Foto : Bruno Ruas @ruasmidia

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Os traumas na cabeça representam 17% do total de lesões no rugby, gerando grande preocupação nas entidades gestoras do esporte, como a World Rugby. Estes 17% de lesões representam apenas os casos reconhecíveis de trauma, mas estudos demonstram que o efeito cumulativo de traumas menores, que não causam sintomas, também está associado ao desenvolvimento de sequelas.

A world rugby tem orientado os árbitros a serem mais rigorosos na punição de traumas na cabeça, ainda que estudos demonstrem que em 70% dos casos as lesões acometem o defensor e não o jogador de ataque.

A preocupação com os traumas na cabeça não deve ser apenas no momento do jogo. Um terço das lesões ocorrem durante os treinos, e acredita-se que o excesso de treinos com traumas na cabeça está associado a muitas sequelas. A recomendação é que se realize não mais de um treino na semana com traumas na cabeça, se possível nenhum.

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O que é concussão cerebral?

Concussão é uma perturbação temporária no funcionamento do cérebro, como resultado de um golpe na cabeça. No futebol, pode acontecer por traumas da cabeça contra a cabeça, cotovelo ou pé de outro jogador, contra a trave ou bola. Em alguns casos, o atleta pode perder a consciência como resultado da lesão na cabeça, mas é importante notar que apenas cerca de 10% das concussões envolvem perda de consciência. Uma confusão momentânea pode já ser sinal de uma concussão.

 

Como identificar uma concussão cerebral?

Os sinais mais comuns da concussão são a incapacidade de concentração, esquecimento, incapacidade de processar ou reter informações, dor de cabeça, sensibilidade à luz, distorção da visão, fadiga ou tontura. Se algum desses sintomas são experimentados após um golpe na cabeça, o jogador deve ser removido do jogo para procurar atendimento médico e não ser autorizado a retornar ao campo de jogo, mesmo que isso vá contra a vontade do jogador ou treinador.

Retornar ao campo de jogo depois de sofrer uma concussão envolve risco significativo. Se um jogador sofre outro golpe na cabeça antes que o cérebro tenha tido a chance de se recuperar da concussão inicial, o dano pode ser exacerbado a tal ponto que pode ser – em raras ocasiões – fatal. Isso é conhecido como Síndrome do Segundo Impacto e acredita-se ser mais comum entre crianças e adultos jovens.

As concussões são normalmente gerenciadas de acordo com sua gravidade. Imediatamente após uma concussão, a avaliação médica é necessária para determinar os sinais vitais, nível de consciência e para descartar quaisquer outras lesões, como as da coluna vertebral. Na suspeita de concussão, o atleta deve sempre ser retirado do jogo, mesmo que contra a sua vontade. Na ausência de médico na beira do campo, o atleta deve ser avaliado em um serviço de emergência.

 

Tratamento da concussão

Não há atualmente nenhum tratamento específico para o tratamento além do descanso físico e mental – o que significa nenhum esporte, escola, ou trabalho ou outras atividades que envolvam “trabalho cerebral” significativo até que o atleta se recupere integralmente. Na maior parte das vezes, os sintomas desaparecem após cerca de 10 dias.

 

Retorno ao esporte após uma concussão cerebral

O atleta será considerado recuperado da concussão cerebral e apto a retornar aos esportes quando:

– Os sinais e sintomas de concussão desaparecerem, de acordo com testes neuropsicológicos

– A memória e concentração estiverem recuperadas

– Permanecer assintomático depois de correr, fazer agachamentos ou flexões

A confirmação da recuperação não é tão simples: em alguns casos, o atleta pode se sentir bem, mas seu pensamento, comportamento e/ou equilíbrio podem não estar de volta ao normal. Por isso a importância da avaliação médica e da realização dos testes neuropsicológicos. O atleta com suspeita de concussão não deve retornar ao esporte antes de uma avaliação médica especializada, mesmo que se sinta apto para tal.

 

A avaliação neuropsicológica

A maior dificuldade para o diagnóstico da concussão é que, para se determinar se o estado mental está alterado, seria importante conhecer qual o estado mental normal do atleta. Par isso, tem sido adotado a avaliação neuropsicológica de rotina em modalidades nas quais o trauma de cabeça é frequente.

A avaliação neuropsicológica é considerada a forma mais sensível de detectar distúrbios na função cerebral associadas à concussão. A National Football League e a National Hockey League instituíram programas sistemáticos de testes neuropsicológicos. São administrados breves testes de atenção, memória e velocidade de processamento de informações aos atletas antes da temporada.

Atletas que sofrem concussões são testados novamente, normalmente dentro de 48 horas da lesão e em intervalos regulares depois. A recuperação para os níveis de base de desempenho normalmente é necessária antes que os atletas sejam autorizados a voltar a jogar.

 

Síndrome pós concussão

A síndrome pós concussão se caracteriza pela persistência dos sinais e sintomas da concussão por tempo prolongado, eventualmente por até um ano ou mais. Ocorre na menor parte dos pacientes vítimas de concussão e não está associado à gravidade da lesão inicial. Os motivos que levam algumas pessoas a desenvolverem a síndrome pós concussão e outras não é desconhecido, mas mulheres e pacientes mais velhos estão sob maior risco.

 

Texto por: Dr. João Hollanda – ortopedista especialista em joelho e lesões no esporte, e médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino