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Recentemente, tivemos mais um representante da arbitragem brasileira no Programa Top (Programa de Otimização de Talentos, em inglês) um programa anual que reúne em Stellenbosch, África do Sul, membros de diversos países para aprimorar seus conhecimentos.

 

 

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Seguindo os passos de Henrique Platais, Ricardo Sant’anna e Mariana Wyse, tivemos Nayara Lima, representando o país. Conversamos com ela sobre essa experiência, e como ela ingressou no mundo da arbitragem, um caminho que pode abrir muitas oportunidades para seus integrantes, além de propiciar, como costuma dizer Platais “a melhor visão do jogo” e uma forma de seguir no esporte quando a carreira de atleta não é mais possível.

 

 

Parabéns Nayara e que siga inspirando outras pessoas!

 

 

Portal do Rugby: Há quanto tempo está no Rugby, e como surgiu o interesse em se tornar árbitra?
 

Nayara Lima: Estou no rugby há quinze anos. Joguei por sete, parei para fazer a faculdade e quando me formei, não conseguia conciliar o trabalho e os treinos, pois trabalhava no Centro de São Paulo e saía às 20h, o treino começava às 20h, em Santo Amaro, do outro lado da cidade. Como já bandeirava jogos desde 2002/2003, e a Federação Paulista criou em 2009 um painel de árbitros e auxiliares do qual eu fazia parte, bandeirando sempre os jogos do Paulista e Super 8, foi um movimento natural.
 

Foi quando o Luis Mourão se tornou Educador de Árbitros e me convidou para apitar um torneio universitário da FEA. Como já não conseguia treinar com o meu clube, resolvi me dedicar à arbitragem. Faz cinco anos que eu apitei o meu primeiro jogo!

 

 

PdR: Em que consiste sua rotina, para conciliar trabalho e treinos?
 

NL: Eu sou secretária executiva, trabalho das 09 às 19h. Faço meus treinos à noite, revezo corrida e treinos funcionais, que faço 5/6x por semana. Minha maior motivação para manter essa rotina é criar objetivos e trabalhar para atingí-los. Cada torneio ou etapa me motiva para continuar a trabalhar e aprender mais.

 

 

PdR: O que mudou de quando você começou até hoje?
 

NL: Acho que o apoio que os patrocinadores trouxeram para nossa seleção, acabou refletindo na arbitragem também. Hoje temos oportunidades internacionais com uma recorrência que nunca antes tivemos.Temos árbitros viajando para todo tipo de torneio/curso o ano todo. As Olimpíadas também, com toda certeza, fizeram com que os olhos da World Rugby se virassem para nós, e isso faz com que tenhamos a chance de evoluir muito com cada experiência dessa.
 

Hoje também temos uma estrutura muito melhor para nos desenvolvermos, com vídeos dos nossos jogos, coach nos torneios e profissionais trabalhando para que atinjamos todos os objetivos que traçarmos.

 

 

PdR: Por ser mulher, acha que teve uma dificuldade adicional para se impôr como árbitra? Como lidou com isso?
NL: Não, no começo até achei que tivesse essa “barreira”, mas hoje eu vejo que não é isso, o problema é ser conhecido / reconhecido. Se você vai apitar um jogo de um time mais tradicional, mesmo que seja um amistoso, e você é um árbitro que eles não conhecem, com certeza já vão te olhar com um preconceito, a gente tem que se impôr mais.
 

A partir do momento que eles já te conhecem, te veem envolvido com diversos jogos, bandeirando, apitando, eles passam a te respeitar mais, acho que percebem que a gente, como eles, também ama o que faz.
Ela só me fez querer mais apitar, apitar melhor! Quando alguém diz pra gente que a gente não vai conseguir, acho que isso desperta mais a nossa vontade de atingir nossos objetivos, mas para mostrar PRA VC MESMA que vc é capaz!

 

 

PdR: Como surgiu a oportunidade de participar do Programa TOP?
Nos últimos anos o Brasil tem sido agraciado com uma vaga. É necessário preencher um currículo, mas eles geralmente já conhecem nossa atuação em eventos internacionais. Já participei das Séries Mundiais do Brasil, fui para etapa do Canadá. Não sei como é feita a seleção, mas com certeza eles avaliam seu comprometimento e disciplina, eles prezam muito isso.

