Imagem: Nacione Branding

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ARTIGO OPINATIVO – A LAR – Liga Americana de Rugby – é o projeto para 2020 que mais deverá ser falado ao longo de 2019. Trata-se da nova liga sul-americana profissional que, a princípio, deverá contar com franquias de Argentina, Uruguai, Brasil, Chile e Paraguai.

A nova competição ainda não teve maiores definições e muitas questões seguem em aberto. Uma delas, evidentemente, é como serão e onde estarão as franquias brasileiras, que deverão ser duas.

Enquanto aguardamos novidades, vale a pena começar a imaginar como poderiam ser montadas tais equipes.

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Nomes: identidade é tudo

Não é preciso conhecer muito de rugby para saber claramente: a identidade da equipe será determinante para seu sucesso.

Um nome com significado. Uma identidade que se conecte com a região onde estará baseada a equipe. E, óbvio, muita promoção, inclusive para fora da comunidade, valorizando tanto a identidade como, sobretudo, os atletas que estarão na equipe. Sem isso o interesse não existirá pelo novo time.

Como defendido acima, cada equipe precisa representar alguma comunidade, seja ela baseada na geografia ou em uma instituição esportiva já existente.

Nomes precisam dizer sobre quem eles representam. Se falamos de uma equipe paulista, do Interior ou da Capital, o nome precisa falar sobre a cidade, sobre o estado. Se falamos sobre uma equipe do Sul, tal identidade precisa ser clara.

O que conecta bem?

  • Fauna ou flora são fáceis, se algum animal ou planta for um símbolo forte local. A cultura do rugby é cheia de natureza.
    • É importante que o animal ou planta escolhido tenha uma relação especial com a cidade ou região, pois se for escolhido aleatoriamente não terá grande utilidade na criação da identidade…
  • Objetos do folclore ou marcantes para a história de uma região também podem conectar bem. Segue a loja de fauna e flora;
  • Personagens históricos ou apelidos regionais também conectam, mas são mais delicados, pois precisam fugir de debates políticos;
  • Nomes abstratos que dizem algo? É possível, mas é preciso algum sentido.
    • Exemplo: “Gigantes” sobre São Paulo seria um nome abstrato com significado, pelo tamanho da cidade. Agora um nome como “Guerreiros” seria vazio, pois pode servir para qualquer lugar e exigiria um esforço extra de associação;
  • Cores? No mundo do rugby elas são muito usadas, mas no Brasil elas não são tão fortes na representação das regiões…

A criação de nomes muito genéricos, com o intuito de representar todo o país, pode ter um efeito fraco na hora de se conectar com o local que esteja recebendo os jogos.

É importante ter clareza: quem representa o Brasil é a seleção. Quando se adota um modelo de franquias, elas precisam falar com o regional, uma vez que são mais difíceis de serem “vendidas” do que a seleção.

E evidentemente é preciso criar uma rivalidade (sadia) entre os dois times, pois rivalidades geram interesse e competitividade. Inclusive criar uma taça anual entre os dois times brasileiros seria importantíssimo na construção das identidades.

 

Sedes: onde é melhor?

Mas onde basear as duas franquias brasileiras da LAR? A pergunta é antes de mais nada econômica: primeiramente, onde houver interesse, isto é, dinheiro.

Quando falo em interesse falo primeiro na questão de um governo (estadual ou municipal), de um patrocinador ou de uma instituição forte (por exemplo, clube esportivo já existente, uma universidade privada, SESC/SESI…) que faça acontecer. Isto é, que ajude nos custos de manutenção da equipe, ofereça estádio e esteja comprometido com a promoção dos jogos.

E tão importante quanto é saber que a cidade tem potencial para abraçar a equipe e se envolver com rugby.

Como não tenho nenhuma notícia sobre uma prefeitura, clube de futebol ou patrocinador interessado em levar uma franquia para algum lugar específico, vou pensar apenas na geografia atual do nosso rugby.

Com isso, os dois primeiros locais que enxergo são: Vale do Paraíba (São José dos Campos) e Serra Gaúcha (Bento Gonçalves). Por quê? Porque ambos têm facilidades quanto a estádios e já têm familiaridade com o rugby. Mais que isso, são cidades de médio porte, onde os custos de manutenção da equipe podem ser menores e, sobretudo, onde as prefeituras e imprensa local pode abraçar e promover as franquias.

