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Neste mês, a Argentina está vivendo seu campeonato nacional de seleções provinciais. A primeira, a segunda e a terceira divisões contam cada uma com 6 equipes, que jogam em um formato convencional de todas contra todas, totalizando 5 rodadas. Mas, a quarta divisão apresenta um modelo singular, que eu pessoalmente nunca vi ser usado em outros países. E já não é o primeiro ano que ele é adotado pela União Argentina de Rugby. Você conhece o Super 9?

 

No total, a Argentina conta com 25 uniões provinciais. Além delas, Uruguai e Paraguai mandam suas seleções para jogarem o Campeonato Argentino. O resultado são 27 equipes participando do sistema. Excluindo as 18 que jogam as três primeiras divisões, restam 9 equipes na quarta divisão. E a maioria dessas províncias da quarta divisão são pequenas, sem recursos para manterem seleções treinando pelo mês todo e viajando o país.

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Qual foi a solução deles? Colocar todas as 9 equipes em um mesmo campo e jogar o torneio todo em dois dias! Neste ano, foi uma sexta e um domingo, com o sábado de descanso. Exatamente como se faz no seven-a-side. As 9 seleções foram divididas em 3 grupos com 3 equipes cada, com cada time fazendo 2 jogos na sexta-feira. E depois no domingo os times que terminaram em primeiro em seus grupos fizeram o Triangular Final pelo título (Taça Ouro), enquanto os times que acabaram em segundo fizeram o Triangular pelo 4º lugar (Taça Prata) e os times que acabaram em último jogar pelo 7º lugar (Taça Bronze), sendo mais 2 jogos por time.

 

O detalhe está justamente em cada jogo. Não da para jogar 160 minutos em um mesmo dia, então cada jogo teve somente 40 minutos de duração! Cada equipe jogou 80 minutos de rugby na sexta e outros 80 minutos no domingo. Engenhoso, não?

 

É claro que o dia de descanso é pouco, mas torneios em menos de uma semana são comuns inclusive em jogos entre seleções nacionais em torneios oficiais. Campeonatos nas divisões inferiores de Ásia, África e mesmo aqui na América do Sul apresentam equipes jogando 2 ou 3 jogos espaçados com 2 ou 3 dias de descanso. No caso de um feriadão prolongado, uma rodada acontecer no primeiro dia do feriado e a outra no último dia seria perfeitamente plausível.

 

Ah, então eu estou sugerindo esse modelo para ser usado no Brasil? Estou apresentando uma solução encontrada aqui do lado. Sobretudo fora do eixo Sul-Sudeste, temos muitas equipes pelo país que precisam se deslocar centenas de quilômetros para terem um mísero jogo. Muitos torneios que juntam equipes de cidades distantes entre si e que fazem com que os clubes se foquem em um calendário que inclui dezenas de milhares de reais gastos em viagem, mas que poderiam investir mais seu tempo e recursos em simplesmente promover o rugby na cidade do lado ou ajudar o time recém formado ali perto para que em dois ou três anos seu estadual exista.

 

Escrever é fácil, eu sei, mas fim de ano é momento bom sempre para revisar o que foi feito e pensar em ideias novas que possam contribuir para os próximos anos.

 

Viagem de 600, 700, 800 km paga do próprio bolso é algo que vale para amistoso quando todos querem fazer essa viagem por divertimento, pelo prazer de estar com amigos. Quem tem dinheiro para isso, pague, viaje, jogue e seja feliz. Mas, para um campeonato, que envolve planejamento financeiro anual e projeto do que se quer para seu clube e estado, as soluções precisam ser mais racionais.

 

Deixando de lado o velho assunto do rugby juvenil, que não é nada fácil de ser fomentado, a receita para o rugby adulto amador de XV de quem ainda não tem número de equipes para um estadual está em jogos-treino, clínicas e festivais com seus vizinhos mais próximos, para que no futuro eles também tenham suas equipes e um estadual seja possível, combinados com torneios de sevens e poucos mas valiosos jogos interestaduais de XV, se viáveis, em modelos enxutos e racionais.

 

As vezes falamos demais em juvenil, porque pensamos em alto rendimento e ambições futuras, mas saber trabalhar a divulgação do rugby para adulto é importante também sim – e às vezes mais lógico do que tentar fazer o que não se sabe! Não vai formar atleta de seleção, mas vai alimentar o rugby de apaixonados do mesmo jeito. Cada clube tem que entender quem ele é o que quer ser. Jogar por divertimento, por saúde, por amizade, por paixão pelo jogo é mais importante que jogar e trabalhar por ambição.

 

Se seu estado tem 3 ou mais times, é estadual na veia, turno e returno! Quem sabe um turno e returno num semestre e outro turno e returno no outro? Por que não? Ah, mas seu clube só tem um vizinho com XV? Inspire-se nos americanos, faça séries de 3 ou até 5 partidas, antes de por o pé na estrada. Por que não? Fazer rugby é muito caro, isso está claro para todo mundo no país.

 

A felicidade no rugby devia antes estar em simplesmente ter um calendário para jogar e ver mais gente jogando a seu redor do que em querer bater no peito e se dizer campeão de algo ou de jogar torneio nacional. Isso vem depois. O mais importante tem que ser jogar, simplesmente jogar, sem se matar de viagem e sem torrar a carteira.

 

“Ah, mas meu time tá isoladão”. “Ah, mas eu quero jogar com o pessoal do estado aqui do lado, porque o jogo é mais parelho”. Aí entra a solução dos argentinos, usada com moderação e zelo pela segurança do atleta, é claro. Com planejamento de longo prazo, o que eles fizeram foi um “sevenzão” de XV. Valeu para “matar a vontade” e para “entrar no mapa”, mas sem sacrificar o “rugby do dia a dia” em suas províncias.

 

super 9 argentino

Super 9 – 4ª divisão do Campeonato Argentino – em Posadas

Sexta-feira

Grupo 1

Misiones 61 x 00 Jujuy

Andina 43 x 07 Jujuy

Misiones 16 x 10 Andina

 

Grupo 2

Austral 45 x 00 Santa Cruz

San Luis 36 x 00 Santa Cruz

Austral 46 x 00 San Luis

 

Grupo 3

Terra do Fogo 19 x 10 Paraguai

Terra do Fogo 09 x 06 Formosa

Formosa 09 x 03 Paraguai

 

Domingo

Triangular pelo 7º lugar

Paraguai 29 x 00 Jujuy

Paraguai 103 x Santa Cruz

Jujuy 47 x 00 Santa Cruz

 

Triangular pelo 4º lugar

Andina 05 x 13 Formosa

San Luis 00 x 32 Formosa

San Luis 00 x 47 Andina

 

Triangular pelo 1º lugar

Misiones 24 x 00 Terra do Fogo

Austral 25 x 03 Terra do Fogo

Misiones 06 x 15 Austral

 

Classificação final: 1 Austral (promovido ao Ascenso B de 2017), 2 Misiones, 3 Terra do Fogo, 4 Formosa, 5 Andina, 6 San Luis, 7 Paraguai, 8 Jujuy, 9 Santa Cruz;

 

 

Foto: Prensa UAR

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