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Para o terror dos italianos, as discussões sobre a introdução de um sistema de promoção e rebaixamento no Six Nations ganharam força neste ano, estimuladas pela vitória do Japão sobre a Itália, no dia 21 de junho, por 26 x 23, e pela partida realizada entre Georgia e Irlanda no último mês.

A evolução das equipes do chamado Tier 2 do rugby mundial e o sistema engessado e elitizado do rugby mundial, que mantém as competições de elite – Six Nations e Rugby Championship – entre os mesmos países, vem alimentando as discussões às vésperas de mais uma Copa do Mundo, que poderá, sem dúvida, produzir algumas zebras.

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A organização do próprio Six Nations hoje impede a viabilidade de um sistema de promoção e rebaixamento com a segunda competição mais importante da Europa, o Europeu de Nações, cuja divisão de elite é conhecida informalmente como Six Nations B. O motivo é simples: a organização do Six Nations não cabe a nenhuma federação. O torneio é regido por um comitê dos próprios seis países participantes, que, evidentemente, não vão colocar em risco suas próprias receitas.

Expandir o Six Nations hoje é considerado problemático, pois o calendário não comporta novas rodadas sem criar um impasse diplomático com os clubes, já relutantes em liberar seus atletas às seleções. E a troca de países pelo rebaixamento poderia diminuir as receitas advindas de TV e patrocínios, uma vez que a Itália é uma economia muito mais forte que Geórgia e Romênia, equipes mais fortes do Six Nations B. Para ir mais além, o único país hoje do Europeu de Nações que leva público de cinco dígitos aos estádios é a Geórgia, enquanto a Romênia raramente ultrapassa os 5 mil torcedores. A Rússia, por sua vez, leva menos público ainda quando atua na parte europeia do país, necessitando ir à Sibéria para ter público maiores.

Mais ainda, o sucesso da visita dos All Blacks aos Estados Unidos levantou questões sobre a possibilidade de partidas do Six Nations na América do Norte e mesmo da participação de Canadá e EUA nas competições europeias, pela proximidade da costa leste com a Europa.

Com tal cenário, há possibilidade de mudanças no Six Nations? Sim, como argumentam colunistas no Wales Online e Rugby World . Quando a Geórgia, enfim, bater um dos grandes europeus, a estrutura excludente do Six Nations será gritante e um sistema mais democrático será necessário.

Será que acontecerá na próxima Copa do Mundo? Possível é, já que a Geórgia enfrentará Argentina e Tonga. Se os georgianos mostrarem que podem jogar de igual para igual com grandes times do mundo, o World Rugby será obrigado a criar espaço para que os membros do Six Nations sentem com os países do Europeu de Nações e encontrem uma possibilidade para a incorporação de mais equipes ao torneio.

Entrando nesse clima, o que poderia ser proposto? Meu pitaco é a expansão para 8 seleções e a divisão em dois grupos das equipes. Para preservar tradições e manter o diálogo em um nível receptivo para os conservadores britânicos, o Grupo 1 seria formado apenas por Inglaterra, Gales, Irlanda e Escócia, sem rebaixamento, com todos se enfrentando – o que garantiria a manutenção das disputas pela Tríplice Coroa e de tradicionais copas como a Calcutta Cup. No outro grupo estariam equipes da Europa Continental (podendo eventualmente contar com Canadá ou EUA). A princípio, Geórgia e Romênia se somariam a França e Itália. Os franceses perderiam alguns dos grandes jogos anuais, mas teriam maior flexibilidade em dialogar com seus clubes para liberação de atletas. Os franceses vem sendo a principal voz por um Six Nations diferente e foram os fundadores do Europeu de Nações, estando mais propensos a mudanças do que os britânicos. No Grupo 2, com esse modelo, poderia haver rebaixamento ao último colocado do grupo após dois anos (depois de jogos de ida em um ano e volta no outro ano).

Após a primeira fase (de 3 rodadas) os dois primeiros de um grupo enfrentariam os dois primeiros do outro grupo, carregando ainda os pontos do confronto direto entre eles, para manter as 5 rodadas. Já os dois piores de cada grupo se enfrentariam valendo uma outra taça. Façamos um exemplo a partir de uma possível tabela de jogos pata a França.

Exemplo:

Grupo A: Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda;

Grupo B: França Itália, Geórgia e Romênia.

1ª fase: França x Geórgia, França x Itália, França x Romênia

2ª fase: França x Irlanda; França x Inglaterra.

Ao trocar Escócia e Gales por Geórgia e Romênia, a França teria uma perda. Uma reposição possível seria ampliar o torneio para 6 rodadas, adicionando mais um jogo na 2ª fase, contra a equipe de seu grupo na primeira fase (Itália). Hoje, as equipes jogam duas partidas, descansam uma semana, jogam uma terceira partida, descansam novamente, e jogam mais duas vezes, totalizando 5 jogos em 7 finais de semana. Com 6 jogos, a sequência poderia ser três fins de semana seguidos de jogo (1ª fase), um final de semana livre, e outros três seguidos (2ª fase). Isto é, iguais 7 semanas.

Tal aumento de jogos exigira uma política diferente de convocações, apesar de não mexer na estrutura da temporada. E haveria privilégios mantidos aos britânicos como fruto de engenharia política para tornar possíveis as mudanças (é impensável um ano sem Calcutta Cup ou Tríplice Coroa). Mas, ao menos, é uma alternativa mais plausível.

Um agrupamento de três divisões poderia ter a seguinte cara:

 Eight Nations A   Eight Nations B   Eight Nations C 
 Grupo Britânico  Grupo Continental    Grupo Leste  Grupo Oeste   Grupo Leste  Grupo Oeste 
 Inglaterra  França  Rússia  Espanha  República Tcheca   Holanda
 Irlanda  Itália  Moldávia  Portugal  Croácia  Suécia
 Gales  Geórgia  Ucrânia  Alemanha  Israel  Suíça
 Escócia  Romênia  Polônia  Bélgica  Lituânia  Malta

 

E você, o que achou?