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O rugby universitário foi por um bom tempo o maior angariador de atletas novos para a modalidade e hoje encontra problemas no seu desenvolvimento, enfrentando por diversas vezes o esquecimento das entidades responsáveis pelo esporte universitário. Como mudar esse paradigma, para fazer voltar grandes times que tem como base seu elenco ingressante no ensino superior, como faz a Poli atualmente e como fez a Medicina, Mackenzie e a própria seleção da FUPE (campeã brasileira de 1972)?

 

Primeiramente, uma mudança de engajamento das próprias equipes universitárias. Atualmente, o calendário para um time universitário é restrito e baseado essencialmente em torneios não-oficiais e amistosos. Como exemplo máximo, podemos usar do próprio Campeonato Paulista Universitário, que tem em seu torneio principal da categoria (teoricamente) 6 jogos em um tempo decorrido de 6 meses, quando “abre um espaço na agenda nacional”, permitindo a realização das partidas. 1 jogo por mês para um plantel que treina pelo menos duas vezes por semana chega a ser desestimulante e diminui o interesse especialmente dos novatos, que ficariam na sombra de seus veteranos, o que acaba por ocasionar o esgotamento da equipe ou a proximidade com essa realidade. Exemplos? Medicina, FEA, FFLCH e outras equipes que jogam no limiar de atletas. No rugby universitário feminino, a situação é ainda mais dramática, pois além do calendário pequeno as universitárias sofrem cronicamente com a falta de atletas, baixas condições de treinamento e desincentivo.

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Como fazer prolongar a existência das equipes, sem passar por maus bocados? A resposta é continuidade. Continuidade em fazer valer o projeto do time na Universidade, o que acaba por criar muitas vezes equipes cuja semente inicial foi a própria universidade (São Carlos, Raça Ribeirão, Piracicaba, Urutu e até o São José, que já vestiu as cores do ITA). No entanto, após a vida universitária, o rugby parece rumar dois caminhos: ou ele acaba por se expandir para criar um núcleo locar e formar equipes originárias das universidades (Uberaba, Delta, Urutau, GRUA) ou deixar de ser jogado pelos praticantes aos saírem da universidade por diversos casos, o que acontece por frequência e deve ser um fenômeno esperado. Os casos que hoje fogem à regra são justamente os que se mantém em altos níveis de disputa, cujo maior expoente é a Poli.

 

Qual a diferença? Além de formarem clubes, o que soa estranho para o meio universitário, tendo em vista o caráter “terceiro tempo” da categoria, o rugby tornou-se incentivado pelos veteranos que buscam dar prosseguimento às atividades, mesmo depois de formados. Isso permite com que o plantel se mantenha ativo e se permita uma evolução do time enquanto entidade competidora. Isso permite também o advento dessas equipes locais em competições de médio/alto nível. A reorganização da estrutura universitária teria que começar daí: permitir um projeto a longo prazo em que se preze pelo engajamento dos veteranos e que, dessa forma, permita a continuidade da equipe, como acontece com os clubes tradicionais, que tem na hereditariedade de seus atletas um importante aliado na renovação do plantel com casos famosos (a família Smith e a família Baines no SPAC, por exemplo). Sem o engajamento de veteranos, o rugby universitário fica refém das estruturas do esporte universitário e não da o passo adiante com solidez.

 

O rugby tem uma grande diferença com relação às demais modalidades no meio universitário. Boa parte dos seus jogadores aprenderam rugby na universidade, ao contrário de basquete, vôlei, handebol ou futebol, que todo mundo já jogava na escola. A situação vem mudando, com mais universitário já chegando aos times com conhecimento de rugby, mas ainda a maioria não tem essa prática prévia. Mas, quando o jogador aprende a jogar e passa a ter um nível razoável, ele se forma e o trabalho tem que recomeçar. Se por um lado as entidades do esporte universitário (CBDU e as entidades estaduais) não fazem nenhum trabalho consistente, as entidade o rugby (CBRu e as estaduais) já tem muitos outros problemas a resolver com competições de clubes, em especial no fomento ao juvenil, que deve ser prioritário. Para elas, e com razão, se os universitários jogarem junto dos clubes, melhor. Afinal, são todos atletas maiores de idade em campo. Por isso, o projeto deve passar antes pela ação dos próprios universitários.

 

Assim, voltamos ao paragrafo anterior e citamos novamente a ideia de postular o universitário como um clube em potencial. Até que ponto isso é paradoxal? Prejudicial? Atrapalharia ou ajudaria o desenvolvimento da categoria, que acaba por prezar bem mais pela pura prática lúdica? São questão que precisam ser debatidas por todos que jogam rugby na universidade.

 

Escrito por: Gustavo Gaiofato, treinador do FEA-Odonto Rugby

Foto: Denys Flores – FFLCH x Poli