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barueri cidade

Nesta quinta-feira, foi anunciado oficialmente pela CBRu que a Arena Barueri, moderno estádio para 35,000 lugares, será a sede das finais do Super 10, o Campeonato Brasileiro de Rugby. Uma notícia excepcional, que merece ser melhor comentada aqui no formato opinativo.

A escolha da Arena Barueri é um marco para o Super 10 e é reflexo de toda a exposição que o rugby vem tendo na mídia nacional. O rugby hoje é conhecido, as prefeituras já têm uma percepção mais apurada sobre o tamanho do rugby e seu potencial e a CBRu vem sabendo utilizar a sua nova dimensão na promoção de seus eventos.

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Para os rugbiers paulistanos – que se dividem em quase 50 agremiações e são o maior público para o esporte no país – a escolha de Barueri, à primeira vista, não parece ser tão mais favorável do que Embu em termos de distância do centro. Porém, as vantagens de Barueri são notáveis: as vias de acesso ao estádio são mais favoráveis a quem se desloca de carro e o estádio está a cerca de 15 minutos a pé da estação de CPTM Jardim Belval, da linha Barra Funda-Itapevi, que tem bom padrão de conforto e fácil conexão com o metrô, o que não ocorre com Embu, distante dos transportes sob trilhos.

Entretanto, é óbvio que o destaque é o estádio. Estamos falando em uma arena moderna, com telões, espaço para 35 mil torcedores e ótima visão para o público, com sanitários, lanchonete e estacionamento dentro do estádio – apesar do preço salgado. Como palmeirense e também torcedor de futebol (apesar de, obviamente, preferir o rugby), já estive duas vezes no estádio – fui uma vez de carro e, depois, querendo economizar, de trem) e creio que atenderá até mais do que as necessidades atuais do Super 10. Eis o problema. Talvez a Arena Barueri se torne uma faca de dois gumes (os famosos dois legumes) em termos televisivos. Se por um lado é excepcional ter um estádio de padrão internacional para as finais, por outro os inúmeros espaços vazios que poderemos ter no estádio não serão um bom chamariz para quem assiste pela TV e não sabe nada sobre rugby. Ver muitas lacunas no estádio e não sentir da sala de casa ao menos uma parcela significativa da atomosfera do estádio não atrai quem é novo no esporte e pode se tornar uma má propaganda. Esse é um dos argumentos contrários, por exemplo, a uma iniciativa de levar o rugby ao futuramente desocupado Pacaembu nos próximos anos. Para que a realização do evento numa grande arena se reverta em propaganda para o esporte, é necessário mais do que nunca que o público compareça em massa. Que todos os milhares de rugbiers da Grande São Paulo e das cidades mais próximas do interior se mobilizem para ocupar a Arena Barueri e garanti-la por mais anos como casa do rugby. Isto é, um público próximo daqueles presenciados nos jogos da seleção brasileira em Santo André e no estádio do Nacional, em São Paulo, é o mínimo necessário. Ou seja, é preciso que mais torcedores compareçam a Barueri do que em Embu recentemente.

O fato de Barueri possuir uma equipe de rugby bem organizada como o União Rugby Alphaville e história no rugby – com o Alphaville Tênis Clube – poderão ajudar a Arena Barueri, tendo vantagem sobre Embu, que não possui rugby. E, mais que isso, a cidade de Barueri é muito maior – possuindo quase 300,000 habitantes – e pujante economicamente, com muitas empresas instaladas lá e renda per capta alta, o que poderá resultar em público no estádio, se o evento for bem divulgado localmente, atraindo os moradores. O crescimento de Barueri é o resultado de uma nova configuração policêntrica das metrópoles, que gera centros de riqueza mesmo nos subúrbios mais afastados do centro. É uma metrópole dentro da metrópole, com potencial a ser explorado no campo de eventos esportivos.

Encher o estádio, certamente, também é uma expectativa da prefeitura de Barueri, dona do estádio, que não consegue retorno com os jogos do decadente Grêmio Barueri. A realidade dos clubes de futebol da Grande São Paulo pode ajudar o rugby a conseguir seu espaço em estádios de boa qualidade. Dos clubes de maior destaque recente da região metropolitana – Grêmio Barueri, Santo André e São Caetano – nenhum registra médias de público superiores a mil pessoas por jogo. Apenas o jovem São Bernardo registrou bons públicos em 2013, mas em seus momentos áureos Grêmio Barueri, Santo André e São Caetano também registraram, declinando depois. Não por acaso, a prefeitura de Santo André abraçou a seleção brasileira neste ano. Seus respectivos estádios são custos às prefeituras, que precisam de eventos de melhor qualidade e atraentes para suprir as lacunas abertas por seus clubes de futebol instáveis. O mesmo fenômeno vem ocorrendo em todas as regiões do Brasil, com o rugby ganhando espaço em importantes arenas esportivas públicas. Basta que clubes e federações sigam trabalhando bem que o espaço será ganho de vez. A vantagem dos estádios públicos é óbvia, pois podem ter custos mais baixos, sendo parte de políticas públicas. Não por acaso, o rugby não retornou ao estádio do Nacional, em São Paulo, muito possivelmente – mas digo sem ter conhecimento dos valores – por conta do preço do aluguel.

Nesse sentido, cabe aqui fazer justiça a Embu das Artes. Mesmo sem história no rugby, a cidade de Embu apoiou e apostou no rugby antes de todas as demais cidades da região metropolitana citadas e antes do sucesso televisivo do Super 10. A nova realidade do rugby encontrar espaço para dialogar com prefeituras de cidades maiores se deve, em parte, ao apoio inicial de Embu ao rugby. Ela ajudou a impulsionar o esporte. E não dá para descartar seu retorno no futuro com algum outro evento.

 

A gafe

Na hora da divulgação da notícia, o Portal do Rugby cometeu uma gafe quixotesca, que indignou a muitos no momento, mas foi rapidamente retratada por nossa equipe. A gafe entra para o rol das bobagens que a internet possibilita, sobretudo as redes sociais. Ao divulgar a notícia, às pressas e em meio a outras atividades, nosso redator fez a maior confusão com as inúmeras janelas que se abrem no facebook, dos chats à área de postagens de nossa página. E o resultado disso foi a reação mais consagrada da Lei de Murphy. Enquanto escrevia sobre um assunto NADA relacionado à escolha de Barueri como sede das decisões do Super 10, nossa redator deixou escapar dentro da caixa de postagens o termo “que droga”, dentro da chamada “Arena Barueri receberá as finais do Super 10“. Ora, essa é mais uma daquelas gafes antológicas que só as redes sociais produzem. Rapidamente, houve a retração, mas não sei se todos aqueles que se indignaram nos poucos minutos que a desastrosa frase ficou no ar a leram. Afinal, a nossa opinião sobre a escolha do estádio é justamente a oposta: “que maravilha!”.

Desde já, pedimos desculpas a todos que ficaram indignados e com razão ao lerem a frase desconexa. Sobretudo aos moradores de Barueri, muitos integrantes do União Rugby Alphaville. É nessas horas que nos sentimos como alguns outros amigos do rugby: