Foto: Blues

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ARTIGO COM VÍDEOS – Os Blues voltaram a derrotar os Hurricanes nesta temporada, agora para o Super Rugby Aotearoa, perante um preenchido Eden Park revelando estes dois marcos como um retorno a um passado mais feliz de uma franquia que atravessou uns francos maus anos. Mas antes deste encontro mais aguardado da 1ª jornada, decorreu o jogo de abertura da competição entre os Highlanders e Chiefs com a vitória a cair dos “céus” – literalmente – graças a um drop de excelência de Bryn Gatland, pondo o público no estádio (e em casa) num alvoroço! Mas foram justas estas vitórias de Blues e Highlanders? E onde falharam Chiefs e Hurricanes? Os quentesfrios desta primeira dupla de jogos do relançamento do Super Rugby!

UPs

Hoskins Sotutu e toda a avançada dos Blues, disso não há dúvidas. Se houve aspecto que explica a vitória da equipa de Auckland frente aos Hurricanes, foi o domínio avassalador dos avançados, com o nº8 Hoskins Sotutu a carimbar uma exibição de gala, destacando-se a capacidade para se soltar de placagens, manter a bola segura, de recuperá-la no breakdown (três turnovers) e de uma mobilidade constante que combinou com uma capacidade física desconcertante e surpreendente. Blake Gibson, Dalton Papalii ou Tom Robinson desconstruíram os processos ofensivos da franquia adversária, escolhendo bem os momentos para “assaltar” os rucks, caçando com elegância o portador da bola no chão depois de uma placagem quase sempre bem armada.

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Foram 120 placagens realizadas pelos avançados dos Blues – contamos aqui com os suplentes que entraram em campo -, com 111 a encontrarem o alvo, o que significa que apenas 9 foram consideradas como falhadas, mostrando a concentração e o compromisso real dos homens “pesados” de Leon MacDonald neste clássico neozelandês, existindo ainda outro pormenor que foi essencial para tirar capacidade ofensiva aos visitantes: alinhamentos. Os Hurricanes beneficiaram de 19 introduções de bola, mas só conseguiram acertar no saltador por 12 ocasiões, apresentando uma taxa de insucesso excessivamente alta Isto acabou por desequilibrar por completo com a possibilidade de criar uma plataforma de jogo estável, incapacitando aquelas arrancadas de Laumape ou os sprint de Vince Aso. Os Blues dominaram por completo nos avançados, estes sempre bem comandados por Sam Nock, e deram o mote para que a equipa se galvanizasse a partir dos 15 minutos de jogo até ao apito final.

A inteligência dos Highlanders no uso da bola foi outro dos pontos quentes da semana, numa vitória que parecia improvável antes do encontro arrancar. A franquia treinada por Aaron Mauger foi letal na recepção aos Chiefs, mostrando um excelente sentido de oportunidade, onde Aaron Smith foi essencial para garantir esta vitória que acabou por só se confirmar com um drop de Bryn Gatland já perto do fim do tempo regular. Veja-se que do somatório total de metros percorridos com a bola na mão – no total das duas equipas o número final foi de 700 -, os Chiefs foram donos de mais de 60% (430) mas fizeram menos um ensaio que a equipa da casa, enquanto que os landers foram sabendo encontrar as falhas da equipa adversária para marcar pontos sem ter que um controlo absoluto da posse da oval.

Sem Josh Ioane na posição de 10 – o polivalente 3/4’s sofreu uma pequena lesão na manhã de preparação do jogo – e com um Mitch Hunt pouco “feliz” em alguns momentos, a franquia de Dunedin conseguiu superar esses dois “problemas” e agigantar-se na estratégia e táctica, equilibrando as peças à medida que era necessário procurar um jogo mais “fechado” ou de repente tentar sair numa fase mais rápida que forçasse Damian McKenzie a descompensar os Chiefs – pouco aconteceu, mas teve de socorrer Shaun Stevenson em alguns momentos -, expondo terreno nas costas para Aaron Smith colocar a bola ao pé. Foi como um retorno ao passado para os Highlanders, conseguindo fazer um uso efectivo da pouca posse de bola para marcar ensaios ou fazer pontos e, caso consigam subir um degrau na velocidade da circulação da oval, podem ser uma ameaça para equipas como os Blues e Crusaders.


