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Algumas características bem conhecidas diferem homens e mulheres quando se trata da prática de exercícios físicos e desempenho esportivo. Essas questões devem ser bem compreendidas respeitando-se algumas peculiaridades do sexo feminino.

Diferenças anatômicas e fisiológicas como menor coração, pulmões, volume sanguíneo, número de glóbulos vermelhos e hemoglobina afetam diretamente o desempenho nos exercícios. Proporcionalmente as mulheres apresentam menor velocidade de corrida, menor força e menor massa muscular quando se comparam aos homens de mesma idade, altura e peso. Como qualquer atleta, além das lesões musculoesqueléticas as mulheres também estão expostas a agressões específicas ao aparelho genitourinário.

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A pelve mais larga e valgo de joelhos mais acentuado torna a mulher mais susceptível a disfunções patelofemorais. Além disso, em geral têm maior frouxidão ligamentar que os homens sendo fator de risco para dor e instabilidade articular. As lesões de ligamento cruzado anterior são mais comuns no sexo feminino, assim como as fraturas por estresse.

Um problema bem conhecido é a chamada tríade da mulher atleta, que engloba distúrbios alimentares, ausência ou irregularidade menstrual e osteopenia ou osteoporose. Os distúrbios alimentares mais comuns são anorexia nervosa e bulimia, muitas vezes deflagrados pela necessidade estética de algumas modalidades e controle de peso em outras. Os distúrbios menstruais estão relacionados à nutrição inadequada e à alta demanda energética, diminuindo os níveis de estrogênio e outros hormônios. Com essa queda prolongada e nutrição pobre, pode-se desenvolver osteoporose mesmo em mulheres jovens aumentando o risco de fraturas por estresse. Bailarinas, ginastas e corredoras de longa distância são as atletas mais acometidas.

Em virtude dessas deficiências nutricionais e menstruais, frequentemente a mulher necessita de maior reposição de ferro, ácido fólico, cálcio e algumas vitaminas, particularmente vitamina D e complexo B. Também em ambientes muito quentes, deve-se ter mais cuidado pois o maior percentual de gordura associado a menor capacidade de transpiração dificulta a perda de calor.

Incontinência urinária é bastante frequente em atletas. A perda involuntária de urina pode ser muito embaraçosa afetando sua concentração e desempenho. Dentre outros fatores, esportes de impacto tendem a aumentar a pressão intra-abdominal favorecendo a perda de urina. Os músculos do assoalho pélvico devem ser mais fortalecidos que da população geral minimizando o problema.

As mamas também merecem cuidados especiais como uso de sutiãs esportivos utilizados para diminuir sua mobilidade e proteger contra traumas locais. As atletas praticantes de esportes de contato como rúgbi e lutas devem utilizar equipamento com amortecimento especial para diminuir o impacto direto nos seios. Bandagens protetoras ou vaselina devem ser utilizadas para proteção dos mamilos quando há atrito permanente nas roupas, diminuindo o risco de abrasões e infecções locais.

Por fim, deve-se sempre suspeitar de quadros de enjoos e tonturas frequentes, tendo sempre em mente a possibilidade de gravidez. Essa situação não contraindica a prática de exercícios, pelo contrário, a atividade física regular é benéfica para a gestação auxiliando no controle do peso, nível de glicose sanguíneo e manutenção do bem estar emocional. Entretanto, alguns cuidados precisam ser observados.

Nutrição adequada, hidratação e repouso são ainda mais importantes nessa fase. Temperaturas muito altas ou muito baixas devem ser evitadas, assim como altitudes extremas e mergulho profundo. Ainda, não se pode esquecer que traumas abdominais podem ser muito perigosos e os esportes de contato são contra-indicados após o primeiro trimestre.

 

Dr. Gilberto Cunha

Médico da Seleção Brasileira de Rugby e do Esporte Clube Pinheiros

Especialista em Medicina Esportiva pela SBMEE

contato: gilberto.cunha@vita.org.br