parar Vunipola, o rei da saída das formações ordenadas? Perante Daniel Carter, qual é o “antídoto” para parar a técnica de pontapé ou a velocidade de mãos?

 

E se nos Saracens falamos em Itoje, vamos dar destaque ao hooker do Racing, uma vez que tem só 20 anos e já é internacional pela seleção francesa (4 jogos). O pilar jogou 16 dos 23 jogos da equipa no Top14, mais 8 na Champions, somando dois tries na liga francesa. Interessante, é o fato de em 8 jogos ter sido sempre suplente utilizado (exceto o ultimo jogo da ronda em que perderam contra o Glasgow), mas com números interessantes: 111 metros conquistados (13 de média por jogo), 47 bolas carregadas (média de 6, aproximadamente, por encontro), 40 tackles (apenas 2 perdidos), 4 turnovers e 100% de eficácia na introdução de bola no alinhamento (foi chamado ao serviço por 29 vezes). Ora, Camille Chat tem todo um posicionamento muito interessante para quem esteve no banco tanto tempo, em oposição com o seu homônimo, Dimitri Szarzewski, que jogou 6 jogos e teve números mais baixo que Chat: 44 tackles (7 por jogo, tendo falhado 8), 1 turrnover, 49 metros conquistados para 29 carregadas de bola (o que prefaz 1,25 por cada carregada, enquanto Chat tem 2,5 por cada) e 1 try. Chat tem todas as condições para ser o grande novo líder da avançada do Paris e da França, com um espírito de luta inigualável, um boa noção de habilidades (mãos muito velozes, um side step bem curioso para quem pesa 101 quilos), velocidade aguerrida (vejam o vídeo abaixo para perceber) e todo um poder próprio de um avançado que é um cruzamento da velha escola com a nova realidade. Para além de Chat, o time de Paris está munido ainda Johan Goosen, Cedate Gomes, Eddy Ben Arous, Luc Barba, Etienne Dussarte ou Louis Dupichot.

 

Quem levará o duelo? Faça suas apostas, porque o jogo promete ser épico, com certeza.

Montpellier e Harlequins, outra desafio “dos cem anos”

Na noite de sexta-feira, as atenções se voltarão para a grande final da Challenge Cup, a segunda copa europeia, que colocará frente a frente o maior campeão do torneio, o Harlequins – de Londres, assim como o Saracens – e os franceses do Montpellier, que jamais foram campeões de nenhum dos dois grandes torneios do Velho Continente.

 

Em jogo para as duas equipes estará também a classificação direta para a Champions Cup 2016-17. O Montpellier, atual vice líder do Top 14 francês, sabe que não depende da Challenge Cup para ter vaga na Champions Cup e vai em busca daquela que seria a maior conquista de sua história, para justificar os pesados investimentos feitos no elenco comandado pelo técnico Jake White, campeão da Copa do Mundo de 2007 comandando a África do Sul.

 

Para os Quins, por outro lado, é tudo ou nada, pois os londrinos não conseguiram vaga na Champions Cup via Premiership inglesa e têm essa última chance para jogarem o maior torneio europeu na próxima temporada. Além disso, evidentemente, a vitória significaria o quarto título da Challenge Cup para o Harlequins, que já é o maior campeão do torneio e estaria reafirmando sua supremacia na competição. Os Quins jogam ainda por algo a mais: essa será a última partida de Conor O’Shea no comando do time, já que o treinador irlandês assumirá a seleção da Itália a partir de agora.

 

Os dois times já se enfrentaram 4 vezes na história, com 3 vitórias dos ingleses e apenas 1 dos franceses. Entretanto, o último duelo teve justamente vitória do Montpellier, em janeiro deste ano, por estrondosos 42 x 9, na França, na fase de grupos do torneio. Em Londres, em novembro do ano passado, a vitória coube ao Harlequins por também elásticos 41 x 18.

 

O que esperar da partida? Muitos pontos, se o histórico dos duelos for mantido. Do lado do Montpellier, o grande desfalque será François Trinh-Duc, lesionado. Com isso, White contará com o sul-africano Catrakilis para a camisa 10, jogando ao lado de uma seleção de Springboks: os irmãos Du Plessis, Bismarck e Jannie, Pierre Spies e François Steyn, entre outros sul-africanos. O time ainda tem os Wallabies Nic White, Ben Mowen e Jesse Mogg, os fijianos Akapusi Qera e Timoci Nagusa, o georgiano Kubriashvilli e os Bleus Nicolas Mas, Fulgence Ouedraogo, Julian Malzieu, entre outros.

 

Os Quins, por outro lado, têm nomes do calibre de Joe Marler, James Horwill, Chris Robshaw, Netani Talei e Nick Easter no pack, Danny Care, Nick Evans, Jamie Roberts, Tim Visser, Marlande Yarde e Mike Brown na linha. O jogo é grande também.

 

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Rugby Champions Cup 2015-16 – Copa Europeia de Rugby

Final – Sábado, dia 14 de maio

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12h45 – Racing (França) x Saracens (Inglaterra), em Lyon (França) – ESPN AO VIVO

 

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Rugby Challenge Cup 2015-16 – Copa Desafio Europeu

Final – Sexta-feira, dia 13 de maio

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16h00 – Montpellier (França) x Harlequins (Inglaterra), em Lyon (França)

 

*Horários de Brasília

 

Lista de campeões da Champions Cup/Heineken Cup:

1 – Toulouse (França) – 4 títulos

2 – Toulon (França) – 3 títulos

Leinster (Irlanda) – 3 títulos

4 – Leicester Tigers (Inglaterra) – 2 títulos

Munster (Irlanda) – 2 títulos

Wasps (Inglaterra) – 2 títulos

7 – Bath (Inglaterra) – 1 título

Brive (França) – 1 título

Northampton Saints (Inglaterra) – 1 título

Ulster (Irlanda) – 1 título

 

Lista de títulos por país:

1 – França – 8 títulos

2 – Inglaterra – 6 títulos

Irlanda – 6 títulos

 

Lista de campeões da Challenge Cup:

1 – Harlequins (Inglaterra) – 3 títulos

2 – Clermont (França) – 2 títulos

Gloucester (Inglaterra) – 2 títulos

Northampton Saints (Inglaterra) -2 títulos

Sale Sharks (Inglaterra) – 2 títulos

6 – Bath (Inglaterra) – 1 título

Biarritz (França) – 1 título

Bourgoin (França) – 1 título

Cardiff Blues (Gales) – 1 título

Colomiers (França) – 1 título

Leinster (Irlanda) – 1 título

Pau (França) – 1 título

Wasps (Inglaterra) – 1 título

 

Lista de títulos por país:

1 – Inglaterra – 11 títulos

2 – França – 6 títulos

3 – Gales – 1 título

Irlanda – 1 título