Foto: Bruno Ruas @ruasmidia

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ARTIGO OPINATIVO – Nas últimas duas semanas, tivemos em São Paulo dois eventos que buscaram das um passo adiante (ou vários) em termos de organização: a Copa Bullguer e o SPAC Lions Sevens.

O Lions é um evento tradicional do rugby brasileiro, realizado todos os anos. A Copa Bullguer é nova no calendário, mas já está marcando época. Ambos, provam que o seven-a-side, tão relegado a um segundo plano atualmente no país, precisa de um tratamento digno, como esses dois eventos vem oferecendo.

O fim de ano é a época tradicional do sevens no país, mas vários eventos não foram organizados como planejado: Super Sevens Masculino, Copa Cultura Inglesa, Campeonato Paulista, Campeonato Gaúcho… para não mencionar o fato de não recebermos um Sul-Americano de Sevens no Brasil desde 2013. Desde 2016, quando sediamos o Circuito Mundial em Barueri e o Rio 2016, não temos as Yaras jogando em solo brasileiro. Portanto, é hora de nos inspirarmos por exemplos positivos.

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Copa Bullguer transformou o Canindé e o Universitário

A Copa Bullguer nasceu ocupando um nicho que estava deixado de lado. O rugby universitário paulista tem muita história e no passado já tivemos eventos de sevens que ficaram na memória – sempre me recordo dos bons esforços da FEA em organizar o sevens universitário no estado.

A partir do interesse de uma marca em sua imagem junto da comunidade de praticantes, a Copa Bullguer se pautou por alguns conceitos interessantes:

  • Torneio de um dia, tiro curto (eu gosto da proposta, muitas vezes dois dias são muito cansativos);
  • Evento pensado no praticante, no “usuário”, com apoio constante da organização, desde a presença de voluntários ao cuidado com os vestiários;
  • Jogos dentro de um estádio reconhecido, criando expectativa dos jogadores de atuarem em um palco com ar positivo de excepcionalidade;
  • Transmissão e cobertura fotográfica profissionais, que estimulam o praticante e toda a comunidade que respira os times envolvidos;
  • Festa: acima de tudo, o sevens nasceu no mundo do rugby como uma grande festa e o torneio teve que acabar assim, com uma festa bem organizada, que foi até as 5 da manhã;

Evidentemente, a Copa Bullguer só foi possível por um investimento que conseguiu captar, mas a capacidade de transformar o Estádio do Canindé foi impressionante. No passado recente, o Canindé recebeu jogos da seleção brasileira e uma final de Campeonato Brasileiro em um clima que foi triste, com muito pouca gente presente. A Copa Bullguer transformou o espaço numa festa – e isso foi possível pelo caráter do sevens.

Torneios de sevens precisam de festa. São muitas horas de ação e o maior benefício de ter vários times juntos é a possibilidade de confraternizar com todos. Seja da parte dos jogadores, seja da parte dos torcedores.

 

Lions adiante!

É indiscutível que o Lions é o torneio mais bem sucedido do Brasil, afinal, já são décadas de torneios. O SPAC Lions é a expressão do espírito do rugby e eu pessoalmente prefiro o SPAC Lions montado sob a perspectiva da diversão e da confraternização de fim de ano, como foi em 2019.

O torneio mantém seu DNA: 2 dias de jogos, com muitas categorias. Porém, neste ano, a organização subiu de nível, com a parceria com a House of Rugby. O espaço social do clube esteve aberto, o torneio terminou com a festa que merece e a presença de clubes de fora de São Paulo ganhou novos ares com a presença em massa do Melina, do Mato Grosso, bem como do Vitória no juvenil ou de uma seleção mineira no masculino. O Lions tem essa vocação de unir o país, algo que não pode se perder.

 

O futuro do sevens

É frequente vermos gente do rugby reclamando de sevens (no masculino, porque no feminino não há alternativa, por enquanto). Em parte, é porque os eventos não são estimulantes o bastante. É ilógico cobrar algo a mais de torneios puramente amadores, feitos “na raça” para prover atividades a equipes femininas ou masculinas iniciantes. Porém, quando falamos de eventos feitos para serem o topo de uma categoria, é preciso pensá-los de maneira atraente.

Quando falamos de eventos que precisam de uma organização como a da Bullguer ou do SPAC com House of Rugby, penso imeditamente no Brasil Sevens e no Sul-Americano.

Dois dos eventos mais legais já feitos no Brasil foram o Brasil Sevens (que reunia em seu auge clubes masculinos e femininos de todo o país) e o Rio Sevens (o Sul-Americano jogado em 2012 e 2013 na Gávea).

O Brasil Sevens, particularmente, é uma grande perda. Desde sua extinção e substituição pelos Supee Sevens, o interesse masculino pelo sevens só caiu, ao passo que o feminino deixou de ter um “grand finale” assegurado. O Brasil Sevems reunia o país todo e isso era muito legal.

Na época, o rugby brasileiro não tinha tantos eventos como hoje e esses dois torneios ganhavam maior atenção. Hoje, com os exemplos deste ano, pensar num Brasil Sevens ou num Sul-Americano requer pensar num projeto que reabilite o interesse do público por sevens e cria um clima de festa que valorize o dia.

Precisamos voltar a criar interesse dos clubes pelo sevens e a valorizar nossas seleções de sevens. Eventos como a Bullguer e o SPAC Lions (na parceria com a House of Rugby) mostram que é possível recomeçar. Sevens é olímpico e é celebração do espírito do rugby. Não tem lógica cair em desprestígio.