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Para 2016, tanto o Super 8 como o Super Sevens Feminino sofreram alterações na quantidade de partidas a serem realizadas. A fim de esclarecer a situação dos torneios nacionais e projetar como poderão ser os próximos anos, o Portal do Rugby entrevistou Agustín Danza, CEO da Confederação Brasileira de Rugby, que deu um panorama e analisou o momento das competições de clubes promovidas pela entidade.

 

Portal do Rugby: Estamos nos aproximando da temporada nacional de clubes. Qual a visão da CBRu sobre os torneios estaduais e os últimos torneios das seleções? Como ela os enxerga dentro de um planejamento geral do alto rendimento e desenvolvimento nacionais?

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Agustín Danza: Para a CBRu, não há uma ferramenta mais importante na formação de atletas que o número de jogos que os clubes possam ter para recrutar e formar jogadores e os estaduais são fundamentais nisso, pois permitem que os clubes sigam mantendo os atletas motivados, retendo-os e os desenvolvendo.

 

Sobre o Americas Rugby Championship e o Sul-Americano, esta foi a primeira vez na história que as seleções jogaram 8 jogos de altíssimo rendimento em 3 meses contra rivais na maioria das vezes (todas menos uma) acima de nós no ranking mundial. Foram jogos fundamentais para o time ganhar experiência e melhor seu rendimento. Não tivemos lesões musculares, o que significa que já temos condições de enfrentar times que estão em posições superiores, já pensando no futuro. Devemos seguir aumentando o número de jogos de alto rendimento a cada ano.

 

PdR: O ano de 2016 obrigou a CBRu a fazer reduções nos torneios. Qual foi o motivo? Poderia esclarecer como a CBRu faz para financiar o Super 8, o Super Sevens e a Taça Tupi?

 

AD: O motivo é o mais óbvio: financiamento. Os três torneios são financiados 100% por meio de Lei de Incentivo ao Esporte, isto é, a partir de 1% do imposto de renda que as empresas podem destinar ao esporte. Mas, devido à crise, muitas companhias que tiveram lucro em 2014 não tiveram lucro em 2015, portanto a captação foi muito menor. Com essa relação de lucro menor e captação menor não conseguimos manter tudo o que nos propusemos a captar de recursos para esses três torneios. Quando escrevemos os projetos de Lei de Incentivo – e os projetos devem ser escrito no mínimo 8 meses antes de eles começarem a ser executados – não tínhamos uma visão tão clara da crise que estava chegando tão forte. Nossos projetos estavam maiores do que a realidade brasileira e fomos obrigados a realizar cortes.

 

PdR: Quais critérios foram usados para escolher onde seriam feitos os cortes?

 

AD: Os critérios não foram nossos. As empresas escolhem qual projeto querem apoiar. Nós tínhamos um cardápio, com Super 8, Super Sevens e Taça Tupi. E elas vão escolhendo. O fato é que elas escolheram primeiro o Super 8 e a Taça Tupi e poucas escolheram o Super Sevens. Não conseguimos direcionar esse tipo de investimento. Não podemos colocar o investimento que uma empresa escolheu fazer no Super 8 e colocá-lo no Super Sevens, a não ser que a companhia autorize.

 

Como todas as empresas estão levando a rigor as regras de compliance [conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e regulamentares], a tendência é apoiarem o projeto no qual haverá melhor contrapartida. E isso nos fez ter que reduzir as competições, uma vez que o sistema de alto rendimento do Super 8 foi preferido com relação ao sistema de alto rendimento do Super Sevens.

 

Temos um orçamento muito rígido na Confederação. As verbas no Ministério do Esporte só podem ser aplicadas no alto rendimento do sevens masculina e feminina, assim como as verbas vindas do Comitê Olímpico Brasileiro. Os projetos de Lei de Incentivo ao Esporte só podem ser aplicadas para o seu fim específico, ou seja, não posso pegar a verba aprovada para o Super 8 e colocá-lo no Super Sevens, por exemplo, para produzir uma situação mais igualitária. Temos que utilizá-las onde as companhias disseram que queriam utilizá-las.

 

E em termos de “verbas livres”, isto é, verbas vindas de patrocinadores, que podem ser investidas livremente, 2016 foi um ano muito duro para nós, pois perdemos 30% de nosso orçamento em questão de dois meses. Não era algo planejando, claro, com a saída de dois patrocinadores sem prévia aviso. Tivemos que reagir ajustando muito nossos custos administrativos. Estamos operando praticamente no mínimo dos custos. O impacto foi na maioria absorvido dentro da parte administrativa, mas também houve impacto na parte esportiva. Não temos hoje margem de verbas livres para investirmos no que gostaríamos.

 

Quando juntamos todos esses fatores fica claro o motivo dos cortes e como eles impactaram nossas iniciativas e porque não pudemos compensar algumas perdas ou ter mais flexibilidade.

 

PdR: A CBRu convocou uma reunião nesse sábado para discutir o futuro dos torneios nacionais. Quais dificuldades e quais oportunidades você enxerga para os próximos anos? Como está o cenário e quais caminhos você vislumbra para seguir fazendo evoluir nosso rugby doméstico de elite?

 

AD: No fundo, as perguntas feitas aqui são justamente os temas que discutiremos no sábado. Vamos colocar nossas ideias sobre os torneios pós-Rio 2016, masculinos, femininos e juvenis, e ouvir os clubes. O juvenil está mais avançado, pois já tivemos reuniões com os presidentes das seis federações estaduais para desenharmos um projeto para o rugby juvenil que vise a impactar uma grande quantidade de clubes e a prover uma quantidade saudável de jogos a eles. Já temos um projeto desenhado e aprovado entre nós que levaremos agora para aprovação no Ministério do Esporte e para tentarmos a captação – que, claro, terá que lidar com a situação econômica do país.