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Boa organização, participação recorde de equipes, jogos históricos, presença da imprensa… mas, cadê o público? Pois bem, o Campeonato Sul-Americano de Sevens de 2012, disputado no Estádio da Gávea, no Rio de Janeiro, só não foi um sucesso por contra do decepcionante público que compareceu para assistir ao maior evento da história do rugby carioca.

Passando pelo Clube de Regatas Flamengo, no bairro da Gávea, nobre região da Zona Sul do Rio de Janeiro, apenas os mais atentos perceberiam que lá estava acontecendo um evento esportivo internacional. Entrando no pequeno, porém ajeitado, Estádio da Gávea, a sensação era ambígua. Se por um lado era emocionante acompanhar tão de perto os principais atletas do seven-a-side sul-americano, que se misturavam ao público fora do gramado, por outro, ver a arquibancada vazia era, no mínimo, triste. Quando subi pela primeira vez à arquibancada, fiquei ainda mais perplexo: a vista de cartão-postal que a Gávea proporciona fazia das horas que se podia passar sentando no estádio ainda mais aprazíveis.

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Com a entrada gratuita, a localização privilegiada, a bela vista das instalações, o contato direto com os atletas, o ambiente convidativo do rugby, a disputa do maior campeonato sul-americano da modalidade, e a chance de presenciar partidas memoráveis, por que o carióca não foi ao estádio? Ou melhor, por que o rugbier fluminense não marcou presença na Gávea?

Entender por que o cidadão comum do Rio de Janeiro, pouco familizarizado com o rugby, não prestigiou o evento na Gávea é fácil. Com tantas coisas para se fazer na Cidade Maravilhosa num dia ensolarado, certamente assistir a um esporte pouco conhecido não está na lista de prioridades de ninguém. Ainda mais se no final da tarde houver futebol, ou mesmo se ao longo do dia for realizado um evento esportivo na praia, como o Mundial de Futevôlei (com o qual o brasileiro está infinitamente mais familiarizado do que com o rugby). Somando-se ao fraquíssimo trabalho de divulgação do evento entre a população, e mesmo entre os sócios do Flamengo (que foi a grande falha da organização da CBRu), a expectativa de presença de público estava praticamente resumida aos rugbiers da cidade e redondezas. Porém, onde estavam eles?

A cidade do Rio de Janeiro possui quatro clubes de rugby, além do novo projeto do Vasco da Gama. São eles: Rio Rugby, Guanabara, Tamoios e Recreio (originado do Grandfather). Pertinho dali, em Niterói existe o tradicionalíssimo Niterói RFC, o Vila Real e o núcleo de rugby da Universidade Federal Fluminense. Na Baixada Fluminense, temos o Maxambomba, e em São Gonçalo há rugby também. Próximo da Região Metropolitana está Itaguaí, já bem estruturado. É necessário ainda contar os clubes de cidades do estado mais distantes, como Volta Redonda, Resende, Nova Friburgo e Campos, e com o fato do número de horas para se ir dos demais estados do Sudeste ao Rio de Janeiro ser acessível.

Com tal panorama, o esperado era que a Gávea se tornasse por dois dias o palco para a festa do rugby brasileiro. E para facilitar ainda mais, o Campeonato Fluminense não teve rodada no final de semana do Rio Sevens. Então, como interpretar os cerca de 5 mil lugares do estádio praticamente vazios? Durante as finais, que coroaram a nossa fenomenal Seleção Feminina e produziram a histórica derrota da Seleção Masculina da Argentina para o Uruguai, nem metade da arquibancada do estádio de magnífica vista estava cheia de torcedores. A televisão teria tornado os rugbiers mais preguiçosos? Se o estádio fosse numa zona periférica ou se a chuva tivesse tomado conta do fim de semana, essa seria uma boa explicação. Não foi o caso, muito pelo contrário. Sobretudo pelo fato do número de jogos transmitidos não ter sido grande para um apaixonado pelo esporte. Seria por que o rugbier brasileiro não aprecia o sevens? Se essa for a explicação, é lamentável, pois esses rugbiers estariam jogando fora a chance que se abriu para nosso esporte crescer. Seria por que a divulgação não foi boa? Essa seria uma explicação boa somente para os curiosos, não para os rugbiers, que conhecem os meios de comunicação que divulgam o rugby, os quais vem divulgando o evento há semanas. Ou ao menos deveriam conhecê-los.

Em 2013, o Sul-Americano de Sevens será novamente no Brasil, e promete um nível ainda maior em campo. Algumas lições foram dadas pelo evento de 2012. Primeiramente, a CBRu precisa trabalhar com mais atenção a divulgação do evento no local onde ele será disputado, não bastando apenas a comunicação na forma de releases para a grande mídia, que invariavelmente não cede grande espaço aos esportes amadores. Divulgar entre sócios do clube-sede, em escolas e outros centros de convívio social da região, buscar espaços públicos para a divulgação (em parceria com o poder público, se possível) e buscar a ajuda de times de rugby locais é essencial para o sucesso de comparecimento do público. Em segundo lugar, o rugbier brasileiro precisa ter plena consciência de que sua participação nesse tipo de evento é essencial. Os clubes fluminenses, com algumas exceções, decepcionaram nesse ponto.

Fica a dúvida: o Rio de Janeiro deve receber o próximo Sul-Americano? Se o torneio for entendido como uma forma de se divulgar o rugby, para que em 2016 o Estádio de São Januário nao tenha mais estrangeiros do que brasileiros nas arqubancadas, o Rio de Janeiro deve ter a prioridade novamente para receber o evento. Se for levado em consideração o potencial comercial da realização de um Sul-Americano, não. Nesse ponto, faria muito mais sentido que a cidade de São Paulo, com mais de 30 times de rugby, ou o Rio Grande do Sul, com seus rugbiers abnegados, recebessem o torneio, uma vez que, certamente, proporcionariam um público muito maior. Além da possibilidade de se usar o evento para a venda de material relacionado ao evento e às seleções, como camisas e outros souvenirs, o que não foi feito no Rio Sevens, e que também não teria dado frutos se fosse. Que fique claro, como evento bem-sucedido para os padrões do rugby brasileiro, é de se esperar apenas um ou outro milhar de torcedores, nada mais. O que não se viu no Rio Sevens.

Querer que o rugby cresça, dizer para todos os conhecidos que ele “já é grande”, mas não fazer sua parte prestigiando os principais eventos, não tem lógica. Se São José dos Campos, em 2009, usou o Sul-Americano para consolidar o rugby na cidade; se Bento Gonçalves usou o mesmo evento, em 2011, para alavancar o esporte; o Rio de Janeiro não parece que colherá grandes frutos com o Rio Sevens. É torcer para esta última frase seja um grande equívoco.

 

Foto: Júlio Pereira