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Neste início de ano algumas iniciativas interessantes foram vistas Brasil que precisam ser comentadas e que apontam bons caminhos para clubes do país.

 

A primeira novidade muito positiva foi a fusão de Serra e Caxias, no Rio Grande do Sul. A cidade de Caxias do Sul, maior da Serra Gaúcha, com mais de 700 mil habitantes em sua região metropolitana, contava com dois clubes de rugby. Ambos faziam bom trabalho e contavam com equipes masculinas, femininas e juvenis. Em 2017, com a promoção do Caxias à primeira divisão estadual de XV, a cidade teria dois times na mesma divisão. Porém, era esse o melhor cenário para o rugby da cidade? Na minha opinião, não. A fusão veio em ótima hora.

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O rugby no Brasil ainda está longe de ser massificado e a união faz a força. Cidades com menos de 1 milhão de habitantes não têm hoje motivo real para racharem em dois clubes ou mais. Isso apenas enfraquece o rugby e impede que o passo adiante na maturidade dos clubes ocorra. Apenas cidades muito grandes (as grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre…) precisam ter mais de uma equipe, seja porque há muita gente nessas cidades, seja por um problema óbvio: deslocamentos. No dia a dia não da pra perder horas em trânsito para ir a um treino e, portanto, em cidades grandes faz sentido ter clubes espalhados. Ainda assim, é preciso moderação. A Grande São Paulo, por exemplo, talvez já tenha excedido o número de clubes sustentáveis e algumas fusões poderiam ser benéficas.

 

Já as separações entre equipes masculinas e femininas são lamentáveis, sintomas de que em muitos lugares não há a maturidade para se trabalhar em conjunto. Se um lado não apoia o outro é porque está faltando espírito do rugby. Os problemas são sempre parecidos: uso de verba, espaço de treino. Muitas vezes, se não há consenso e acordo entre as categorias sobre esses assuntos, a autonomia pode ser uma saída, quando não se está nadando em dinheiro. Mas a ruptura completa jamais é positiva, porque sempre é possível trabalhar junto na maioria das frentes.

 

As exceções, é claro, existem. São José dos Campos, por exemplo, ganhou um segundo clube, o Iguanas, que é justificável pelo tamanho que o São José Rugby ganhou: com muitas categorias de base, é difícil absorver todo mundo. Na cidade do Vale, após muito tempo de trabalho e conquista de maturidade, o rugby ganhou tamanho o bastante para isso. Mas, é importante que clubes que crescem muito tenham a devida compreensão de que o primeiro caminho é criar um time B atuante, depois até mesmo um C, como ocorre em qualquer grande clube argentino ou uruguaio, por exemplo. Isso passa pela compreensão dos jogadores de que estar num time B ou C não é demérito algum. E passa, claro, por um planejamento, já que custos e responsabilidades aumentam conforme aumenta as categorias. É preciso estudar gestão.

 

As demais exceções são cidades que não têm muitos clubes em suas proximidades e que a quebra de um clube em dois é uma necessidade para se poder ter partidas. Cidades que têm muitos vizinhos com rugby não precisam disso. Precisam de unidade. Parabéns a Caxias do Sul pela sábia decisão.

 

O nome do clube importa!

Outro assunto, que pode soar implicância minha, é o nome dos clubes. Pessoalmente, vejo com algum incômodo o surgimento de muitos clubes pelo Brasil com nomes que não representam nada de suas cidades, bairros ou regiões. Na escolha do nome para novos clubes o que muitas vezes prevalece são as influências de TV, internet, filmes, games, cultura pop. Soa muitas vezes legal se inspirar nos esportes americanos, que adotam nomes de animais da fauna africana, termos belicosos ou seres mitológicos. E ainda em inglês.

 

Mas, afinal, qual é o foco do seu clube? Não é chamar pessoas da região e virar “O” time de rugby da região? O nome é importantíssimo para isso! Adotar o nome que simboliza sua origem é essencial, seja o nome de sua cidade, bairro, região, instituição de origem (faculdade, escola) ou de algum símbolo diretamente associado à sua localidade (o animal símbolo, a planta símbolo, um nome histórico relevante). O nome conecta o clube à comunidade. E isso não impede que o clube adote um apelido, que pode ser simplesmente o que os membros do time acham legal.

 

Por isso, a iniciativa do Porto Seguro Rugby Clube merece ser trazida. O clube nasceu com o nome de Toruks Rugby, uma alusão ao filme Avatar. Porém, o clube percebeu que, por ele ser o único clube de sua região, adotar o nome da cidade era essencial. Era uma passo de maturidade. O nome foi mudado para Porto Seguro Rugby Clube e o velho nome Toruks não foi esquecido: ele virou o “apelido oficial” da equipe e segue no símbolo, agradando a “gregos e troianos”. O anúncio oficial do Porto Seguro será publicado em breve, mas desde já parabenizamos o clube pela decisão.

 

Existem outros exemplos positivos do mesmo tipo de decisão que poderíamos elencar. Apenas usamos um exemplo para mostrar o que pode ser feito. O que parecem pequenas ações hoje podem ter um peso importante lá na frente.

 

Foto: Porto Seguro Rugby Clube