 

 

PdR: A arbitragem ainda recebe muitas críticas de jogadores e torcedores. Como você enxerga isso no contexto do esporte, onde se prega respeito incondicional à autoridade do árbitro?
NL: Eu ainda procuro entender o que acontece para que a gente receba tantas críticas (e na maioria das vezes destrutivas!). As pessoas tem facilidade em apontar o erro dos outros, porque é muito mais fácil do que olhar para o seu próprio erro. Acho que isso contribui para a forma que as pessoas abordam o árbitro ou apenas falam dele.
 

Se os jogadores e torcedores pudessem nos enxergar como seres humanos, também amantes do esporte (tanto quanto eles!) acho que esse comportamento melhoraria significativamente. Uma coisa que eu percebo que ajuda é: o clube ter um árbitro atuante, pode ser um atleta, que apite de vez em quando e ainda jogue, ou ex-jogador que decide começar a apitar. Eu percebo que a compreensão dos clubes que tem um árbitro é maior do que à daqueles não tem.
 

Acho que, por eles participarem mais da preparação, do desenvolvimento do árbitro, além do carinho natural que existe com quem faz parte do nosso clube, isso faz com que eles sejam mais “polidos” na forma de questionar alguma decisão de um árbitro e não só o que é deste clube, mas todos.

 

 

PdR: Em que consistiram as atividades do programa? Como avalia a experiência? Quais as expectativas como árbitra para o restante do ano?
NL: Tivemos palestras, workshops, treinos e apitamos alguns jogos, trabalhávamos aproximadamente sete horas por dia, por seis dias.
 

Foi uma experiência incrível! Quando eu saí daqui, eu sabia que seria bom, mas não imaginava o quão bom seria. Assistir a vídeos, ao lado de árbitros mais experientes que eu, debater situações, enxergar quais as exigências temos que cumprir para ser um árbitro internacional é demais! O aprendizado é detalhado. São pontos pequenos que formam um todo. É bem difícil expressar essa experiência. Acho que ainda não consegui assimilar tudo (risos)! Estou muito feliz por ter participado de um programa como esse.
 

Eu sempre achei que minha vida na arbitragem seria apitar sevens. E eu vi que não precisa ser “só” isso. Tive uma aproximação com o XV que eu ainda não tinha tido e me apaixonei! Sempre admirei um árbitro que apita bem XV, porque é um jogo muito mais difícil de comandar, são muitas coisas acontecendo, e lá eu tive oportunidade de me enxergar mais neste jogo. Voltei animada para apitar muitos jogos de XV, voltei com a energia renovada para aplicar tudo o que eu aprendi lá!
 

Nos sevens também, o Super Sevens ainda não chegou na metade, tem muito rugby ainda em 2015!!

 

 

PdR: O que você mais gosta em ser árbitra? Qual dica você dá para quem está começando agora?
NL: Eu gosto de poder estar em campo ainda, de contribuir com o jogo de alguma forma. O que eu tenho a dizer para quem está começando agora é: Trace os seus objetivos e não tenha medo de lutar por eles.
 

Quando eu parei de jogar, achei que eu estaria sozinha na arbitragem, porque não teria mais o meu clube comigo dentro do campo, mas é muito diferente disso. Hoje a arbitragem tem um grupo consolidado e pronto para evoluir a cada oportunidade, é muito bom caminhar com eles em busca da evolução de cada um e de todos juntos.
 

A arbitragem é uma chance nova de se desafiar, uma chance de se conhecer mais e atingir novos objetivos.
Quando eu comecei a apitar, não imaginava que eu iria viver tantas oportunidades, conhecer tantas pessoas e lugares. Mas conforme eu fui caminhando, as chances apareceram e hoje eu me permito sonhar com as oportunidades que ainda estão por vir. E acho que o sonho é o primeiro passo para você se aproximar de um objetivo. É muito bom você ter um motivo pra levantar mais cedo ou ir dormir mais tarde. Esse combustível é essencial pra mim.