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No próximo sábado, dia 28, a Inglaterra irá parar para uma grande final da Aviva Premiership, que irá lotar Twickenham para assistir ao Saracens, atual campeão nacional e campeão europeu, encarando o Exeter Chiefs, que chega à primeira final da Premiership em sua história. A ESPN+ irá exibir o duelo ao vivo, às 13h00, hora de Brasília.

 

Não o sabemos como será o jogo. Haverá tries? vai depender, em muito, do que os Chiefs conseguirem nos primeiros vinte minutos, mas já explicaremos melhor esta ideia no seguimento do texto. Vamos à época em geral de cada uma das formações inglesas… comecemos pelos campeões em título, os Saracens ou Sarries, uma das mais temíveis equipes da Europa: atravessam a sua época de Ouro, que culminou com o título europeu, com a vitória por 21-09 na Champions Cup frente ao Racing de Dan Carter, Juan Imhoff e Maxime Machenaud.

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Em 2009/2010 a equipe londrina conseguiu ir à sua segunda final na Aviva (primeira na época longínqua de 1998/99), que perdeu para o Leicester Tigers por 33-27, com um try de Hipkiss ao minuto 77’. A partir daí e até 2015/16, a equipe dos Sarries só falhou, por uma vez, o acesso à final, que foi na temporada de 2012/13. Pelo caminho conquistou dois campeonatos, o 1º em 2010/2011, naquela que foi a vingança ante os Tigers (22-18) e em 2014/2015, despacharam o Bath por 28-16, com Owen Farrell a somar uma exibição soberba (18 pontos). Para além das duas Avivas, uma Champions Cup, conquistaram a Taça Anglo-Welsh, ou como é mais conhecida, a LV CUP, enchendo a sua galeria de títulos no espaço de 5 anos. Houve um homem que foi importante para este processo todo, a que se dá pouco mérito… Eddie Jones. O agora selecionador inglês, esteve entre 2007 e 2009 à frente dos destinos dos Sarries, mexendo com toda a estrutura do clube, pondo a academia dos Saracens, onde saíram grandes símbolos do clube como Owen Farrell (estreou-se com 17 anos), Maro Itoje (o formidável novo futuro da 2ª linha inglesa), Jamie George (considerado um dos melhores hookers a nível Mundial), Alex Goode (considerado em 15/16 o melhor jogador da liga inglesa) ou George Kruis (o fiel companheiro de Itoje e um Rei das alturas).

 

Com uma gestão preciosa do seu plantel (talvez o mais forte em termos de soluções no banco) a equipe de Mark McCall (no clube desde 2009/2010) está a pavimentar todo um novo futuro no rugby inglês, que não é só com os “tijolos” da Academia dos Sarries, mas também, pela excelente política de contratações levada a cabo: os irmãos Vunipola (Mako proveio do Bristol e Billy dos Wasps), Chris Wyles (Northampton Saints até 2007), Chris Ashton (um santo também até à época de 2012) ou Brad Barritt (nascido na África do Sul, saiu dos Sharks para se arriscar nos Saracens há várias épocas atrás). Na presente temporada os Sarries, somaram 18 vitórias em 23 jogos, contando-se 4 derrotas e 1 empate, com 60 tries marcados e 36 sofridos. Não são o melhor ataque, esses foram os Wasps com 598 pontos (71 tries, a par dos Chiefs com 71 também), nem foram a melhor defesa, que recaiu nas “mãos” dos Chiefs (361 pontos sofridos). Mas é a equipe mais eficiente, inteligente e intensa, é aquela que sabe potenciar as suas qualidades e esconder as suas falhas e é aquela que tem os “olhos” postos no prêmio. Estão habituados a ganhar e isso é um elemento fulcral para continuar a somar títulos e recordes, algo que sustenta todo o seu futuro.

