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ARTIGO OPINATIVO – Esta é a coluna “Voz do Rugby”, espaço aberto a rugbiers mandarem textos opinativos que não são de autoria do Portal do Rugby.

 

Meu nome é Aubrey Friedman, minha história no Rugby brasileiro começou na segunda metade da década de 70. Fui membro da comissão disciplinar da ABR e técnico das seleções juvenis de 80 e 82 e o meu trabalho mais relevante foi a montagem dos Campeonatos Paulistas Infantil e Juvenil, quando visitei dezenas de escolas e no início dos anos 80 contavam com 12 escolas competindo nas duas categorias. Acho que poucos de vocês sabem que o Rugby Juvenil de São Paulo já foi deste tamanho.

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No final de 2008 fui ao torneio de 7s do SPAC rever os amigos do Rugby, quando encontrei um dos meus meninos de 1982, Aluísio Dutra, me contou que havia acabado de ser eleito Presidente da ABR e me convocou para remontar a Comissão Disciplinar da ABR, que para minha surpresa estava desativada a alguns anos. Foi uma tarefa muito agradável, juntar velhos amigos (Waldo, Cezar, Jairo, Timothy e devo estar esquecendo alguém) para contribuir mais uma vez com este esporte que permeou a minha vida.

No ano seguinte o Aluísio me convidou para um almoço com o atual Presidente da CBRu Eduardo Mufarrej, estavam criando o GRAB (Grupo de Apoio ao Rugby Brasileiro) e iriam fazer um evento para arrecadação de fundos, fui um dos primeiros colaboradores financeiros da iniciativa, que utilizando a oportunidade da inclusão do Rugby no programa Olímpico, somada às ferramentas de gestão e  com certeza muito trabalho, iniciou este novo ciclo do “RugbyBrasil”.

Acompanhei durante 2009 algumas discussões sobre a criação da CBRU, as reuniões da Comissão Disciplinar e no começo de 2010 outro dos meus meninos de 1982, Sami Arap assume a recém criada CBRU, começamos aí a viver uma nova realidade financeira e administrativa, a direção da CBRU soube “surfar” muito bem a onda Olímpica.

Acompanhei a evolução da estrutura das Seleções e dos campeonatos nacionais, a criação das Federações e a resposta dos clubes, que evoluíram muito na qualidade do jogo e nas suas estruturas. É importante lembrar que estavam saindo praticamente do zero, até 2009 a ABR não fazia parte do COB e não tinha patrocinadores, assim a CBRU impulsionou um belo movimento, que contagiou todo o Rugby brasileiro.

Estou morando hoje fora do Brasil, sigo acompanhando a Seleção Brasileira, mas não consigo mais acompanhar o dia a dia do rugby no Brasil, este ano precisei ficar mais tempo no Brasil, pude então acompanhar mais de perto e principalmente conversar com pessoas envolvidas e confesso, que fiquei preocupado.

Se por um lado os resultados da Seleção são empolgantes, por outro o descolamento da realidade do rugby jogado pelos clubes e o jogado pela Seleção Brasileira é assustador e preocupante, me parece que a CBRU desistiu de ter uma Seleção e optou por ter um grande time de rugby. Com nove anos desta nova administração, que trouxe muitos recursos financeiros, seguimos com um juvenil trôpego, os clubes parecem que andaram para traz nos últimos anos, o Campeonato Brasileiro voltou a ter placares centenários, parece que o que importa é somente a Seleção Brasileira.

Jogando todas as fichas no sucesso da Seleção a CBRU está correndo o risco de quem joga “All in” e pode sair sem nada desta mesa. É logico que eu gostaria de ser um desses caras que estão jogando na Seleção, eles demonstram uma vontade impressionante e uma evolução física e técnica que saltam aos olhos, mas eles são uma parte pequena do todo e se não atingirem o objetivo em 2023 ou se esse objetivo não tiver o poder transformador, que os dirigentes da CBRU acreditam que terá, aonde teremos chegado?

A impressão que eu tenho é que a CBRU não se considera responsável pelo desenvolvimento integral da modalidade no Brasil, esquece que as Federações e os clubes não possuem as mesmas condições para arrecadação de fundos, age como se o Rugby fosse um negócio e investe sobre a lógica do mercado, mas o rugby é um negócio ou um esporte? Com a quantidade de dinheiro público gasto, será que é correto focarmos tanto no esporte profissional? Será que com tão pouco investimento na base, teremos sustentabilidade?

Essas dúvidas deveriam ser discutidas por todos stakeholders, a CBRU não dialoga, ela informa suas decisões. Age como se somente seus dirigentes e técnicos fossem capazes de desenvolver trabalhos de qualidade, dispensam a experiência e o conhecimento da comunidade do rugby, ao deixarem de escutar deixam de somar inteligência nos seus processos.

Quando olhamos friamente para os resultados das Seleções Brasileiras, vemos que a evolução acompanha o movimento dos outros países, ninguém está parado. Os resultados estão localizados na seleção masculina adulta de XV e na seleção feminina adulta de 7s. Deveríamos também e principalmente estar evoluindo nos campeonatos nacionais e regionais juvenis e no nível técnico e organizacional dos torneios internos.

Todos devem ser responsáveis pela evolução do esporte, mas a liderança da CBRU é fundamental neste processo, ela deveria ser a grande líder deste caminho, mas está agindo apenas como chefe, que dá ordens e critica os que não lhe são úteis. Ao confundir chefia com liderança, afasta do percurso aqueles que pensam diferente ou que não lhe são simpáticos.

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