Tempo de leitura: 7 minutos

Estamos a um passo da Copa do Mundo. E o último grande torneio antes do Mundial está para começar. Nessa sexta-feira, será dado o kickoff para um reduzido, mas não menos empolgante The Rugby Championship, o mais importante campeonato de seleções do Hemisfério Sul, e o mais forte campeonato anual do mundo. Em campo, All Blacks, Springboks, Wallabies e Pumas, ou melhor, Nova Zelândia, África do Sul, Austrália e Argentina, respectivamente ranqueadas no 1º, 2º, 6º e 8º lugares do ranking mundial do World Rugby. Tudo com transmissão para o Brasil dos canais ESPN.

 

Lançado em 1996 com o nome de Tri Nations, o Rugby Championship foi transformado em seu atual formado em 2012, com a entrada da Argentina na competição. Porém, esta será a primeira vez desde sua repaginação que o campeonato ocorre em um ano de Copa do Mundo e, portanto, dentro de um calendário já apertado, o que obrigou a organização a transformar esta edição em um formato de apenas um turno, com os times se enfrentando somente uma vez. A vantagem é de África do Sul e Austrália, que jogarão duas vezes em casa e apenas uma fora, ao passo que Nova Zelândia e Argentina terão que se deslocar suas vezes e receberão apenas uma partida. Para a Argentina, a situação apenas agrava sua inferioridade, mas o fato do jogo contra a seleção mais fraca entre as demais, a Austrália, ser novamente em solo argentino ajuda os Pumas a sonharem vivamente com sua segunda vitória na história do campeonato.

- Continua depois da publicidade -

 

Já na luta pelo título, a hegemônica Nova Zelândia, que venceu todas as três edições com a presença dos Pumas, terá que provar sua superioridade enfrentando fora de seus domínios suas duas rivais pelo título, África do Sul e Austrália, que ganham uma chance de ouro para voltarem a levantar o troféu. Nesse caso, a Austrália tem ainda a vantagem extra de receber também a África do Sul, o que assegura ainda mais equilíbrio entre as três equipes. Caso os All Blacks vençam o título pela quarta vez seguida, igualando seu recorde de título consecutivos, obtido entre 2005 e 2008, seu status de seleção quase imbatível será reforçado e lhe dará uma força moral ainda maior para a Copa do Mundo. Para os Springboks, o título, com vitória sobre os neozelandeses, colocaria a certeza sobre sua condição de seleção com mais chances de tirar o título mundial dos All Blacks, e afastaria o fantasma dos insucessos, já que o time não vence nada desde o Tri Nations de 2009. Para os Wallabies, o título seria um marco para o renascimento de uma seleção desacreditada, dando vida nome à seleção que levantou seu último troféu em 2011.

 

E para os Pumas? Sendo realista, o título é quase impossível, mas pela primeira vez a Argentina tem reais chances de não acabar em último lugar e, com uma vitória ao menos, pode iniciar um virtuoso hábito de vitórias sobre os grandes. É o passo adiante que está em jogo.

 

Grande desafio para os All Blacks

A hegemonia vem sendo absoluta e a Nova Zelândia desde a criação do Rugby Championship venceu todos os títulos em disputa. Porém, jogando os dois jogos mais importante fora de casa, os All Blacks correm riscos reais de perderem em 2015, às vésperas da Copa do Mundo, seu domínio no Hemisfério Sul. Ainda assim, a Nova Zelândia é, sem dúvida, o melhor time na disputa, e chega em alta, sobretudo pelas grandes campanhas de suas franquias no Super Rugby, mas, pelo mesmo motivo, mais desgastada fisicamente, o que pode fazer a diferença. A equipe parece ainda mais forte que no ano passado, combinando experiência de ícones como Dan Carter, Richie McCaw, Kieran Read, Keven Mealamu, Ma’a Nonu e Conrad Smith, com a plena forma de astros ascendentes como Brodie Retallick, Aaron Smith, Julian Savea e Milner-Skudder. É difícil apontar uma fraqueza no time negro, mas o time ainda não é perfeito nos laterais, uma das duas únicas estatísticas que os All Blacks não lideraram no ano passado. A outra foram os rucks, nos quais incrivelmente o time da terceira linha fabulosa ficou em último lugar. Com isso, luzes para Retallick, Broadhurst e Romano na segunda linha, McCaw, Read, Kaino e Messam na terceira linha. É evidente que eles podem mais e buscarão corrigir as pequenas deficiências.

 

Na linha, a “preocupação” está na posição de abertura, com a perda de Aaron Cruden. Na verdade, não se trata de um problema, e sim de encontrar que é a mais perfeita solução: Sopoaga, Barrett ou Carter? É evidente que Carter é um dos maiores jogadores da história da equipe, mas a idade e a temporada discreta não o colocavam com a camisa 10 de forma inquestionável, podendo inclusive ser usado como 12, e ainda ficar como opção de luxo no banco. Sopoaga fez uma temporada brilhante pelo Highlanders, ao passo que Barrett faltou apenas convencer nos chutes a gol.

 

Springboks descansados e famintos

A África do Sul entra no torneio cotada como o segundo mais forte do mundo, e ainda terá a vantagem de jogar em casa contra os All Blacks. O problemas para os Springboks está na estreia, fora de casa, contra os Wallabies, jogo que determinará logo de cara as chances de título dos dois times. Os Boks vivem com um sentimento de que poderiam ter ganho mais do que realmente conseguiram nos últimos anos, vivendo na sombra dos All Blacks nas horas decisivas. O desempenho dos times sul-africanos no Super Rugby foi ruim, mas os Boks não necessariamente serão afetados por isso, pois nem todos os atletas atuam no Super Rugby e, com as eliminações precoces, seus atletas tiveram maior tempo de recuperação que a base das seleções neozelandesa e australiana.

