Tempo de leitura: 5 minutos

Artigo Opinativo – Este texto não reflete necessariamente a visão do Portal ou de outros de seus membros.

Antes de começar:
1 – Eu não concordo com a visão de mundo de Israel Folau
2 – Em 10 anos de atuação, o Portal do Rugby possui um histórico de apoio à causa LGBTQ+ e em maior ou menor grau, seus membros possuem uma visão progressista sobre uma variedade de temas.
3 – De fato, o Portal do Rugby já empregou e costuma trabalhar com diversas pessoas ativistas da causa, sem jamais registrar qualquer tipo de preconceito contra a opção sexual de ninguém.

Tenha esses pontos em mente durante a leitura a seguir.

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TL,DR (muito longo, não li) não tem ninguém errado nessa história

“Atenção bêbados, homossexuais, adúlteros, mentirosos, fornicadores, ladrões, ateus e idólatras. O inferno espera por vocês. Arrependam-se! Só Jesus salva”

Eu não concordo com Israel Folau, mas como sou ateu e não acredito em inferno, não me senti ofendido com a sua publicação. Se no dia em que eu morrer, descobrir que estava enganado, certamente vou me sentir em casa pois todos os roqueiros estarão lá, então, boa música não vai faltar, e certamente meus escritores favoritos estarão em algum círculo do inferno. E por falar nisso, alguém já leu a Divina Comédia? O Inferno é de longe a parte mais interessante, o Purgatório e o Paraíso dão um sono absurdo.

Mas eu desviei do tema. Continuando.

Acredito que ladrões, mentirosos, fornicadores, adúlteros e idólatras tampouco devem ter se incomodado com a sua publicação, mais preocupados em seguir roubando, mentindo, fornicando, traindo e adorando.

Já os bêbados (esses fanfarrões quase sempre divertidos), certamente farão diversas piadas sobre o tema nos próximos terceiros tempos pelo mundo.

Mas o tema certamente é muito mais sensível para a população LGBTQ+, que possui um histórico de décadas de luta contra discriminação em diversos países. Ser homossexual ainda é crime em pelo menos 70 países, alguns com condenação à morte inclusive, e eu não entendo como alguém pode julgar e condenar o amor entre duas pessoas.

Mas o fato é que o esporte é capaz de unir povos, parar guerras e principalmente em esportes de apelo mundial como o Rugby, vai englobar pessoas com perfis completamente distintos, como se vê dentro dos próprios Wallabies, que reúne David Pocock, ativo defensor de causas ambientais e de direitos civis, quanto Israel Folau, ativo defensor de sua fé, e no nosso Rugby como vimos com o movimento Rugby pela Democracia. É normal que seja assim.

Tudo o que Folau fez foi exercitar a sua liberdade religiosa e de expressão, e não ter vergonha dela.
Não vi em seu post um discurso de ódio contra uma minoria, vi apenas o reflexo da visão conservadora de uma vertente cristã (e acredito que a própria crítica à idólatras entre em conflito com denominações católicas, apesar desse texto explicar porque não). A Bíblia, o Corão e a Torá são livros milenares e jamais vão apresentar uma visão condizente com os dias de hoje, nem se deve esperar que eles abracem mudanças comportamentais. São a bússola moral que pretendem guiar exclusivamente aos seus seguidores como devem reger sua vida. Ao longo da história, e até os dias de hoje, seus textos foram utilizados para justificar atos de amor e de ódio contra outras denominações religiosas e culturas, de acordo com as convicções do perpetrador. Sempre foi assim, e sempre será.

Chegou até aqui e está puto comigo? Volta para o ítem Antes de começar.

Dito isso,

A RUGBY AUSTRALIA E A UNIÃO DA NOVA GALES DO SUL ESTÃO CORRETOS EM ENCERRAR O CONTRATO DE FOLAU

Como assim? E tudo o que você falou aí em cima?

Acredito que o tema tenha mais relação com o mundo corporativo do que as quatro linhas do campo de Rugby ou suas convicções pessoais.