 

Downs:

Os avançados dos Hurricanes foram destroçados em diversos capítulos de jogo, seja nos alinhamentos, formação-ordenada ou no apoio rápido a um portador de bola que conseguisse uma quebra-de-linha. Se as introduções de Dane Coles e Asafo Aumua não foram de topo, o que dizer da pouca velocidade dos pods de salto, sendo superados em diversos momentos pelos Blues, revelando problemas que já tinham sido notados na época passada e na actual.

A inexperiência e a falta de alguma agressividade no contacto foram pormenores demasiado óbvios, comprometendo com qualquer estratégia de jogo a nível do ataque, com Laumape, Lam, Aso a poderem se queixar de terem tido que trabalhar o dobro para aparecer no encontro – mas sem nunca deslumbrar. Scott Scrafton, James Blackwell, Du’Plessis Kirifi e Gareth Evans sentiram demasiada falta de Ardie Savea (entrou na 2ª parte, mas ainda está a recuperar a melhor forma física), para além de nunca terem sido unidades galvanizadoras no ataque, caindo facilmente na placagem ou a serem dominados no breakdown.

No Highlanders-Chiefs, podíamos falar das más decisões dos visitantes a nível das opções tomadas no ataque – Kaleb Trask não foi uma aposta de nível, sendo um tiro ao lado de Warren Gatland para este encontro -, mas o maior down foi a confusão total em termos de leitura do jogo no chão e no apresentar da bola. As novas regras do breakdown aceleraram o jogo para um ponto por vezes demasiado caótico e anárquico, em que o colectivo se esvai quase por completo no que toca às combinações ofensivas, postulando que o individualismo resolvam situações arriscadas no ataque e isto abriu oportunidade para o 1º apoio a seguir ao placador se atirasse à bola conquistando uma penalidade.

Das 30 faltas registadas neste jogo – no outro foram 31 -, 23 foram por erros no breakdown ou ruck, seja por entrada ilegal de um elemento da equipa a atacar ou defender, por bola presa no chão, pelo placador não sair do canal – metade foram ajuizadas de forma errada, uma vez que esse jogador não tinha forma de sair ou de deixar de ser um estorvo à saída de bola porque fisicamente não pode simplesmente desaparecer -, sofrendo o encontro demasiadas paragens durante alguns períodos de tempo. Este problema melhorou na 2ª parte, mas mesmo assim afectou parcialmente o espectáculo e até forçou às equipas procurarem não o caminho do ensaio e dos pontos por via do jogo à mão, mas sim pelo pontapé, o que a médio prazo pode afectar seriamente a forma como o rugby é hoje em dia jogado.

 

Os craques da rodada

O talonador dos Highlanders é um jogador especial, com uma capacidade de combate e luta especial que contagia os seus colegas durante um tempo indeterminado e foi essencial para castigar defensivamente a equipa dos Chiefs, especialmente no durante e imediatamente após as fases estáticas.

McKenzie jogou sem qualquer limitação – até se apresentou em campo sem ligaduras de proteção no joelho – foi autor de 15 pontos dos 27 dos Chiefs, assistindo genialmente Anton Lienert-Brown para o segundo ensaio da formação de Waikato e mostrou aquela irreverência no sair a jogar e de criar espaços na defesa dos Highlanders.

Hoskins Sotutu foi o carrier da semana com 15 portagens de bola, não perdendo uma única vez o controlo da oval, sobrepondo-se aos seus placadores como uma fisicalidade tão agressiva como ágil e inteligente e acabou por somar 50 metros.

E Caleb Clarke… o ex-baby Black (dos mais reconhecidos da sua geração) e internacional de 7’s, apareceu em diferentes pontos do terreno, carregando sempre uma ameaça constante para a defesa dos Hurricanes, como se pode ver pelos 105 metros conquistados, 3 quebras-de-linha e 5 defesas batidos (o seu colega do outro lado, Mark Telea, somou 10 nesse aspecto) e 1 ensaio.

Os números da rodada

Mais pontos marcados: Damian McKenzie (Chiefs) e Otere Black (Blues) – 15 pontos
Mais ensaios marcados: Vários
Mais quebras-de-linha: Shaun Stevenson (Chiefs) – 4
Mais placagens: Dillon Hunt (Highlanders) – 19
Mais turnovers: Dillon Hunt (Highlanders) – 4
Mais defesas batidos: Mark Telea (Blues) – 10
Melhor da Jornada: Caleb Clarke (Blues)