Foto: Super Rugby

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ARTIGO OPINATIVO – O Mundo do Super Rugby AU ficou de pernas para o ar nesta jornada, já que os dois primeiros classificados foram abatidos lançando toda a competição australiana numa grande dúvida, isto quando faltam poucas rondas para as meias-finais. Será este o momento de Rebels e Waratahs, ou foi só um pequeno deslize de Brumbies e Reds?

“Ups”: quando um jogador pode fazer toda a diferença

Jake Gordon, merece todos os elogios possíveis perante a exibição extraordinária que realizou, dinamizado o ataque dos Waratahs para um patamar tal que foram capazes de sair para o intervalo a ganhar por 38-00 o maior diferencial de todo o Super Rugby AU. Num dos encontros mais aguardados do calendário do rugby do Hemisfério Sul, pois Waratahs e Reds detêm uma das rivalidades mais antigas do Planeta da Oval, a formação de New South Gales foi intratável durante todo o jogo, impondo um ritmo acelerado e apetrechado de excelentes combinações e de um apoio ao portador da bola dinamizador que ia desmanchando a estrutura defensiva dos Reds – mais à frente falaremos da parca atitude na linha de defesa -, tendo sido Jake Gordon uma das peças, senão “a peça”, essencial para a conquista dos 5 pontos.

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O formação ocupou o lugar de Mitch Short e desde o apito de início de jogo foi intratável com a bola nas mãos, empurrando os avançados para que estes assumissem protagonismo (algo que faltou nas jornadas anteriores) e fossem responsáveis por edificar a plataforma de jogo básica para depois se seguir a típica participação das linhas atrasadas, assistindo-se uma maior lucidez nas decisões e quando arriscar, com Jack Maddocks, Will Harrison e Karmichael Hunt a criarem constantemente espaços para se seguir uma oportunidade até o try.

Tudo fez sentido quando Gordon assumiu o protagonismo, apanhando os Reds completamente desprevenidos, já que a franquia de Queensland mostrou-se demasiado apática na segunda cortina defensiva ou no conseguir parar as ações do formação junto ao ruck. Três tries, quatro quebras de linha, quatro defesas batidos, alguns tackle busts e um passe tanto astuto como tenso, foram alguns dos elementos que deram outra capacidade e confiança ofensiva aos ‘tahs nesta vitória que lhes dá um fôlego necessário para a parte final da fase regular.

Em termos de ganhar um balão de oxigênio, será que os Brumbies terão precisado após o fim do jogo ante os Melbourne Rebels, pois andaram constantemente a correr atrás não só do prejuízo mas da maior potência ofensiva dos seus adversários. A franquia liderada por David Wessels tem sido responsável por um crescimento auspicioso e que promete colocar várias dúvidas em relação a quem vai estar na final do Super Rugby AU daqui a algumas semanas e a forma como facilmente derrotaram os super-favoritos Brumbies serve de exemplo.

O “truque” foi fazer um bom uso das oportunidades disponíveis para fazer pontos, conseguindo 27 pontos nos primeiros 40 minutos o que fez toda a diferença no final de contas. Contudo, a maneira como bloquearam o maul dinâmico dos Brumbies, a “agressividade” e agilidade imposta no breakdown e a saída explosiva no contra-ataque foram elementos que limitaram totalmente toda a ação da equipa contrária, e não há como não destacar o papel de Matt Phillip (as prestações compactas poderão lhe valer uma chamada aos Wallabies no futuro próximo), Isi Naisarani, Marika Koroibete e Matt To’omua nos aspectos da liderança, turnover, entre outros aspectos.

Não há dúvidas que foi por vezes um jogo parado, com alguma confusão de um lado e outro – excessivas faltas -, só que foram os Rebels quem melhor respondeu às adversidades e quem tratou melhor a oval quando esteve em seu poder.