Como pontos negativos estão o público que ainda não engrenou o necessário nos jogos dos Tupis em São José (expondo a urgência de um trabalho de marketing e comunicação voltado à região) e a ausência de um aeroporto bem conectado dentro da Serra Gaúcha (exigindo deslocamento corriqueiro a Porto Alegre).

 

Simbologia e conexão são tudo

O Vale do Paraíba é terra de excelência em rugby consolidada, um verdadeiro celeiro de craques e qualquer identidade deveria partir disso. Já o Rio Grande do Sul, o “Rugby Grande do Sul”, é rico em símbolos regionais. Os pontos de partida existem a partir da cultura esportiva e regional.

Ao colocar este texto sob análise de quem entende mais que eu sobre marketing esportivo, as vozes foram uníssonas.

Para Virgílio Neto, “a simbologia deve ser forte e ela sim pode caracterizar algo recém formado desde que a simbologia seja bem repleta de valores e vínculos emocionais e afetivos. Vide o PSG (futebol) tão identificado com a cidade de Paris e fundado apenas em 1970. No futebol americano, os Texanos de Houston (reforça a identidade texana) são uma das franquias mais recentes. Olha o exemplo da MLS sobretudo com o LAFC (reforça o nome da cidade)! Ademais, um excelente trabalho de relações públicas deverá ser feito: cantoras/es, atrizes/atores, influenciadoras/es digitais”.

Segundo Ricardo Carvalho, da Nacione™ Branding, “a conexão por um nome e lugar se faz necessária não só por situar a equipe e dar vida e cores para que ela atue de maneira independente, mas também para promover o engajamento de empresas, apoiadores e equipe técnica que poderão estar envolvidos na promoção do esporte. A escolha também vai interferir no engajamento social com a equipe e abrirá portas para negócios saudáveis. Equipes novas de Rugby no Brasil não podem cometer esse tipo de erro que ainda insiste em aparecer no nosso país em outros esportes que tem maior alcance e um certo know-how, como basquete e vôlei”.

 

E as demais opções?

Grandes metrópoles têm um óbvio desafio: um esporte menor se dilui no meio de muitos eventos e a imprensa local tem outras prioridades. E não da para esquecer: estamos falando de uma equipe que deverá fazer algo ao redor de 7 jogos em casa (provavelmente, a definir). Não da para citar uma cidade e dizer “ah, lá vai dar público!”. Pois não estamos falando de 1 jogo. Estamos falando de 7. E não, não é inteligente fazer as franquias fazerem cada jogo em um lugar diferente. Franquia é como clube: precisa de uma casa definida, de raízes.

Quando penso em São Paulo, cidade com maior número de clubes de rugby, a situação é ambígua: certamente a Capital Paulista é onde há maior número de fãs de rugby e o potencial é gigante. Mas em São Paulo os estádios não são baratos e se os horários dos jogos da Liga conflitarem com o rugby de clubes… não preciso dizer que o estádio perderá fãs de rugby e dependerá da divulgação para fora da comunidade ovalada para vingar. Em São Paulo é difícil conquistar atenção, apesar de não faltar gente querendo um bom evento.

Pela proximidade com São José dos Campos, acho mais fácil os paulistanos eventualmente pegarem o carro para curtirem um dia de Liga do que manter um time na Paulicéia. A menos que haja patrocinadores bancando os custos maiores e investindo na divulgação.

No Sul, outras alternativas existem. Florianópolis, por exemplo, tem grande potencial e voos, ainda mais se tratando de uma liga sul-americana. Mas seria preciso um estádio de verdade e as opções são escassas.

Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba ou Porto Alegre teriam os mesmos desafios de São Paulo Capital, mas com o agravante de terem comunidades de rugby menores.

Fora do Sul-Sudeste os problemas são muito maiores. Custos das viagens, público pré-existente reduzido e a desconexão entre CBRu e tais estados. Só aconteceria uma equipe fora do Sul-Sudeste se houvesse um patrocinador bancando.

 

E então, onde você aposta que os times estarão? Quais nomes fariam sentido?