Jordie Barrett. Foto: Hurricanes

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Ao fim de quatro jornadas, os Crusaders já estão no topo da classificação do Super Rugby Aotearoa com mais uma prestação que terminou em domínio completo no campo dos Highlanders. Na luta de últimos

 

OS UP’S DA SEMANA: ‘SADERS COM ENERGIA PARA DOIS E HURRICANES VOLTAM À SUA MELHOR DEFESA

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Quem viu o dérbi mais emblemático do Sul da Nova Zelândia, conseguiu presenciar novamente o poderio dos Crusaders, especialmente nos 20 minutos finais altura em que fizeram três ensaios (21 pontos no total)  derrubando por completo com a boa muralha defensiva que os Highlanders apresentaram na maioria do tempo de jogo. A franquia de Christchurch aguentou com uns primeiros 40 minutos altamente competitivos, em que ‘landers comandados por um supremo Aaron Smith chegaram mesmo a sair para o intervalo a ganhar por uma diferença de 3 pontos, dando o mote para uma segunda metade emotiva e disputada até ao limite, com os ‘saders a fazerem dois ensaios (ambos convertidos) nos últimos 4 minutos, que aumentou num ápice o resultado de 20-26 para 20-40.

Como foi possível? Graças à capacidade física que é uma das traves-mestras do trabalho de Scott Robertson, que vai aguentando o melhor momento do adversário para depois elevar a intensidade novamente para um patamar que a equipa do outro lado já não consegue aguentar, tendo isto acontecido com os Highlanders e Hurricanes – ambas sofreram precisamente 14 pontos nos últimos 10 minutos de jogo. É a demonstração que o tricampeonato alcançado nestes anos não foi só devido à estupenda eficácia no aproveitamento das oportunidades, à defesa que procura impelir o adversário a se expor em demasia ou aos apontamentos geniais técnicos de David Havili, Richie Mo’unga, Jack Goodhue, Will Jordan, Sevu Reece, mas sobretudo pelo “pulmão” e fisicalidade constante que não esmorece.

Os Highlanders ainda sonharam com a vitória, mas é impossível derrotar os Crusaders se não é se capaz de aproveitar toda e qualquer oportunidade para fazer pontos e aguentar com aquele boom físico que surge sempre na recta final do encontro. Por falar em acelerar a velocidade de jogo nos últimos minutos, os Chiefs bem tentaram encetar por essa via mas a defesa dos Hurricanes respondeu com um profundo “não”, bloqueando as tentativas de empate ou reviravolta da equipa da casa.

Depois de uma semana de paragem os ‘canes voltaram melhores, especialmente no capítulo defensivo em que terminaram com 89% de eficácia na placagem, aplicando 170 boas placagens em 192 tentativas, tendo forçado 13 erros no breakdown ou no contacto aos Chiefs. Ardie Savea, Du’Plessis Kirifi (fez algumas faltas mas melhorou estupendamente na 2ª parte), James Blackwell e Reed Prinsep foram enormes em todas as medidas, não dando espaço a Aaron Cruden, Quin Tupaea e Damian McKenzie – na maior parte do tempo – para jogarem, limitando a estratégia de ataque de Warren Gatland.

Os Hurricanes mostraram-se mais incisivos na 1ª parte e defensivamente implacáveis na 2ª metade, e mostraram assim claras melhorias a todos os níveis, fugindo ao último lugar da tabela ocupado agora pelos Chiefs, que não jogam na próxima ronda.

 

OS DOWN’S DA SEMANA: CHIEFS ERRANTES ATÉ QUANDO?

Só existe um down desta semana e vai para a actuação da franquia de Hamilton que foi uma desilusão total no que toca à condução de bola, visão de ataque e perfuração na defesa, terminando com apenas 11 quebras-de-linha em 80 minutos, 6 dos quais registadas nos últimos 15 minutos. Aaron Cruden raramente teve espaço ou tempo para respirar e desenhar boas combinações, apanhado constantemente mal captava a oval ou maniatado nas opções seguras que podia tomar, aplicando-se o mesmo a Damian McKenzie que se viu várias vezes um passo adiantado ou atrasado, o que significou não conceder um fio-de-jogo minimamente estável para que se desse uma rotura defensiva no bloco defensivo contrário.

Houve ilógica na tomada de opções, como por exemplo aos 68 minutos momento em que conquistaram uma penalidade após uma formação-ordenada (já jogavam contra 14) e Te Tahuriorangi invés de esperar e pedir nova formação-ordenada ou até irem para o alinhamento, jogou rápido quando já tinha toda a defesa dos Hurricanes pronta e à espera para atacá-lo… duas fases, perda de bola no breakdown e penalidade.

Este foi um dos vários exemplos de erros mínimos que acabaram por ser um entrave a qualquer tentativa de recuperar da desvantagem sentida desde os 5 minutos de jogo (ensaio de Van Wyk para os ‘canes), atrapalhando-se entre o nervosismo, precipitações e falhas de quem sentiu que não conseguia agarrar no jogo, por mais tempo de posse de bola que tivesse tido – os homens de Warren Gatland tiveram cerca de 60% de posse de bola.

OS CRAQUES DA JORNADA: AARON SMITH, WILL JORDAN, ARDIE SAVEA E SOLOMON ALAIMALO

Um verdadeiro comandante que entende o jogo como poucos e que parece estar completamente revitalizado nesta temporada, Aaron Smith realizou um jogo digno de ficar nos registos do Super Rugby (seja o geral ou Aotearoa) seja pela forma como fez os Highlanders se sobreporem aos Crusaders na primeira parte ou pelas espectaculares quebras-de-linha pelo qual foi responsável.

Will Jordan foi novamente imenso no ataque, especialmente naqueles 20 minutos finais do encontro em que abriu o “livro” e causou uma série de problemas aos ‘landers que acabaram por resultar num ensaio e numa jogada que acabaria também por valer mais 7 pontos. 130 metros conquistados, 4 quebras-de-linha e 10 defesas batidos foi o pecúlio somado, em mais uma exibição notável do polivalente 3/4’s.

Nesta 4ª jornada do Super Rugby Aotearoa voltámos a ter o “regresso” do velho Ardie Savea, com aquelas perfurações estonteantes (3 quebras-de-linha, uma delas genial que abriu espaço até ao ensaio de Kirifi), constantes atropelos ao primeiro placador e uma série de fases a defender em que rapidamente se reposicionava para atacar o portador da bola.

O último destaque vai para Solomon Alaimalo, ponta dos Chiefs que só entrou em campo à passagem do minuto 50 tendo sido um dínamo no que concerne em ganhar metros, tirar placadores da sua frente e a esticar o jogo de ataque da franquia de Hamilton. É talvez dos atletas mais versáteis e entusiasmantes de ver jogar, merecendo outro tempo de jogo, já que foi largamente superior a Wainui ou Nanai-Seturo.

 

OS NÚMEROS DA JORNADA

Mais pontos marcados: Richie Mo’unga (Crusaders) – 15 pontos
Mais ensaios marcados: Will Jordan (Crusaders), Jacobus Van Wyk (Hurricanes) e Tom Christie (Crusaders) – 2
Mais quebras-de-linha: Will Jordan (Crusaders) – 4
Mais placagens: Reed Prinsep (Hurricanes ) – 20 (2 falhadas)
Mais turnovers: Michael Tu’u (Highlanders) – 3
Mais defesas batidos: Will Jordan (Crusaders) – 10
Melhor da Jornada: Will Jordan (Crusaders)

A magia de Will Jordan (a partir de 4:20)