“Downs”: Reds sem vontade de taclear

Foi inimaginável ver os Reds a irem para o intervalo a perder por 38-00, um resultado não só inesperado mas tido como impossível no pré-jogo… como é que se gerou esta situação? Falta de atitude no primeiro tackle, capacidade de resposta no ruck e incapacidade para ser capaz de ter ao mesmo tempo paciência e rapidez para ler o que a franquia dos Waratahs procuravam a fazer a nível de movimentações de ataque. Brad Thorn não pode estar satisfeito com o que viu dentro de campo, pois todos os princípios de defesa e reação na defesa foram quase por completos postos de lado, demonstrando que a juventude dos Reds tem ainda problemas no que toca a tomar decisões ou a respirar e a invocar um estado mais calmo, voltando à carga com mais confiança e concentração.

Em termos de números totais não foi desastroso, terminando com uns 85% de eficácia na defesa, mas os vários erros de defesa ou de recepção de pontapés não surgem neste dado de eficácia do tackle, para além do facto de que a disponibilidade física para tentar pôr um ponto final numa ação ofensiva dos Waratahs foi inferior ao que se esperava de um elenco promissor e com qualidade.

Por fim, penalidades… foi talvez o fim de semana de maior “expressão” de erros no chão, de saídas em falso da linha de defesa, tackles altos ou outro tipo de erros que forçaram os dois árbitros e equipas de arbitragem a assinalar falta. No total dos dois encontros tivemos cerca de 58 penalidades, parando, por vezes, constantemente os jogos o que tirou algum brilho ao até bom rugby produzido por Waratahs ou Rebels. As novas regras do breakdown têm sido mal assimiladas quer pelos jogadores, treinadores e árbitros, com os dois lados a não perceberem o que têm de fazer ou de chegar a um meio-termo lógico e saudável para o espetáculo.

Veja-se que se um tacleador fica ensanduichado entre dois adversários no chão, como aconteceu com Naisarani por uma ocasião, e não consegue sair do ruck como é que o árbitro pode assinalar falta? Por outro lado, se um jogador tenta efetivamente sair, fazendo gestos e mostrando uma ação positiva para sair do caminho mas não consegue porque está a ser travado por um elemento da equipa contrária (não propositadamente), como é que se pode assinalar penalidade? A Nova Zelândia resolveu parcialmente este problema no Super Rugby Aotearoa, mas no Super Rugby AU parece ainda ser um entrave para que tenhamos bom rugby continuamente.

Os craques: Gordon, Paisami, Naisarani e Alaalatoa

Três tries e mais uma série de dados estatísticos que não servem para explicar a excelente prestação do internacional australiano que foi essencial para dar outra estrutura de jogo aos Waratahs.

Hunter Paisami cisma a querer ser um dos nomes-chave dos Reds, conquistando novamente mais de 100 metros com a bola em seu poder, para além das duas quebras de linha e sete defesas batidos na derrota dos Queensland Reds.

O poderoso nº8 dos Melbourne Rebels, Isi Naisarani, está a caminhar progressivamente para o seu melhor nível ocupando um lugar de importância nesta franquia, como se veem pelos 70 metros somados, duas quebras de linha e mais uma série de pormenores de enorme valia.

O último destaque vai para outro peso pesado do rugby australiano, de seu nome Alan Alaalatoa, que tentou lutar contra a passividade dos Brumbies, realizando mais de 18 tackles (todos efetivos) e dois turnovers, sem esquecer aquela qualidade no scrum.

Os números

Mais pontos marcados: Jake Gordon (Waratahs) – 15 pontos
Mais tries marcados: Jake Gordon (Waratahs) – 3 tries
Mais quebras de linha: Jake Gordon (Waratahs) – 4
Mais tackles: Alan Alaalatoa (Brumbies) – 18 (18 efetivos)
Mais turnovers: Vários – 2
Mais defensores batidos: Hunter Paisami (Reds) – 7
Melhor da Jornada: Jake Gordon (Waratahs)

Um dos ensaios de Jake Gordon recheado de inteligência (1:26)