Obviamente, acredito que Folau deve ter o direito de poder se expressar, mas ele tem que saber que pode e vai desagradar fãs, patrocinadores e dirigentes, e encarar as consequências disso, como de fato ocorreu. O fato de ele manter sua posição frente tais ameaças, mostram a convicção que ele tem em sua fé e acredita que isso é mais importante que o esporte, e tem que ser respeitado por isso, ainda que não concordemos com sua visão de mundo.

Empresas e instituições privadas ou não possuem Missão, Visão e VALORES e CULTURA.

Essa última pode ser descrita como “conjunto de valores, hábitos e crenças compartilhado por seu integrantes e que auxilia na tomada de decisão e no direcionamento das ações de cada um deles.”

Ao contratar um profissional, espera-se que o mesmo seja aderente à cultura promovida pela empresa, e sim, os atletas são funcionários da Rugby Australia e portanto, devem seguir o conjunto de normas da entidade.

Navegando pelo site, é possível perceber o posicionamento claro da ARU em relação ao tema. Nos últimos anos, a entidade vem buscando ativamente a igualdade de gêneros no esporte, a começar por apontar sua primeira CEO da história, Raelene Castle, em 2018, além da equiparação salarial das Wallaroos com seus semelhante masculinos no Seven-a-side, o pagamento por jogos da seleção de XV (até 2017, as jogadoras não recebiam para atuar pela seleção) e da criação de um campeonato feminino, o Super W, que ainda não é profissional, mas abre uma janela incrível de oportunidade para a visibilidade do Rugby feminino. Além disso, a Rugby Australia é membro fundador do Pride in Sport, iniciativa que auxilia organizações esportivas na inclusão de membros da comunidade LGBTQ+ no esporte e visa o combate à homofobia.

Em compensação, procure no site da Rugby Australia e não encontrará menção à liberdade de expressão e religiosa, mas terá dois documentos relacionados à igualdade de gêneros e inclusão de transgêneros.

Ou seja, a preocupação maior da ARU hoje é a inclusão de mulheres e da comunidade LGBTQ+ e de combate à homofobia, e não tanto com a liberdade individual no que diz respeito à sua fé ou opinião sobre outros temas como política e drogas por exemplo.

E ela está certa ao deixar esse tema de fora? Não sei, mas é a direção que decidiram seguir em seu planejamento estratégico que vai até 2020 e ao encerrar o contrato de Israel Folau, 3º maior trymen da história dos Wallabies (37 tries) e maior tryman da história do Super Rugby (60 tries em 95 jogos), ela mostra que sua cultura e seus valores também são inegociáveis, mesmo que precise tirar sua maior arma para o Mundial de campo.

1 COMENTÁRIO

  1. De fato a Divina Comédia nos mostra um inferno que na verdade é mais parecido com o mundo humano…
    Mas assim,não creio que vai ter muitos roqueiros por lá,pois conforme os depoimentos das videntes de Kibeho(Ruanda),de Fátima(Portugal),Santa Teresa Romana o inferno é um lugar de almas agonizando,sofrendo num fogo eterno…
    A questão é que ele expressou sua opinião e o que gerou baseado nisso fica bem claro que vivemos numa ditadura do policiamento de pensamento,onde tudo é relativizado de acordo com o que convém a ser usado nesse momento.
    Folau representa sim boa parte dos fãs,praticantes e até mesmo de muitos homossexuais que não são militantes.
    Uma coisa é você ser ateu,ter parentes homossexuais ou amigos e colegas(que também tenho),e a outra coisa é ficar apoiando causas e ativistas(alguns como inocentes úteis)que induzem as pessoas ao erro e que onde quem aponta o óbvio,ou faz oposição,é perseguido ou mesmo “esmagado” por esse militantes,e onde quando esses movimentos estúpidos conseguem o pretendido,levam não apenas eles mas toda a Sociedade à segregação,ao conflito,ao caos-e nesse caso,o rugby-e mesmo ao colapso de todo um trabalho feito lá atrás!

    Creio que o rugby deve ser acima de gostos pessoais,pois quando colocamos eles acima do nosso esporte isso apenas nos separa em vez de nos unir,Rugby é União!
    Minha sugestão-se tiver alguém assim-é colocar repórteres de viés conservador,já que vocês se propõem a um espaço de debate amplo,nada mais justo de que haver Conservadores na redação.

    Um abraço à todos!