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Com o Seven-a-side agora sendo um esporte olímpico, o interesse em como treinar este jogo modificado nunca foi tão grande.

 

Há alguns anos o Seven era um simples jogo de xadrez.

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No ataque, tentávamos alongar várias vezes a defesa adversária de lado a lado (passando a bola de ponta a ponta) até que a defesa se desconectasse ou (caso essa opção fosse muito difícil) simplesmente passávamos a bola ao longo da linha para nosso “velocista” esperando que ele fosse mais rápido que o jogador da oposição.

 

Na defesa, era tudo sobre permanecer conectado (treinávamos segurando uma corda ou de mãos dadas … ainda se treina com as mãos dadas!) o maior tempo possível, esperando que o ataque deixasse a bola cair ou como já mencionado que o “velocista” que não era tão rápido como o seu acabava entrando em contato. Se isso falhasse, esperávamos que o líbero pudesse limpar qualquer bagunça.

 

Os laterais eram simples, dois jogadores alinhados… chamada ‘1’ o jogador da frente se move para frente, ‘2’ o jogador da frente se movimenta para trás , ‘3’ o jogador de trás se move para a frente e ‘4’ o jogador atrás se move para trás. Se você costumava esconder a ‘chamada’ entre algumas pistas falsas podia vencer a oposição com a velocidade na movimentação. Scrums eram oportunidades fantásticas para se tomar ar, os acordos entre os cavalheiros eram comuns e, geralmente, mais do que bem-vindos.

 

A outra área de preocupação era a estratégia em torno dos chutes de saída. Bem, isso foi muito simples também… chutar a bola o mais alto possível na esperança do seu jogador mais alto se sobrepor ao jogador adversário mais alto recuperando a bola. Se isso não fosse possível, um simples toque na bola para trás para seu apoio imediato já servia, do contrário, enviávamos um jogador nosso, na área de disputa, do lado oposto esperando que pudesse recuperar um possível toque do adversário.

 

Ao longo das últimas temporadas, o jogo mudou globalmente sendo 2016 e os Jogos Olímpicos um importante catalisador. Considerando que as melhorias iniciais foram baseadas em torno do condicionamento físico e de melhorar a gama de habilidades básicas sob pressão (passar, receber e a técnica do tackle em particular), as tendências recentes são aparentemente mais táticas. Em particular, os jogos no nível da World Sevens Series tem visto algumas mudanças nas seguintes áreas:

 

 

1. SISTEMA DEFENSIVO

 

A maior mudança foi em torno de como melhor aplicar pressão na defesa. Isto pode ser conseguido, em pelo menos, uma das seguintes áreas:

 

• O espaço entre o ataque e a defesa: Houve um aumento na velocidade da linha de defesa. Em equipes como Austrália e Inglaterra, os defensores pressionam rapidamente o ataque a uma posição limite. Além disso, muitas vezes você vai encontrar sete defensores na linha de frente, criando espaçamentos mais apertados, permitindo mais velocidade na linha de defesa, aumentando a pressão sobre o ataque. O ataque deve começar a pensar em resolver os desafios, tendo em conta que as defesas estão se esforçando para entender com precisão uma ampla gama de opções de ataque, “tendo pistas” de como os defensores em apoio devem reagir. Como o espaço entre a defesa e o ataque desaparece em um curto espaço de tempo, isso se tornou uma área do jogo em que o ritmo de trabalho e os detalhes são fundamentais.

 

• Na área de tackle: Uma vez que o espaço entre o ataque e a defesa desaparece e um tackle ocorre, a defesa está desafiando o ataque na área do pós tackle muito mais vigorosamente do que antes. Isso força o ataque a obter uma vantagem numérica ou física. Fiji, Samoa e África do Sul se tornaram tackleadores “sufocantes” oficiais. O trabalho de pés na defesa é o nome do jogo, chegue perto de seu adversário e abraçe-o, criando um maul e não uma falta. Por outro lado, equipes como a Argentina usam sua habilidade defensiva no um-contra-um levando os atacantes ao solo, (sempre tackleando abaixo da cintura), permitindo o seu segundo homem a tomar decisões precisas no ponto de contato. As equipes mais físicas, como Samoa e Quênia simplesmente tomam o espaço ao redor da bola desafiando o oponente a ganhar a corrida em direção ao espaço ou superando os fisicamente… o primeiro é geralmente mais eficaz!

 

 

2. SAÍDAS

 

Nos últimos 3-4 anos, passamos de uma situação padrão onde todos partiam posicionados do mesmo lado para onde estamos agora, tendo gasto uma parcela significativa do tempo analisando e traçando estratégias para as fraquezas de ambas as situações referente a oposição no chute de saída e também para lidar com o leque de opções possíveis. Agora, não é atípico para uma equipe ter até três opções de posicionamento para o chute de saída, criando diferentes chamadas para chutar no espaço ou encontrar uma incompatibilidade, a fim de recuperar a posse. Samoa venceu a World Series em 2009-10, com a ajuda de uma tremenda estratégia no chute de saída, os EUA progrediram maciçamente nesta temporada, com uma particular melhora na estratégia de seu chute de saída. Com Zack Test e Colin Hawley eles têm dois dos melhores jogadores de rugby no mundo, no que diz respeito ao jogo aéreo. Como resultado dos ajustes nas diferentes aéreas, o levantamento (elevador) chegou no Sevens … os backs não só tem que ser capaz de correr mas eles também podem precisar levantar um forward no momento do chute de saída (e lateral)! Este desenvolvimento tático veio com o aumento das implicações técnicas.

 

 

3. O PONTO DE CONTATO

 

Como terceira linha no jogo de 15, me envolvia a passar o jogo inteiro tomando “decisões instantâneas” em situações de contato e de tackles…tomando informação para decidir, repetindo isso por 80 minutos. Isso era parte do meu trabalho e agora é a descrição do trabalho de cada jogador de Sevens. A complexidade desta situação foi aumentando pelos fatores como o aumento do tempo de bola em jogo, uma maior propensão para offloads e uma gama maior de opções de sistemas de ataque e defesa. Para colocar isso dentro de um contexto, um ponta, que pode tomar um punhado dessas decisões em um jogo de 15 de 80 minutos vai tomar o dobro de decisões a cada jogo de 14 minutos (e as consequências são significativas). A melhora na defesa, arbitragem precisa e a interpretação das leis significa que todo mundo precisa ser um especialista. Entrada lateral (na defesa e ataque) e ir ao solo (no ataque e na defesa) são raramente perdidos, portanto a capacidade de tomar essas decisões precisas e, em seguida, executar a habilidade necessária sob pressão são fundamentais. Estamos falando em termos de um espectro de tomada de decisões no ataque e na defesa, onde conhecer as tendências de seus companheiros de equipe é essencial.

Esses e outros componentes seguramente seguirão evoluindo até o apito inicial dos jogos Olímpicos do Rio 2016. Nos resta acompanhar de perto essa evolução para aproveitarmos o melhor do Rugby mundial dentro de um pouco mais de um ano.

Nos vemos no Rio!

 

Escrito por: Flávio Santos

2 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom, Daniel. Deixa só fazer um comentário: a técnica específica desenvolvida para resolver as situações no ruck, começam agora a ser transportadas para o rugby XV, e foram, por exemplo, a base da excelente réplica que os “pequenos” Sub-20 portugueses ofereceram aos “enormes” fijianos no sábado… Ou seja, se até agora o fluxo de conhecimento era (quase) sempre do XV para o 7’s com as devidas adaptações, agora começa a existir um fluxo inverso de informação…