 

Analisemos só alguns aspectos do seu jogo, para que vocês não ficarem surpreendidos com o que se pode passar na final: eficácia nas fases estáticas, imperando, com classe, nos alinhamentos e um domínio “agressivo” na formação ordenada. Itoje, Kruis e Fraser ou Rhodes sabem ganhar qualquer tipo de bola no ar, assim como “roubar” às dos seus adversários (média de dois turnovers por jogo). Nas formações ordenadas, Vunipola sai a uma velocidade imparável e tem um “gênio” no contacto, abrindo linhas e espaço para que Wigglesworth faça a bola chegar às linhas atrasadas. Com Farrell e Goode a chutarem sempre com uma eficácia quase de 95%, a equipe dos Sarries ainda se completa, ainda mais, com os dois pontas que sabem explorar bem o espaço e o caminho para o try (ao todo 16 tries, 11 de Ashton e 5 de Wyles). Brad Barritt, o capitão da turma dos Saracens, é uma lenda no clube com 144 jogos pelos Saracens, onde a forma como entra no contacto, a raça que aplica em cada jogada e a vontade de levar a sua equipe ao destino final. A equipe é perfeita, não há dúvidas disso, tem das melhores combinações entre linhas de avançados e ¾’s, sabe gerir a bola, sabe meter o ritmo de jogo ao seu gosto e não tem pressas, acreditando sempre, mesmo nas piores alturas, que o jogo vai acabar por reverter a seu favor. No caminho para a final “atropelaram” os Leicester Tigers por 44-17 (que diferença num par de temporadas), com tries de Ashton e Wyles (dois para cada um deles, o que sobe a conta para 20 tries em toda a temporada). São os campeões em título, são os campeões europeus e têm vários jogadores da Inglaterra do Grand Slam… os favoritos portanto?

 

A temporada dos Chiefs foi quase estupenda, com a classificação para as quartas de final na Champions Cup, após ultrapassar um grupo onde estava o Clermont, Ospreys e Bordeaux-Bègles. Nas quartas de final caiu em casa dos Wasps, por 24-25, fruto de um try de Piutau no último segundo de jogo e a conversão soberba de Gopperth. Ora, a “vingança” serviu-se muito quente, já que as semifinais da Aviva Premiership passaram por Sandy Park (o estádio dos Chiefs) com a equipe dos “índios” a derrotar os londrinos por 34-23. Nesse jogo, a equipe de Rob Baxter superiorizou-se, totalmente, perante as “vespas” que chegaram a estar na frente do encontro até ao minuto 20, altura em que os tries dos Chiefs começaram a aparecer. Jack Nowell não rubricou qualquer try, mas foi o jogador mais importante de toda movimentação ofensiva… 150 metros conquistados, foi responsável pelas jogadas que originaram os tries da sua equipe e para além disso, o turnover que fez a James Haskell ficará na memória de todos. Mas afinal quem é RobBaxter? E quem são estes Chiefs? Para explicar melhor esta “doença” exteriana, temos de olhar para os últimos cinco anos de evolução e crescimento dos ingleses.

 

Em 2009/2010, após 12 anos na 2ª divisão inglesa (Championship), o Exeter conseguiu a promoção à elite com uma vitória na final frente ao Bristol (no agregado 38-16), estreando por completo no Aviva Premiership, sempre sob as ordens de Rob Baxter (faremos menção ao treinador no seguimento do texto). O normal, na época seguinte, seria lutar para não descer, mas o que se passou em 2010/2011 foi precisamente o contrário. A equipe de Exeter aguentou-se com todas as forças, garantindo cedo a manutenção no Aviva Premiership, com um bom 8º lugar (43 pontos), em que ficou só a 9 pontos de um apuramento para a Challenge Cup (a Liga Europa do rugby). Gareth Steenson, abertura irlandês garantiu 177 pontos quase sempre ao pontapé, algo que se tornou natural para os lados de Exeter (está desde 2008 com os Chiefs), e que mesmo com a chegada de Henry Slade em 2011 (na altura era um jovem suplente) manteve a sua posição como o nº10 em Exeter.