 

O pack segue sendo a grande força da equipe, sobretudo sua segunda linha e seu lateral. Victor Matfield é o líder do time, mesmo com 38 anos, jogando o fino do rugby, enquanto sua terceira linha tem condições de colidir de frente com a Nova Zelândia e fincar seu nome no topo do mundo. Afinal, o time conta com Duane Vermeulen (lesionado no início da campanha), Schalk Burger, Marcell Coetzee e François Louw. Na criação, Handré Pollard é um abertura em ascenção e cada vez mais completo, ao passo que na linha a África do Sul tem a sensação de que encontrou uma formação letal e confiável, com destaques para Willy Le Roux e Damien De Allende, ambos em alta, enquanto Jesse Kriel tem tudo para se firmar na equipe. O Rugby Championship é o momento de ouro para os Boks reconquistarem a confiança de campeões.

 

Wallabies com a tabela debaixo do braço

A Austrália, dos três gigantes, é o mais frágil e turbulento, mas entra no torneio de 2015 com a tabela de jogos a seu favor, pois receberá All Blacks e Springboks. A temporada passada foi muito ruim para os aussies, que se tornaram os primeiros dos bicampeões mundiais a perderem para a Argentina. Lesões, confusões, falta de confiança, tudo abalou a equipe, mas em 2015 as campanhas boas de Waratahs e Brumbies no Super Rugby deram vida nova às expectativas australianas. Porém, Reds e Force foram muito mal no torneio, e alguns atletas da seleção estiveram muito abaixo do esperado neste ano.

 

Como em outros anos, a preocupação maior está na primeira e segunda linhas, onde a Austrália está abaixo de seus rivais – apesar da ótima forma do hooker e capitão Stephen Moore. Os Wallabies sofrerão, mais um vez, inclusive contra a Argentina nesses setores, e as formações poderão cobrar um preço caro dos Wallabies. Na terceira linha, por outro lado, a força da equipe é inquestionável, com David Pocock voltando ao seu melhor e jogando ao lado do incansável Michael Hooper. Os aussies podem impôr grandes dificuldades para All Blacks e Springboks e deslocar o foco da partida das formações fixas para o embate por penais no breakdown. Na linha, a categoria de Israel Folau é inquestionável, mas as atenções estão nas voltas do matador Drew Mtchell e do maestro Matt Giteau, que poderá trazer estabilidade, calma e humildade ao time, o que pode fazer muito bem para a cabeça de Quade Cooper, que, quem sabe, poderá voltar a brilhar no torneio jogando ao lado do velho ídolo. A princípio, a Austrália é a terceira força, mas as chances de título são reais, e fariam um bem inestimável aos Wallabies às vésperas do grupo da morte da Copa do Mundo.

 

Atenção, Pumas em construção

Indubitavelmente a Argentina é a seleção mais fraca do torneio, e é natural que seja, afinal, são somente quatro anos jogando o Rugby Championship, e foram precisos três anos para os Pumas conquistarem sua primeira vitória no torneio, batendo a Austrália em casa. Em 2015, a situação é complicada para os argentinos, que fazem somente um jogo a domicílio, mas é justamente contra os Wallabies, o que significa que a tão aguardada segunda vitória não e nada improvável, muito pelo contrário. A Argentina não é candidata ao título, nem do Rugby Championship, nem da Copa do Mundo, e seria utópico pensar que os Pumas têm condições de vencer um desses torneios. Não têm, sobretudo pelo fato de jamais na história terem vencido Nova Zelândia ou África do Sul (apesar dos argentinos considerarem, e com razão, uma vitória, em 1982, sobre os Springboks, jogando com o nome de Jaguares sul-americanos).

 

A geração atual não tem a mesma força do brilhante time de 2007, e quando seus atletas passarem a jogar o Super Rugby, a partir do ano que vem, certamente um passo adiante será dado. O time tem qualidade, sobretudo no pack, e é capaz de impor grande dificuldade nas formações, especialmente no scrum, a seus três oponentes, sobretudo à Austrália. A primeira linha com Ayerza, Creevy e Herrera não fica devendo para nenhum time do mundo e é a grande arma da Argentina. As dificuldades aparecem para a equipe no sistema criativo, com a ausência de um scrum-half do mesmo nível dos demais concorrentes. No ano passado, Nicolás Sánchez se mostrou um confiável abertura, mas ainda tem um bom caminho a percorrer para atingir o mesmo nível de Dan Carter, Lima Sopoaga, Quade Cooper ou Handré Pollard. A ausência de Juan Martin Hernández, como sempre, será sentida, assim como a falta de Manuel Montero, também lesionado. Um elenco que tem tudo para crescer nos próximos anos, e é preciso dar tempo ao tempo.

 

The Rugby Championship

The Rugby Championship 2015

*Horários de Brasília

1ª rodada

Sexta-feira, dia 17 de julho

04h35 – Nova Zelândia x Argentina, em Christchurch

 

Sábado, dia 18 de julho

07h00 – Austrália x África do Sul, em Brisbane

 

2ª rodada

Sábado, dia 25 de julho

12h00 – África do Sul x Nova Zelândia, em Joanesburgo

19h40 – Argentina x Austrália, em Mendoza

 

3ª rodada

Sábado, dia 08 e agosto

07h00 – Austrália x Nova Zelândia, em Sydney

12h00 – África do Sul x Argentina, em Durban

 

Lista de campeões do Tri Nations/The Rugby Championship (desde 1996)

1 – Nova Zelândia – 13 títulos

2 – África do Sul – 3 títulos

Austrália – 3 títulos