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Muito importante, certamente dirão todos em uníssono, e provas não faltam disso no nosso Rugby, com Jacareí, São José, Curitiba e Pasteur invariavelmente ficando no topo de campeonatos estaduais e nacionais.

Mas na prática, é o que acontece?

Nas últimas semanas tivemos mais uma mostra de que não é bem assim, com a realização no mínimo pífia dos circuitos gaúchos (M19) e paulistas (M15 e M19) de sevens com a participação de no máximo 5 clubes, em um universo de supostamente mais de 100 equipes dentro dos dois estados. O M17 Paulista ainda será disputado nesse fim de semana, mas os prognósticos não são muito melhores. Até aqui, foram exatamente 10 clubes diferentes participando nessas etapas, e estamos falando de um torneio de Seven-a-side, não precisa de um elenco numeroso para jogar um torneio desse. No XV, foram 6 os times gaúchos e apenas dois times a mais em São Paulo (Piratas e Iguanas).

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O SPAC Lions, principal torneio do Seven-a-side nacional de clubes e uma das poucas oportunidades de jogos de alto nível para times de fora de São Paulo – não à toa, Rio Rugby, Niterói, Vila Real, Guaicurus entre outros, figuraram entre os participantes nos últimos anos – absorveu a disputa da Copa Cultura Inglesa da CBRu que se dará entre academias do alto rendimento e frustrou equipes como o Vitória (ES) que tinha planejamento avançado de participar do evento. O SPAC alegou a baixa procura de inscrições na categoria para aceitar receber o torneio da CBRu. Para arrematar, a única competição nacional organizada pela CBRu excluiu nada menos do que três categorias (M16 feminino, M15 e M17 masculinos), algo que não condiz com o desenvolvimento das categorias de base.

Ao menos no M17 e M19, colocar as disputas do Seven-a-side juvenil na principal época do ano letivo para eles, quando a maioria está fazendo os ajustes finais para prestar o vestibular ou ENEM é mais um exemplo da falta de planejamento voltado especificamente para as categorias de base, e pode explicar parte, mas certamente não a totalidade da falta de interesse na participação de outras equipes que possuem plantel para disputar os torneios. Não existe motivo para não antecipar as disputas já que seus campeonatos terminam no máximo em julho, a não ser não conflitar com os torneios adultos, que estão no seu auge nos meses de agosto e setembro por exemplo.

O que será então? Falta de campo? Falta de arbitragem? Impossibilidade de priorizar os juniores internamente, já que muitos treinadores também são jogadores da equipe principal? Falta de profissionais qualificados? Falta de interesse?

No nível nacional, a coisa não é muito melhor. Não é de hoje que o Portal do Rugby critica a forma como é conduzido o desenvolvimento da base no país e o público e jogadores que já passaram pela seleção começam a fazer coro cada vez mais alto para essa constatação. Ao realizar seletivas para jogadores M17 sem experiência no esporte procurando criar uma nova geração de atletas do zero e considerando apenas o nível atlético, a CBRu elimina a formação social desse jogador, ilustrado pelos valores do esporte e o senso de retribuição à sua comunidade de origem. além de tirar o incentivo dos clubes desenvolverem base, já que uma vez inserido no contexto das academias, ele deixa de defender a agremiação que o formou, deixa de inspirar as futuras gerações, deixa de criar laços.

Não é no alto rendimento que ele ele vai aprender os valores do Rugby e se em época de profissionalismo, você acha que isso é apenas conversa fiada, veja o que diz Brent Impey, o chairman de uma ilhota no meio do Pacífico que sabe mais que qualquer um aqui sobre o assunto ou ainda Agustín Pichot, vice-presidente da World Rugby e lenda dos Pumas em conferência recente da entidade.

Foto: Adriano Matos

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom, além dessa falta de planejamento com datas conflituosas com datas academicas, existe também o custo alto de participação das competições, nós do piratas estamos a no minimo 150km dos times que disputam o paulista juvenil, cada viagem sai caro.

    O planjemento adulto nos clubes como um todo ja não são dos melhores, e as dificuldades de incluir o planejamento juvenil, principalmente financeiro é de extrema dificuldade.

    Uma diferença que vejo entre os “atletas” brasileiros para nosso hermanos aqui do lado, é a fissura de estar na seleção ou migrar para um clube de série A e esquecem de olhar pra dentro de casa e auxiliar nas tarefas com juvenil e infantil. Os valores do rugby estão sendo passados, mas não absorvidos.