Foto: @ruasmidia

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ARTIGO OPINATIVO – Na última semana, entrevistamos o médico infectologista Igor Marinho, que é também jogador de rugby, para entendermos quando será possível o retorno do rugby no Brasil, uma vez que a vacinação começou no país. Vários clubes já estão treinando (espero que todos respeitando protocolos sanitários) e as discussões já começaram entre clubes e federações para um calendário 2021.

A União Argentina de Rugby, por exemplo, soltou novos protocolos para ajudar os clubes no retorno às competições, planejado para março no país vizinho. Porém, cada país tem suas particularidades. A pandemia teve recorde de mortes em janeiro no Brasil.

Portanto, vamos a alguns pontos importantes da discussão. Obviamente, todas as questões são mais profundas e vou apenas pincelar superficialmente alguns pontos importantes.

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O Rugby League retornou: era o momento certo?

Na minha opinião, não, não era o momento certo para a realização do Campeonato Brasileiro de Rugby League, que ocorreu no último fim de semana, pelo momento da pandemia no país. A Confederação Brasileira de Rugby League estabeleceu protocolos e buscou observá-los ao máximo, de acordo com os relatos de quem esteve no evento. Ainda assim, o esporte amador torna muito complicado se garantir um ambiente realmente seguro. O Rugby League se apressou porque o Brasil jogará a Copa do Mundo Feminina neste ano e o relógio está correndo para a modalidade. De todo modo, não foi prudente organizar agora a competição. O League deveria ter esperado a vacinação de fato avançar.

É importante lembrar que “Rugby League” e “Rugby Union” são esportes diferentes, com federações internacionais diferentes. O Rugby Union e suas federações não têm nenhum poder sobre o Rugby League, isto é, federações estaduais e a CBRu não podem controlar o Rugby League, que tem sua própria confederação. Isso não está claro para todo mundo no Brasil, mas precisa ficar.

No Brasil e na maior parte do mundo, o termo “Rugby” significa “Rugby Union” e há muita confusão sobre os termos. Ou seja, “Rugby Union” não é sinônimo de “Rugby XV”. “Rugby Sevens” também é “Rugby Union”. O termo “Union” serve como distinção com relação ao “Rugby League”, pois são esportes com regras e instituições distintas. Ainda assim, nada impede um clube de jogar os dois esportes. Clubes podem ser poliesportivos, obviamente.

 

O risco das lesões

Quando as federações estaduais e a CBRu concluírem que já é o momento de se retornar às competições, ainda será necessário um tempo extra para treinamentos. Isto é, uma vez que a vacinação avance, mais clubes voltarão a treinar com maior intensidade.

Entre a volta plena dos treinos e o início dos campeonatos, será necessário ainda ao menos um ou dois meses de intervalo. Caso se apresse o retorno aos torneios, o risco de lesões aumentará.

Com isso, se a vacinação de fato avançar e até maio todos os clubes estiverem com seus treinamentos normalizados e intensos, é possível o pontapé inicial para o Union por volta de julho.

É lógico que novas cepas do vírus e o risco constante de desgoverno no país podem dificultar previsões.

 

“O rugby tem que voltar porque ele é saúde”

Bobagem. Esse argumento é totalmente falso e só sugere um perigoso desentendimento de preparação física. O problema da falta de rugby durante a pandemia não é um problema de saúde. O que garante a saúde dos jogadores é praticar exercícios físicos com regularidade e isso foi possível durante a pandemia, mesmo com dificuldades. Qualquer educador físico que se preze sabe disso e esse argumento não pode ser usado.

A falta de rugby é um problema para a existência dos clubes, que perderam engajamento, receitas, etc. O rugby é instrumento educacional e meio de sociabilidade importante e é lógico que faz falta. Todo mundo que ama rugby quer voltar a jogar. Porém, o período de pausa foi oportunidade de estudar mais. E o rugby não saiu da TV e internet, que é uma forma de manter a paixão. Ou seja, é preciso planejamento pra volta.

 

Isto significa que teremos meia temporada?

Provavelmente. Caso os torneios estaduais e nacionais comecem de fato no meio do ano, haverá menos datas. Os jogadores terão vindo de um prolongado período de intensidade menor de atividades, o que significa que não será prudente ter um calendário abarrotado.

A Confederação Brasileira de Rugby (CBRu) já confirmou que captou receitas via Lei de Incentivo ao Esporte para seus campeonatos nacionais. Com isso, o calendário de Campeonatos Brasileiros pode nortear de fato o segundo semestre, com os estaduais sendo encaixados de modo seguro nas demais datas. No caso dos estaduais que tenham clubes nos campeonatos nacionais. Para estaduais sem clubes de Super 12 ou Super Sevens, a montagem do calendário será mais simples.

Ao longo de 2020, vimos muita resistências de alguns clubes de aceitarem modificações futuras nas competições, mas a sensatez precisa prevalecer. Não houve campeonatos em 2020 e 2021 será uma meia temporada.

É preciso adaptar campeonatos e isso pode significar fórmulas de disputa bem diferentes de 2019 – com menos jogos por time. Vai ter gente tentando atrapalhar isso, motivado, infelizmente, por egoísmo, mas se quisermos um calendário que beneficie a todos os clubes em 2021 será preciso ter flexibilidade, compreensão, e abrir mão de algumas coisas. Pelo bem do esporte. Solidariedade, paixão, respeito, estão entre os pilares do rugby.

Lógico, a expectativa é que em 2022 haja normalidade. Bom… assim esperamos.