 

Desde a promoção em 2010 até à época presente, não deixaram de conseguir um mínimo de 45 pontos, ficando sempre longe dos lugares da descida ou dos mais baixos da grelha, com a época de 2012/2013 a atingirem, pela 1ª vez na sua história, a Heineken Cup/Champions Cup (ficariam em 3º lugar na fase de grupos com 12 pontos). 2014/2015, quase que atingiram outro “sonho”, o das semifinais da Aviva Premiership, mas devido à pior diferença de pontos marcados/sofridos (20 pontos), ficaram de fora do 4º lugar, terminando a temporada com 68 pontos, com Steenson (198 pontos) e Tom Waldrom (16 tries o que equivale a 80 pontos) como os melhores marcadores de Exeter – o nº8 conseguiu mesmo conquistar o título de melhor marcador de tries do campeonato. O crescimento altamente sustentado, com uma equipe técnica bem apetrechada tem ganho adeptos por todo o lado.

 

Reparem que a equipe B, os Exeter Braves, conquistaram o campeonato dos B’s, algo que reforça a ideia de que o clube está em amplo crescimento. Nesta temporada os Chiefs somaram, até ao momento, 16 vitórias e 7 derrotas, ocupando o 2º melhor ataque da prova (585 pontos na fase regular mais os 34 da meia-final) e a melhor defesa de Inglaterra (361 na fase regular). É a equipe que faz valer pelo colectivo, que transforma jogadores pouco conhecidos ou “ultrapassados”, em verdadeiras “astros” do Aviva Premiership, como o caso de Thomas Waldrom, Don Armand, KaiHorstman ou James Short. Veja-se o caso do nº8, Wladrom, jogador dos Leicester Tigers entre 2010 a 2014, onde conseguiu chegar à seleção Inglesa em 2012 (4 jogos). Mas entre 12/13 e 13/14, as exibições entraram num declínio e, facilmente, chegaram a consenso com os Chiefs para a venda dos direitos. Nada melhor, entre 14/15 e 15/16, Thomas Waldrom marcou cerca de 38 tries em duas temporadas, sagrando-se o melhor marcador tanto na época anterior como esta. E quem está por detrás deste excelente trabalho? RobBaxter, que está desde 1991 no clube, onde jogou durante 14 épocas (10 como capitão) ocupando a posição de 2ª linha, nos tempos mais “obscuros” dos Chiefs, que andavam entre NationalLeagueTwo/One. Para azar do time de Devon, Waldrom estará de fora da final, lesionado.

 

Em 2005, Baxter se retirou dos campos para ingressar na equipe técnica do seu clube de sempre… para em 2007, após falhada nova subida à Championship, assumir o papel de head coach. Foi com o antigo segunda linha que o Exeter começou a somar títulos (National League One, Championship e a LV= Cup) e a ganhar um destaque preponderante no rugby ingês. Os Chiefs jogam um rugby baseado no coletivo, com uma pressão alta, onde assumir o risco é uma das virtudes. Uma avançada que sabe trabalhar bem o maul dinâmico e umas linhas atrasadas bem ágeis e criativas. O apoio é fundamental em todo o processo ofensivo e defensivo dos Chiefs, é algo similar ao que se passa com a Nova Zelândia, o que exige, fisicamente, o máximo dos seus jogadores. Têm um chutador letal, G. Steenson, o irlandês que está com os Chiefs desde 2008, nunca mais abandonando o lugar de abertura do Exeter… já vão 1,421 pontos, com todo o tipo de pontapés que podem e devem imaginar.

 

Sábado, dia 28 de maio

Saracens logo     versus copiar     exeter

13h00 – Saracens x Exeter Chiefs, em Twickenham, Londres – ESPN+ AO VIVO

 

*Horário de Brasília

 

Escrito por: Francisco Isaac